Por Antunes Ferreira
VEM AÍ outro orçamento rectificativo para o ano em curso,
afirmou na quarta-feira Pedro Passos Coelho na RTP, durante a primeira emissão
do novo programa O País pergunta.
Isso permite, referiu, que através dele poderão ser introduzidas “novas
condições de competitividade fiscal”. E apesar das perguntas feitas por vinte
cidadãos presentes no estúdio não especificou quais eram essas “novas
condições”.
Mas fez uma afirmação respondendo a pergunta posta por uma
empresária da restauração que naturalmente queria saber se e quando baixaria o
IVA a 23% para o anterior a 13%. Apesar de ter informado que a questão ia ser
objecto de análise nos Conselhos de Ministros de ontem e extraordinário de
amanhã, domingo, sublinhou que não queria “alimentar essa expectativa.
Se nos detivermos em pormenor no que afirmou neste particular,
repararemos que Coelho teve a desfaçatez de sublinhar que o problema não diz
respeito apenas ao valor do imposto, mas sim porque “as pessoas não têm
dinheiro para ir ao restaurante”. Porém, num rasgo de bondade complementou que que o Governo
espera que, tendo em conta a tendência de estabilização da economia, “uma parte
das pessoas que deixaram de ir ao restaurante possa progressivamente retomar” [esse
procedimento]. Isto porque a economia está a estabilizar e a procura interna
está praticamente a estabilizar.”
Mas também afirmou que em 2014 não haverá diminuição dos
impostos. Porém não disse se estes iam em contrapartida aumentar. Muito mais
disse Passos Coelho, mas um tema mais foi abordado, quando respondeu aos
jornalistas à saída do estúdio que lhe referiram o problema levantado por Rui
Machete, o ministro dos Negócios Estrangeiros, em especial com o pedido de
desculpas a Luanda. Com desplante a sua afirmação foi um espanto. Não houvera
“nada de grave” no procedimento do ministro.
Misturou uma falsa humildade quando reconheceu que a classe
média é a mais prejudicada com as medidas tomadas para combater a crise, em
resumo, com a austeridade que, no seu entender é necessária para pagar aos
credores aquilo que nos emprestaram. Um (des)Governo honesto tem a obrigação de
cumprir o combinado para se alcançar esse objectivo. Pelo que disse é preciso
salvar a Nação e os cidadãos mesmo que ela e eles não queiram ser salvos.
Foi um chefe do (des)Governo que se apresentou ufano da “retoma
da economia” mas que, bem vistas as coisas, foi verdadeiramente patético. As
fintas que usou face às questões mais incómodas não são próprias de um
primeiro-ministro. Realisticamente, o programa serviu-lhe para propagandear o
que o seu (des)Executivo já fizera em prol da Pátria e dos cidadãos vítimas dos
erros enormes cometidos por aqueles que o tinham antecedido. Apetece perguntar
se o que disse é “a sério” e se esta
postura é “irrevogável”. E perguntar se se referiu aos Governos do
primeiro-ministro Cavaco Silva. É que eles foram também culpados desses erros
enormes.
Ter-se-á tratado de mais umas quantas mentiras de um mentiroso
crasso? Ter-se-á referido à honestidade da quadrilha que diz que nos governa,
mas que na realidade nos (des)governa. Como pode ser honesta um (des)governante
que deita para o lixo as promessas que fez na campanha eleitoral para chegar ao
poder? Como pode ser honesta uma entidade que permite ditos e desditos em
cadeia dos titulares dos seus ministérios?
Como acreditar num ministro – e não é preciso relembrar as
trapalhadas relvadas – que depois de ter mentido quanto às qualificações
estudantis, até foi premiado com um tacho soberbo? Como se interrogar sobre a
Ministra Maria “suópes” Luís Albuquerque que usou mentiras sobre mentiras no
Parlamento e ainda se mantém à frente do Ministério das Finanças?
Se a honestidade é isto, bem a podemos comparar com uma peça que
é uma farsa – Ali Babá e os 40 ladrões.
E na qual somos espectadores enfiados temerosamente nas cadeiras de pau e
desconjuntadas de uma plateia amorfa. Mas que honestidade é esta que o
(des)Governo interpreta à boca de cena, sem necessidade de ponto?
Alto lá. Sem necessidade de ponto não é verdade. Porque o ponto
de interrogação e o de exclamação são inevitáveis- pois existem e têm de ser
usados. Porque o ponto principal está metido na sua caixa, o palácio de Belém.
Com a ajuda da Senhora de Fátima que ele invocou ao dirigir-se aos “cidadões” e
que afirmou que nunca mais “façaria” coisas que lhe parecessem complicadas como
a sinistra avaliação. Como por exemplo a sua intervenção, digo eu, no escabroso
caso do BPN.
Seja-me permitido recordar que Portugal ( só mais dois países, a
Irlanda e a Espanha) apresentou a Berlim as condolências pela morte de Adolfo
Hitler. Mais: Salazar mandou colocar a bandeira nacional a meio mastro por
motivo do “infausto acontecimento”. Foi então que o Senhor Winston Churchill
respondeu ao seu MNE, Antony Eden num memorando com a típica arrogância
britânica misturada cum um pouco do humor que o caracterizava. Pelo seu
conteúdo, transcreve-se aqui um extracto desse documento.
“Creio que
seria mais sensato deixá-los (os Portugueses) continuar a brincar e não sermos
demasiado duros com eles (…) Afinal de contas, quando se é um aliado há mais de
quatrocentos anos, há que ter permissão para andar de vez em quando por aí à
deriva, conforme os caprichos. Devo tratá-los como se
fossem crianças amorosas que fazem caretas absurdas” (Gabinete do Primeiro-Ministro, 10 de Maio de
1945)
Chega? Chega.