Por Antunes Ferreira
O TÍTULO desta crónica não é exatamente o que o
ex-secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, escritor e
apresentador televisivo, escreveu sem margem para dúvidas: vá tomar no cu. Há
que dizer, antes do mais, que a expressão é um brasileirismo: entre nós usa
dizer-se levar no cu. Para um governante que até há pouco fez parte do
(des)Governo do Coelho, ainda por cima sobraçando a pasta da Cultura, o escrito
parece ser pertinente. O Acordo Ortográfico em vigência não se refere a
expressões desse jaez, reporta-se principalmente à ortografia, tanto quanto sei.
Mas, vamos a factos e para tal
permito-me transcrever a notícia saída a terreiro no diário «Público», faz hoje
oito dias, mesmo sem ter pedido autorização ao referido quotidiano.
«Francisco José Viegas
dedica esta quarta-feira um post no seu blogue ao actual secretário de
Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, onde lhe deixa um aviso sobre o que
fará se for abordado por um agente da Autoridade Tributária e Aduaneira.
“Queria apenas avisar
que, se por acaso, algum senhor da Autoridade Tributária e Aduaneira tentar
fiscalizar-me à saída de uma loja, um café, um restaurante ou um bordel (quando
forem legalizados) com o simpático objetivo de ver se eu pedi fartura das
despesas realizadas, lhe responderei que, com pena minha pela evidente má
criação, terei de lhe pedir para ir tomar no cu, ou, em alternativa, que peça a
minha detenção por desobediência”.
“Ele, pobre
funcionário, não tem culpa nenhuma; mas se a Autoridade Tributária e Aduaneira
quiser cruzar informações sobre a vida dos cidadãos, primeiro que verifique se
a Comissão Nacional de Proteção de Dados já deu o aval, depois que pague pela
informação a quem quiser dá-la”», justifica o ex-governante.
Francisco José Viegas
foi secretário de Estado da Cultura do Governo de Passos Coelho até Outubro de
2012, data em que apresentou a sua demissão, invocando motivos de saúde. O
PÚBLICO tentou repetidamente falar com o ex-governante, sem sucesso».
Ora muito bem, o que quer dizer ora muito mal. Viegas utilizou o vernáculo que
entendeu, sem cuidar das repercussões que o conselho iria ter por este cada vez
mais triste País? Presumo que não. Quando escreveu que a ser abordado por um
qualquer funcionário (recorde-se, e Viegas devia ser o primeiro a reconhecê-lo,
que hoje não há funcionários, há, sim, trabalhadores da Função Pública…) mais
zeloso da ATA, à saída de um restaurante ou instituição similar quisesse
fiscalizar a respeito de fatura, o mandaria tomar no cu, o escritor e
ex-governante sabia o que escrevia. Não consta que tenha tido qualquer
alucinação, ainda que temporária, que tivesse fumado mais charros que (ainda)
são proibidos, ou que tenha sido atacado por uma qualquer ATAfobia.