Por Antunes Ferreira
LÊ-SE – e não se quer
acreditar; mas tem-se de o fazer perante os textos distribuídos pelas agências
noticiosas. Vladimir Putin foi proposto para o Prémio Nobel da… Paz. A proposta
foi anunciada na terça-feira passada pelo presidente da Academia Internacional
da União das Nações do Mundo pela voz do presidente da instituição, Gueorgi
Trapeznikov.
A bem da verdade, nunca se
tinha ouvido falar desta Academia cujo nome se afigura, no mínimo,
incongruente. Se ela é Internacional, para quê a União das Nações do Mundo? Ou
será que esta última precisa de ser internacional para que seja conhecida? E
num Mundo em que as guerras, os atentados, os golpes de Estado, a confrontação,
será que é possível falar nessa união de todas as nações? Ou serão “quase”
todas?
A ser assim, ter-se-á de
mudar a designação da Academia? Cuidado. O presidente da Associação sedeada em
Moscovo – pois que outra haveria de ser? – o senhor (ou talvez ainda seja
“camarada”) Trapeznikov não esteve com meias medidas, afirmando que
"Conhecemos bem o papel pacificador que desempenhou o nosso presidente em
zonas conflituosas". E deu o exemplo do caso sírio. Pronto, já está.
Aliás, e para que não se verifiquem quaisquer mal
entendidos, a carta - para efeitos da candidatura do presidente da Rússia –já
foi enviada à Comissão Nobel, mais precisamente a 16 de Setembro tendo sido
acusada a sua recepção a 20 do mesmo mês. O processo arrancou, portanto. E quem
o transmite é a agência noticiosa oficial ITAR-TASS.
Cabe aqui um esclarecimento: a TASS era a abreviação de Telegrafnoie
Agentstvo Sovetskogo Soiuza, ou
seja a Agência Telegráfica da União Soviética
que foi a agência de notícias soviética oficial, de 1922 a 1991. Mas como o nome
TASS era muito conhecido, ele foi posteriormente adicionado à sigla ITAR, ficando
agora como a Telegrafnoye
Agentstvo Svazi i Soobshcheniya, o que
quer dizer Agência Telegráfica de
Comunicações e Reportagem.
Sem desprimor, foi
mais ou menos o que aconteceu quando Marcelo Caetano chegou ao poder depois da
queda do “mais belo dos ditadores europeus”, epíteto com que um veterano
oficial britânico mimoseou Salazar no princípio da II Guerra Mundial. A União
Nacional foi transformada na Acção Nacional Popular, a PIDE mudou para Direcção
Geral de Segurança e por aí adiante.
Por singular
coincidência – finalmente elas existem… - o ministro Crato, garantiu há dias
aos reitores das universidades públicas portuguesas que a intenção de criar um
novo sistema de autonomia reforçada, já anunciado, levaria em linha de conta
"o que as universidades-fundação já conseguiram". Não há mudança, a
não ser na designação. Resumindo: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades?
Não, mudam-se os nomes para ficar tudo na mesma, na paz do Senhor.
Vladimir Vladimirovitch Putin é o actual presidente da Rússia, depois de um jogo de cabra-cega com Dimitri Mdvedev. Enquanto Putin foi presidente, Medvedv era primeiro-ministro; depois inverteram-se as funções entre os dois. E agora voltou tudo à primeira forma. Curioso. Mas, Putin foi agente e chefe dos serviços secretos soviéticos, KGB, e após a queda da URSS, ainda foi o patrão da FSB, que substituiu a sua antecedente. Uma espécie de jogo das cadeiras.
A KGB, como se recorda, tinha a sua sede na Praça
Lubianka em Moscovo, e por isso a polícia secreta ficou conhecida pelo mesmo
nome. Ficou tristemente “famosa” pelas milhares de mortes e brutais interrogatórios
realizados no seu subsolo; mas também foi o laboratório da criação de venenos
do governo, que fizeram algumas das vítimas mais conhecidas dos regimes dos
ditadores Estaline e Brejnev.
É este mesmo Putin que foi proposto para o Nobel da Paz. Por uma organização a respeito da qual o seu
porta-voz, Dmitri Peskov, disse que desconhecia as pessoas que tinham feito a
proposta e se essas pessoas tinham as "necessárias faculdade" para o
fazer. Aliás, ainda acentuou que "Putin não é partidário de receber
condecorações ou prémios. É, sim, partidário de encontrar satisfação
conseguindo resultados com o seu trabalho".
Os proponentes, entretanto, aquando da comunicação da
proposta, tinham sublinhado que se o Nobel da Paz fora já atribuído a Obama,
mais do que razão para que fosse dado a Putin. Lógica irrefutável. E irrevogável.
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