quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Em 2014 não baixarão os impostos


Por Antunes Ferreira

VEM AÍ outro orçamento rectificativo para o ano em curso, afirmou na quarta-feira Pedro Passos Coelho na RTP, durante a primeira emissão do novo programa O País pergunta. Isso permite, referiu, que através dele poderão ser introduzidas “novas condições de competitividade fiscal”. E apesar das perguntas feitas por vinte cidadãos presentes no estúdio não especificou quais eram essas “novas condições”.

Mas fez uma afirmação respondendo a pergunta posta por uma empresária da restauração que naturalmente queria saber se e quando baixaria o IVA a 23% para o anterior a 13%. Apesar de ter informado que a questão ia ser objecto de análise nos Conselhos de Ministros de ontem e extraordinário de amanhã, domingo, sublinhou que não queria “alimentar essa expectativa.

Se nos detivermos em pormenor no que afirmou neste particular, repararemos que Coelho teve a desfaçatez de sublinhar que o problema não diz respeito apenas ao valor do imposto, mas sim porque “as pessoas não têm dinheiro para ir ao restaurante”. Porém, num rasgo de bondade complementou que que o Governo espera que, tendo em conta a tendência de estabilização da economia, “uma parte das pessoas que deixaram de ir ao restaurante possa progressivamente retomar” [esse procedimento]. Isto porque a economia está a estabilizar e a procura interna está praticamente a estabilizar.”

Mas também afirmou que em 2014 não haverá diminuição dos impostos. Porém não disse se estes iam em contrapartida aumentar. Muito mais disse Passos Coelho, mas um tema mais foi abordado, quando respondeu aos jornalistas à saída do estúdio que lhe referiram o problema levantado por Rui Machete, o ministro dos Negócios Estrangeiros, em especial com o pedido de desculpas a Luanda. Com desplante a sua afirmação foi um espanto. Não houvera “nada de grave” no procedimento do ministro.

Misturou uma falsa humildade quando reconheceu que a classe média é a mais prejudicada com as medidas tomadas para combater a crise, em resumo, com a austeridade que, no seu entender é necessária para pagar aos credores aquilo que nos emprestaram. Um (des)Governo honesto tem a obrigação de cumprir o combinado para se alcançar esse objectivo. Pelo que disse é preciso salvar a Nação e os cidadãos mesmo que ela e eles não queiram ser salvos.

Foi um chefe do (des)Governo que se apresentou ufano da “retoma da economia” mas que, bem vistas as coisas, foi verdadeiramente patético. As fintas que usou face às questões mais incómodas não são próprias de um primeiro-ministro. Realisticamente, o programa serviu-lhe para propagandear o que o seu (des)Executivo já fizera em prol da Pátria e dos cidadãos vítimas dos erros enormes cometidos por aqueles que o tinham antecedido. Apetece perguntar se o que disse é  “a sério” e se esta postura é “irrevogável”. E perguntar se se referiu aos Governos do primeiro-ministro Cavaco Silva. É que eles foram também culpados desses erros enormes.

Ter-se-á tratado de mais umas quantas mentiras de um mentiroso crasso? Ter-se-á referido à honestidade da quadrilha que diz que nos governa, mas que na realidade nos (des)governa. Como pode ser honesta um (des)governante que deita para o lixo as promessas que fez na campanha eleitoral para chegar ao poder? Como pode ser honesta uma entidade que permite ditos e desditos em cadeia dos titulares dos seus ministérios?

Como acreditar num ministro – e não é preciso relembrar as trapalhadas relvadas – que depois de ter mentido quanto às qualificações estudantis, até foi premiado com um tacho soberbo? Como se interrogar sobre a Ministra Maria “suópes” Luís Albuquerque que usou mentiras sobre mentiras no Parlamento e ainda se mantém à frente do Ministério das Finanças?

Se a honestidade é isto, bem a podemos comparar com uma peça que é uma farsa – Ali Babá e os 40 ladrões. E na qual somos espectadores enfiados temerosamente nas cadeiras de pau e desconjuntadas de uma plateia amorfa. Mas que honestidade é esta que o (des)Governo interpreta à boca de cena, sem necessidade de ponto?

Alto lá. Sem necessidade de ponto não é verdade. Porque o ponto de interrogação e o de exclamação são inevitáveis- pois existem e têm de ser usados. Porque o ponto principal está metido na sua caixa, o palácio de Belém. Com a ajuda da Senhora de Fátima que ele invocou ao dirigir-se aos “cidadões” e que afirmou que nunca mais “façaria” coisas que lhe parecessem complicadas como a sinistra avaliação. Como por exemplo a sua intervenção, digo eu, no escabroso caso do BPN.

Seja-me permitido recordar que Portugal ( só mais dois países, a Irlanda e a Espanha) apresentou a Berlim as condolências pela morte de Adolfo Hitler. Mais: Salazar mandou colocar a bandeira nacional a meio mastro por motivo do “infausto acontecimento”. Foi então que o Senhor Winston Churchill respondeu ao seu MNE, Antony Eden num memorando com a típica arrogância britânica misturada cum um pouco do humor que o caracterizava. Pelo seu conteúdo, transcreve-se aqui um extracto desse documento.

“Creio que seria mais sensato deixá-los (os Portugueses) continuar a brincar e não sermos demasiado duros com eles (…) Afinal de contas, quando se é um aliado há mais de quatrocentos anos, há que ter permissão para andar de vez em quando por aí à deriva, conforme os caprichos. Devo tratá-los como se fossem crianças amorosas que fazem caretas absurdas”  (Gabinete do Primeiro-Ministro, 10 de Maio de 1945)

Chega? Chega.