sábado, 5 de outubro de 2013

Putin 1 – Nobel 0 (?)

Por Antunes Ferreira
LÊ-SE – e não se quer acreditar; mas tem-se de o fazer perante os textos distribuídos pelas agências noticiosas. Vladimir Putin foi proposto para o Prémio Nobel da… Paz. A proposta foi anunciada na terça-feira passada pelo presidente da Academia Internacional da União das Nações do Mundo pela voz do presidente da instituição, Gueorgi Trapeznikov.
A bem da verdade, nunca se tinha ouvido falar desta Academia cujo nome se afigura, no mínimo, incongruente. Se ela é Internacional, para quê a União das Nações do Mundo? Ou será que esta última precisa de ser internacional para que seja conhecida? E num Mundo em que as guerras, os atentados, os golpes de Estado, a confrontação, será que é possível falar nessa união de todas as nações? Ou serão “quase” todas?
A ser assim, ter-se-á de mudar a designação da Academia? Cuidado. O presidente da Associação sedeada em Moscovo – pois que outra haveria de ser? – o senhor (ou talvez ainda seja “camarada”) Trapeznikov não esteve com meias medidas, afirmando que "Conhecemos bem o papel pacificador que desempenhou o nosso presidente em zonas conflituosas". E deu o exemplo do caso sírio. Pronto, já está.
Aliás, e para que não se verifiquem quaisquer mal entendidos, a carta - para efeitos da candidatura do presidente da Rússia –já foi enviada à Comissão Nobel, mais precisamente a 16 de Setembro tendo sido acusada a sua recepção a 20 do mesmo mês. O processo arrancou, portanto. E quem o transmite é a agência noticiosa oficial ITAR-TASS.
Cabe aqui um esclarecimento: a TASS era a abreviação de Telegrafnoie Agentstvo Sovetskogo Soiuza, ou seja a Agência Telegráfica da União Soviética que foi a agência de notícias soviética oficial, de 1922 a 1991. Mas como o nome TASS era muito conhecido, ele foi posteriormente adicionado à sigla ITAR, ficando agora como a   Telegrafnoye Agentstvo Svazi i Soobshcheniya, o que quer dizer  Agência Telegráfica de Comunicações e Reportagem.
Sem desprimor, foi mais ou menos o que aconteceu quando Marcelo Caetano chegou ao poder depois da queda do “mais belo dos ditadores europeus”, epíteto com que um veterano oficial britânico mimoseou Salazar no princípio da II Guerra Mundial. A União Nacional foi transformada na Acção Nacional Popular, a PIDE mudou para Direcção Geral de Segurança e por aí adiante.
Por singular coincidência – finalmente elas existem… - o ministro Crato, garantiu há dias aos reitores das universidades públicas portuguesas que a intenção de criar um novo sistema de autonomia reforçada, já anunciado, levaria em linha de conta "o que as universidades-fundação já conseguiram". Não há mudança, a não ser na designação. Resumindo: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades? Não, mudam-se os nomes para ficar tudo na mesma, na paz do Senhor.

Vladimir Vladimirovitch Putin  é o actual presidente da Rússia, depois de um jogo de cabra-cega com Dimitri Mdvedev. Enquanto Putin foi presidente, Medvedv era primeiro-ministro; depois inverteram-se as funções entre os dois. E agora voltou tudo à primeira forma. Curioso. Mas, Putin foi agente e chefe dos serviços secretos soviéticos, KGB, e após a queda da URSS, ainda foi o patrão da FSB, que substituiu a sua antecedente. Uma espécie de jogo das cadeiras. 
A KGB, como se recorda, tinha a sua sede na Praça Lubianka em Moscovo, e por isso a polícia secreta ficou conhecida pelo mesmo nome. Ficou tristemente “famosa” pelas milhares de mortes e brutais interrogatórios realizados no seu subsolo; mas também foi o laboratório da criação de venenos do governo, que fizeram algumas das vítimas mais conhecidas dos regimes dos ditadores Estaline e Brejnev.
É este mesmo Putin que foi proposto para o Nobel da Paz. Por uma organização a respeito da qual o seu porta-voz, Dmitri Peskov, disse que desconhecia as pessoas que tinham feito a proposta e se essas pessoas tinham as "necessárias faculdade" para o fazer. Aliás, ainda acentuou que "Putin não é partidário de receber condecorações ou prémios. É, sim, partidário de encontrar satisfação conseguindo resultados com o seu trabalho".
Os proponentes, entretanto, aquando da comunicação da proposta, tinham sublinhado que se o Nobel da Paz fora já atribuído a Obama, mais do que razão para que fosse dado a Putin. Lógica irrefutável. E irrevogável.

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