sábado, 30 de novembro de 2013

Francisco e o poder

Por Antunes Ferreira
AS DECLARAÇÕES, práticas e decisões do Papa Francisco têm provocado as mais diversas opiniões dentro e fora Igreja Católica Apostólica e Romana. Parecendo ser uma verdade do amigo Banana ou de Monsieur de la Palice, a verdade é que não é. O que disse, por exemplo, sobre os homossexuais veio abanar um dos pontos de honra do Vaticano: ele tem vindo permanentemente a considera-los pecadores.
O primeiro cardeal do continente americano e oriundo dos jesuítas de seu nome Jorge Mario Berglogio, de acordo com uma senhora Amália que namorou quando adolescente, tinha pedido a sua mão e, em caso de recusa, seria padre. E a Papa chegou, escolhido ao segundo dia do Consistório, mais precisamente a 13 de Março deste ano que está prestes a terminar. E logo na sua primeira aparição aos fiéis que enchiam a praça de S. Pedro, deu uma indicação de algo iria mudar na Santa Sé: apareceu à varanda usando apenas a batina Branca.
Tudo o que a seguir viria a acontecer demonstrou que Francisco (escolheu em homenagem ao santo dos pobres, S. Francisco de Assis) trilhava novos caminhos para religião católica. Despoja do que considerou o excesso de pompa, decidiu morar na residência dos cardeais quando estes se deslocam a Roma. Para não estar só, disse então, pois precisava de gente para conversar, trocar ideias, em última análise, pessoas com quem queria conviver.
Daí em diante esforçou-se numa conduta para demonstrar essas intenções, o que para o ramo mais conservador da Igreja começou a parecer um exagero. Porém, por outra facção mais liberal foi entendido como um reformador. O povo dos fiéis achou-o simpático, simples, com quem se podia conversar; o episódio do seu telefonema para um jovem que lhe enviara uma carta, transformou-o num Papa aberto, civilizado, actualizado.
No entanto não se pode esconder que o marketing tem cada vez maior importância no Mundo. E os que o organizam no Vaticano sabem o que estão a fazer. Uma figura constrói-se à volta de quem tem condições para isso. Francisco tem-nas. Facilitou assim o trabalho dos especialistas. Mas, simultaneamente, começou a correr que era demasiadamente “incómodo”. E de pronto se apontou o Papa João Paulo cuja morte continua a provocar as mais diversas especulações resumíveis numa pergunta: teria sido eliminado, assassinada para bastantes investigadores?
De repente, Francisco divulgou o primeiro documento importante de seu pontificado, a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho). Ao longo de 84 páginas, o papa faz um apelo à protecção dos cristãos nos países muçulmanos, condena os excessos do capitalismo financeiro e defende reformas na Igreja Católica. Mas, por outro lado, continua intransigente em relação a questões como a ordenação das mulheres e o aborto.
No texto, o papa exorta os líderes das principais potências mundiais a lutar contra a pobreza e as desigualdades geradas pelo capitalismo financeiro, que ele chama de "nova tirania invisível". Ele denuncia "a nova idolatria do dinheiro" e um sistema económico que causa "exclusão". O papa sublinha que "o dever dos ricos, em nome de Cristo, é ajudar os pobres".
"Não é possível que um idoso obrigado a viver na rua morra de frio na indiferença de todos, enquanto dois pontos de alta na bolsa de valores se tornem manchete nos jornais", escreve o papa num capítulo dedicado aos desafios globais da actualidade. "A desigualdade social é a raiz dos males da sociedade", afirma. Pode assim sintetizar-se este “programa de governo” numa frase do texto: quando acenta que o sistema económico criou “algo de novo: os excluídos não são explorados, são desperdícios, lixo”.
"Enquanto os problemas dos pobres não forem radicalmente resolvidos por meio da rejeição da autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira, e pelo ataque às causas estruturais da desigualdade, nenhuma solução será encontrada para os problemas do mundo ou, nessa matéria, para quaisquer problemas", ainda escreveu..
O papa argentino pretende renovar a Igreja, mas apenas até certo ponto. Há temas, como atrás se refere: são intocáveis, por mais liberal que seja a “reforma” preconizada: o aborto e a ordenação das mulheres. E mesmo a discussão entre os católicos,  de forma organizada, dos mais variados assuntos da religião foi encarada – e é – por muitos deles que torceram o nariz perante a iniciativa papal. Receiam que se esteja a demonstrar o mons parturiens. Ou dito de forma diferente: tanta publicidade na inovação para no fim continuar o mesmo produto, ou seja tudo como dantes.
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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O Marcolino (*)

CONTINUANDO a abordar temas da actualidade nacional, dificilmente se poderá fugir ao tema da moderna insegurança urbana. E, de facto, neste espaço tem-se falado de criminosos comuns, de condutores que se comportam como assassinos, da forma como a Justiça lida com o problema, etc. etc. E, evidentemente, tem-se procurado dar destaque aos esforços que o Salvador faz para pôr ao serviço da Lei e da Ordem os seus conhecimentos tecnológicos.
Há dias fui dar com ele, sentado na leitaria da D. Deolinda, nervoso, a fazer estranhas pesquisas na Internet. Vi, de longe, que o monitor apresentava gatafunhos e mais gatafunhos, uns mais feios do que outros, e não resisti a perguntar à dona da loja (para não interromper o Grande Consultor) se sabia o que é que se passava.
- Não o incomode agora! Sabe? É que o afilhado parece que anda com problemas com a Justiça e ele está a informar-se sobre crimes.
Fiquei gelado! Apesar de não conhecer o rapaz, a situação não era nada agradável. Resolvi, então, ficar por ali perto, folheando umas revistas, até se proporcionar o momento certo para me intrometer no assunto. Finalmente, o Salvador lá reparou em mim, e chamou-me para ao pé de si, não alterando – nem sequer procurando disfarçar - o seu ar preocupado.
E passou a explicar:
- Trata-se do Marcolino, o meu jovem afilhado que tem a mania que é artista... Mas até agora só deu em pintor de paredes! Anda a encher a cidade com a sua bonecada, e nem o facto de ter várias páginas na Web o salva de ir parar à prisão. Não leste a entrevista do homem que foi Mayor de Nova Iorque e que sugere que se prendam os artistas como o Marcolino?
De facto lera, e a coisa podia ficar feia para o rapaz. O Salvador, suspirando, desligou o computador e saímos. Mas o certo é que há coincidências engraçadas, e logo fomos encontrar o Marcolino, encostado a uma parede, pensativo. Estava em frente à Fundação Gulbenkian e uma lata de spray espreitava do bolso direito das calças.
O Salvador apresentou-nos, conversámos um pouco, e eu  tive uma ideia fabulosa: levei a conversa para a arte, e, como quem não quer a coisa, convenci-os a irem comigo a ver «a verdadeira arte», na exposição permanente da Fundação. Mas, face ao desinteresse do Marcolino, a breve trecho estávamos cá fora... Porém, não desistindo, arranjei forma de nos encaminharmos de seguida para o edifício anexo, o Centro de Arte Moderna. E, desta vez, sim! O nosso jovem saiu de lá com um sorriso nos lábios! Alguma coisa lhe dizia que, ali por aqueles lados, a sua arte seria compreendida!
Mas confesso que fiquei preocupado quando, já na rua, o Marcolino quis voltar atrás, fascinado com a brancura de alguns pilares e paredes do Museu...
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(*) - CMR - Revista Valor – 31 de Maio 2001
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NOTA adicional: seguem-se alguns dos desenhos que o cartoonista José Abrantes fez para ilustrar as histórias desta personagem.
 

sábado, 23 de novembro de 2013

O desnorte


Por Antunes Ferreira
QUINTA-FEIRA passada foi um marco no desnorte do (des)Governo. Foi o que pode considerar um dia horribilis. Se se entendesse necessário encontrar uma justificação para o que acaba de afirma, bastaria referir que nunca se tinham verificado em Portugal tantos desencontros na maioria parlamentar, no (des)Governo, na Presidência da República, na União Europeia e no Fundo Monetário Internacional. Resumindo: cada cabeça, cada sentença.
O dia começou mal, com o ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares a lamentar que nem sempre o que afirmam os responsáveis máximos dos organismos internacionais coincida com o que os técnicos da Troica depois defendem nas reuniões em Portugal. Pouco faltou para que Marques Guedes lançasse uma advertência à entidade de três organismos que vêm governando o nosso país: Falem em consonância, porra! Não o disse, mas se me  permitem extrapolo.
Nessa quinta-feira trágica o Comissário Europeu dos Assuntos Económicos Oli Rehn tinha dito que está na altura dos Estados Membros começarem a abrandar a austeridade e o ritmo de consolidação orçamental, dando como exemplo Portugal, e concentrar-se em políticas que promovam o crescimento da economia e do emprego.
Mas também o FMI foi objecto da crítica do (des)governante  que afirmou que “Já ouvimos a presidente do FMI várias vezes pronunciar-se sobre a necessidade de abrandar e de alterar o programa de austeridade dos países sob ajustamento, mas depois a atitude dos técnicos do FMI e dos relatórios do FMI sobre a matéria dizem rigorosamente o contrário daquilo que é dito nas entrevistas pela presidente do FMI”.
Entretanto em Bruxelas a União desconfiou dos números do défice e do desemprego apresentados pelo (des)Executivo, passando assim um atestado de incompetência ao Instituto Nacional de Estatística. Zangavam-se as comadres descobriam-se as verdades. Mas, os ataques à politica de austeridade não ficaram por aqui, muito longe disso.
Já à noite, na reunião das esquerdas promovida por Mário Soares sob a defesa da Constituição da democracia e do estado social, as referências feitas pelo ex-Presidente ao actual ocupante do Palácio de Belém, levaram ao rubro a sala da Aula Magna da Universidade de Lisboa. O antigo secretário-geral do Partido Socialista não esteve com paninhos quentes: “É por isso que digo que o Presidente e o Governo devem demitir-se, enquanto podem ainda ir para suas casas pelo seu pé. Caso contrário, serão responsáveis pela onda de violência que também os atingirá”.
E singularmente quase na mesma altura a manifestação das forças de segurança, desde a PSP às polícias municipais, passando pelos Serviços de Fronteiras, agentes da Polícia Judiciária e GNR, rompendo as barreiras de segurança subiu em sinal de protesto a escadaria da Assembleia da República protestando contra o ataque de vinham sendo alvo do (des)Governo.
E um destacado representante das associações sindicais que convocaram a manifestação sublinhou também a falta das condições de segurança originada pelos sucessivos cortes que se verificavam e dando o seu aviso de que em 2014 com o OE que já estava em discussão no Parlamento as coisas seriam ainda piores. Foi a maior que algum dia se verificou dos elementos das forças de segurança. Que terminou pacificamente. O que motivou a “felicidade” de Assunção Esteves, presidente da AR.
O mesmo já não aconteceu ontem, sexta-feira. O superintendente Paulo Valente Gomes, Director Nacional da PSP colocou o lugar à disposição “na sequência dos acontecimentos ocorridos ontem (quinta-feira) em frente à Assembleia da República”, informou através de uma nota do MAI enviada à comunicação social. O ministério acrescentava que Miguel Macedo tinha aceitado o pedido de demissão e que ia “iniciar o processo tendo em vista a designação de um novo Director Nacional” da PSP.
Um pot-pourri desta dimensão é mais do que preocupante. Até porque, na Aula Magna também estiveram altas patentes militares. Ocorreu-me até o que se passara na revolução de Outubro na Rússia e que conduziu à eliminação do czar e de quase todos os Romanov e originou a criação da falecida URSS. Exagero, talvez. Mas, convém não esquecer que quem semeia ventos colhe tempestades.

sábado, 16 de novembro de 2013

"A Spielberg case"

Por Antunes Ferreira
EU BEM SUSPEITAVA que transportava comigo uma segunda derme, perfeitamente acoplada à pele, talvez mesmo indissociáveis ambas. Especifico: à minha pele; ou seja à minha epiderme. A este propósito e antes de me alongar (prometo que me encurtarei), venha a clássica consulta à Wikipédia. epiderme (do grego Επιδερμίδα epi+derme; em cima da pele) é a camada mais superficial da pele, ou seja, a que está directamente em contacto com o exterior. É um epitélio escamoso estratificado que actua como importante barreira do corpo em ambientes inóspitos, protegendo a pele contra infecções, perdas de calor e outras, nomeadamente em partes mais sensíveis, contra traumas.
Mas nunca pensei que essa duplicidade dérmica fosse suficientemente evidente para que outras pessoas a descortinassem. Como andava enganado? Aqui há uns dias, por obra de amigo comum, reencontrei o Ilídio Guedes, meu companheiro até à quarta classe (quando a havia). Daí para a frente nunca mais puséramos os olhos em cima dos outros do outro e vice-versa. Foi uma alegria, podem crer. Mas, depois, uma ansiedade, para terminar numa completa desilusão. Palavra puxa palavra, frase puxa frase e a dada altura, surdiu a clássica… e como vais de amores?
Dado que o autor confesso da inquirição era (ou fora) da minha inteira confiança, respondi-lhe que estava casado quase há cinquenta anos, ao que o Guedes me perguntou, com um ar de espanto afivelado na face, e sempre com a mesma mulher? Perante a minha anuência, o camarada olhou-me de alto a baixo e desfechou, fala-se muito em study cases, que se dividem em muitas alíneas, mas o teu caso é realmente como o lince da Malcata, ou seja em vias de extinção. Visto que eu persistia na imobilidade esbugalhada (característica que é apanágio do chamado Presidente da República em Belém) Ilídio acrescentou  que o meu era um verdadeiro Spielberg case pois eu me aproximava muito de um dinossauro, mais precisamente do anquilossauro.
Nesta altura da ocorrência, costumam as autoridades deslocar-se ao local onde ela se verificou. E esta era precisamente um bom exemplo da presença de agentes devidamente uniformizados que oportunamente iriam dar, supostamente, conta do que acontecera face à espinhosa situação de eu, ainda que subtilmente, possuir duas peles, duas dermes, até mesmo duas cútis. Interrogar-me-iam, por certo, sobre esse estranho anacronismo.
Entretanto, Guedes continuava a olhar-me entre o divertido e o admirado, pelo que de imediato me ocorreu que o sujeito estava a abusar de uma velha camaradagem desde os dois lugares da mesma carteira do externato Mouzinho da Silveira, isto é, estava a gozar-me. Tive ganas de lhe citar o Franz Kafka, mas contive-me. Sabia lá se ele me questionaria de forma acintosa, mas esse gajo joga na Primeira Liga ou na Segunda? O nome não me é estranho…
Pela minha parte, continuava a matutar na forma como lhe responderia, se a situação se tornasse numa calamidade. E, mentalmente equacionei que lhe poderia atirar que quando Gregor Samsa despertou, certa manhã, de um sonho agitado viu que se transformara, durante o sono, numa espécie monstruosa de insecto. E acrescentaria que era assim que Kafka  inicia a história do caixeiro-viajante, que numa manhã, ao acordar para o trabalho, vê que durante a noite se transformara num insecto horrível com um "dorso duro e inúmeras patas". Estive prestes a despejar no frontispício irónico do Ilídio que assim era o início da obra chamada “A Metamorfose” da autoria do escritor checo.
Logo de seguida continuei a elucubração, relembrando também “A Mosca”, filme que retracta a transformação repulsiva de um cientista numa enorme mosca, por intermédio de uma máquina de teletransporte que tinha inventado. As duas estórias juntas, ainda que separadas por mais de meio século, seriam mais do que suficientes para esmagar o Guedes. De tal sorte que acabariam as insinuações torpes sobre a suposta mutação ocorrida sobre mim mesmo. E o homem a dar-lhe, isso nem parece teu, mas vendo bem essa estória dos cinquenta anos casado sempre com a mesma mulher leva-me a corrigir a primeira avaliação; na verdade pareces-me mais um gorgossauro…
Só consegui responder-lhe com um angustiado – nota-se muito? E ele, a fazer de sério, se não abrisses a boca, não notaria nada e aproveitou para aditar que por fora, ou seja, a nível da epiderme, ninguém diria que eu era um sepielberguiano caso, em tradição livre e literal. Convicto de que não fazia parte de um qualquer Parque Jurássico, suspirei fundo. No entanto, assoberbado pela dúvida, foi então que me descobri portador dessa pele elevada ao quadrado, ainda que da mais firme, sincera e impoluta formação legal, moral e familiar. E assim me mantenho, sem traumas, graças ao meu epitélio escamoso estratificado.


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Vamos ajudar a Galp

Por Antunes Ferreira
Há momentos na vida de um homem em que a tristeza e até a desilusão imperam por força das desgraças que acontecem a outrem. Pessoas e instituições que se lamentam da desdita merecem-me a afirmação de que estou com elas, lhes dou a minha solidariedade mais sincera, e que estou disposto – se tal for necessário – a enxugar-lhe as lágrimas.
Ombro em que se amparem ofereço-lhes desinteressadamente, e nele podem estar certas que podem chorar as suas mágoas. Os amigos têm de ser assim sobretudo nas ocasiões mais difíceis. Por isso compreendo as lamentações, aliás justíssimas, dos que sofrem na carne e nos órgãos (refiro-me obviamente a entidades, as mais das vezes pouco habituadas ao negativo da vida e por isso mal preparadas para reagir ao descrédito) as inclemências e os desvarios que existem neste planeta azul.
Feita esta declaração muito sentida em virtude de preocupações ciclópicas (parece-me que o termo foi utilizado por um governante que sucedeu a outro no antigo regime) que apoquentam homens e organizações, debruço-me verdadeiramente preocupado sobre notícia que obnubila uma empresa que nos acompanha a todos (ou quase) no dia-a-dia e que se esforça por nos servir bem. Vamos, pois, ao augúrio: “A Galp apurou um lucro de 218 milhões de euros nos nove primeiros meses do ano, menos 58 milhões (ou 21%) do que no mesmo período do ano passado” Numa confissão pública – o que é sempre de louvar – foi a própria petrolífera portuguesa que o revelou há dias.
E num revolver o punhal da angústia na ferida (diga-se que não foi um haraquíri) juntou logo em seguida que o resultado foi penalizado pelo desempenho no terceiro trimestre, período em que a empresa apresentou uma deterioração dos resultados financeiros e teve um aumento das amortizações e provisões no negócio de refinação e distribuição.
O povo que gosta de ser informado e portanto elucidado carregou o cenho. Podia lá ser? Um tal desastre de dimensão nacional era quase um cataclismo para não dizer mesmo um tsunami. Receou. Seria necessário recorrer à Igreja que nos momentos mais complicados está sempre ao dispor dos que sofrem? Umas novenas? Umas procissões? Umas penitências? A hipótese de umas voltas de joelhos à volta do recinto sagrado de Fátima?
As declarações do Emérito Cardeal Policarpo vieram, porém, lançar a hesitação sobre a intercepção da casa de Deus. Isto porque o ilustre purpurado/reformado tinha afirmado que lhe parecia “ que ninguém sabe que Portugal está numa crise e dá a ideia que todos reagem como se o estado pudesse satisfazer as suas reivindicações». Mas, não se ficou por aqui o prelado resignatário.
Disse mais: que não encontrara ”ninguém das oposições - todas elas - que apresentasse soluções. E se falhasse este mecanismo da economia liberal, Portugal só teria dinheiro para mês e meio», frisou, acrescentando que, nesse cenário, «não haveria dinheiro para pagar salários e pensões». É certo que D. Policarpo se considerou a si próprio fora do prazo de validade, mas não é menos o que entendeu sobre isso a Santa Sé. Donde, para ajudar a Galp, tinha de haver outras soluções que não a intervenção divina, mesmo dando de barato que o auxilio da Senhora de Fátima poderia ser ineficaz. A testá-lo, o Imóvel de Belém continuou – imóvel. Nem com a ajuda da ilustríssima esposa falou. E se o fizesse certamente diria mais uma vez asneirada da grossa, já que em alternativa nenhuma mosca se arriscaria em entrar em boca tão suja, vingativa e mentirosa.
Daí que reafirme a minha irrecusável piedade pela Galp. Que já foi Sacor fundada pelo judeu Martin Saim, residente em Paris e que teve nos seus corpos gerentes figuras importantes do salazarismo, a mais conhecida delas foi Francisco Casal Ribeiro, o ultra mais ultra no combate ao “primaveril” Marcelo Caetano.
Estou mesmo na expectativa do aparecimento no Facebook de uma proposta para a constituição de uma associação cujo escopo será a angariação de fundos para ajudar a gasolineira. Para tal sugiro a contratação da Dona Isabel Jonet, especialista em peditórios a nível nacional, com especial incidência às portas das grandes superfícies comerciais. Com uma condição sine qua non: que o litro da gasolina vá descendo a pouco e pouco, até que me seja possível encher o depósito do meu carro sem recorrer ao método usado pelo (des)Governo: assalto e roubo à mão desarmada.