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Por Guilherme Valente
AGORA que a lucidez e a coragem levaram a diferença para o ME, é útil relembrar as evidências.
A tragédia educativa é inquestionável. Nunca, em todos estes anos, apesar da estatura e do propósito de dois ou três ministros, foi atenuada. Resultados sempre piores, apesar dos poucos e duvidosos exames, sempre mais fáceis; ambiente de crescente imbecilidade nas escolas; desbaratamento de avultados recursos materiais; desvalorização programada do conhecimento, da cultura e do ensino enquanto transmissão dos saberes que contam; deliberado apagamento do papel do professor. Os efeitos estão à vista na sociedade: ignorância, desqualificação profissional; agravamento da desigualdade de oportunidades; aumento as desigualdades sociais, da exclusão e da delinquência, desinteresse cívico.
Tudo isto ocorre comprovadamente devido à ideologia igualitarista e às teorias pedagógicas, de origem e natureza bem determinadas, veiculadas pelos autodesignados «especialistas da educação», que, com um poder tentacular, do ME às escolas de formação de professores, se instalaram e dominaram totalitariamente a educação nos últimos 30 anos. Fanática ou interesseiramente indiferentes às consequências dramáticas da sua acção.
Deve-se-lhes alguma coisa de positivo? Nada. A massificação do ensino? Não. Era uma inevitabilidade histórica. Comprometeram aliás, o seu benefício, com a percentagem intolerável de abandono escolar, gerada pela inutilidade real da sua escola para cerca de 50% dos alunos (na Finlândia 36% dos estudantes seguem a via vocacional profissional).
Mas não fomos nós, no início quase sozinhos, os primeiros a perceber a natureza e a dimensão do que foi sendo imposto ao país. Tive acesso agora a uma entrevista em que um grande intelectual, que teve a coragem necessária para ser livre, antecipa a análise da praga e as confirmadas previsões sobre os seus efeitos na escola e no futuro de Portugal: Mário Sottomayor Cardia. Alguns breves excertos*:
«Aceitei participar do Governo porque era uma tarefa difícil, em que se jogava, e jogou, o destino do pluralismo na cultura portuguesa e a credibilidade e utilidade do ensino público.
«É esta última aposta que me afasta dos titulares do Ministério desde pelo menos 1985, com a excepção de Manuela Ferreira Leite. […]
«Estão a destruir o que tanto custou a reedificar naqueles anos longínquos […]. Sabotar o ensino público – desqualificando-o em nome da democratização, da ausência de selectividade escolar, da pedagogia não directiva, da proibição de memorizar, mesmo da dispensa de aprendizagem da tabuada, da proclamação do prazer como única motivação do saber e do pensar – é, directa ou indirectamente, uma forma extrema e repugnante de liquidação do sistema público de ensino.
«Respeitando e disciplinando o ensino privado […], foi a defesa do ensino público que inalteravelmente me moveu e animou.
«A democracia directa é sempre (ou quase sempre) a antecâmara (ou o disfarce institucional) da ditadura. A democracia directa ignora os direitos individuais. É o que hoje penso. Foi o que na altura percebi, independentemente de teorizações politológicas a que ainda não tivera acesso.»
«Fundamentalista anti-eduquês», foi como uma tão inocente ex-secretária de Estado, Ana Benavente - pasme-se! - se referiu ao actual Ministro.
Fundamentalista Nuno Crato nunca será. Anti-eduquês estou certo de que continuará a ser. Na honrosa companhia de Mário Sottomayor Cardia. Como o País precisa e a esmagadora maioria dos professores espera.
Por Guilherme Valente
‘O segredo da felicidade é a liberdade. O segredo da liberdade é a coragem.’
Tucídides (460-404 a.C.)
Tucídides (460-404 a.C.)
AGORA que a lucidez e a coragem levaram a diferença para o ME, é útil relembrar as evidências.
A tragédia educativa é inquestionável. Nunca, em todos estes anos, apesar da estatura e do propósito de dois ou três ministros, foi atenuada. Resultados sempre piores, apesar dos poucos e duvidosos exames, sempre mais fáceis; ambiente de crescente imbecilidade nas escolas; desbaratamento de avultados recursos materiais; desvalorização programada do conhecimento, da cultura e do ensino enquanto transmissão dos saberes que contam; deliberado apagamento do papel do professor. Os efeitos estão à vista na sociedade: ignorância, desqualificação profissional; agravamento da desigualdade de oportunidades; aumento as desigualdades sociais, da exclusão e da delinquência, desinteresse cívico.
Tudo isto ocorre comprovadamente devido à ideologia igualitarista e às teorias pedagógicas, de origem e natureza bem determinadas, veiculadas pelos autodesignados «especialistas da educação», que, com um poder tentacular, do ME às escolas de formação de professores, se instalaram e dominaram totalitariamente a educação nos últimos 30 anos. Fanática ou interesseiramente indiferentes às consequências dramáticas da sua acção.
Deve-se-lhes alguma coisa de positivo? Nada. A massificação do ensino? Não. Era uma inevitabilidade histórica. Comprometeram aliás, o seu benefício, com a percentagem intolerável de abandono escolar, gerada pela inutilidade real da sua escola para cerca de 50% dos alunos (na Finlândia 36% dos estudantes seguem a via vocacional profissional).
Mas não fomos nós, no início quase sozinhos, os primeiros a perceber a natureza e a dimensão do que foi sendo imposto ao país. Tive acesso agora a uma entrevista em que um grande intelectual, que teve a coragem necessária para ser livre, antecipa a análise da praga e as confirmadas previsões sobre os seus efeitos na escola e no futuro de Portugal: Mário Sottomayor Cardia. Alguns breves excertos*:
«Aceitei participar do Governo porque era uma tarefa difícil, em que se jogava, e jogou, o destino do pluralismo na cultura portuguesa e a credibilidade e utilidade do ensino público.
«É esta última aposta que me afasta dos titulares do Ministério desde pelo menos 1985, com a excepção de Manuela Ferreira Leite. […]
«Estão a destruir o que tanto custou a reedificar naqueles anos longínquos […]. Sabotar o ensino público – desqualificando-o em nome da democratização, da ausência de selectividade escolar, da pedagogia não directiva, da proibição de memorizar, mesmo da dispensa de aprendizagem da tabuada, da proclamação do prazer como única motivação do saber e do pensar – é, directa ou indirectamente, uma forma extrema e repugnante de liquidação do sistema público de ensino.
«Respeitando e disciplinando o ensino privado […], foi a defesa do ensino público que inalteravelmente me moveu e animou.
«A democracia directa é sempre (ou quase sempre) a antecâmara (ou o disfarce institucional) da ditadura. A democracia directa ignora os direitos individuais. É o que hoje penso. Foi o que na altura percebi, independentemente de teorizações politológicas a que ainda não tivera acesso.»
«Fundamentalista anti-eduquês», foi como uma tão inocente ex-secretária de Estado, Ana Benavente - pasme-se! - se referiu ao actual Ministro.
Fundamentalista Nuno Crato nunca será. Anti-eduquês estou certo de que continuará a ser. Na honrosa companhia de Mário Sottomayor Cardia. Como o País precisa e a esmagadora maioria dos professores espera.
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* Vale a pena ler na íntegra: As Políticas de Educação em Discurso Directo, 1955-1995, de António Teodoro.