Por Antunes Ferreira
Há momentos na vida de
um homem em que a tristeza e até a desilusão imperam por força das desgraças
que acontecem a outrem. Pessoas e instituições que se lamentam da desdita
merecem-me a afirmação de que estou com elas, lhes dou a minha solidariedade
mais sincera, e que estou disposto – se tal for necessário – a enxugar-lhe as
lágrimas.
Ombro em que se
amparem ofereço-lhes desinteressadamente, e nele podem estar certas que podem
chorar as suas mágoas. Os amigos têm de ser assim sobretudo nas ocasiões mais
difíceis. Por isso compreendo as lamentações, aliás justíssimas, dos que sofrem
na carne e nos órgãos (refiro-me obviamente a entidades, as mais das vezes
pouco habituadas ao negativo da vida e por isso mal preparadas para reagir ao
descrédito) as inclemências e os desvarios que existem neste planeta azul.
Feita esta declaração
muito sentida em virtude de preocupações ciclópicas (parece-me que o termo foi
utilizado por um governante que sucedeu a outro no antigo regime) que
apoquentam homens e organizações, debruço-me verdadeiramente preocupado sobre
notícia que obnubila uma empresa que nos acompanha a todos (ou quase) no
dia-a-dia e que se esforça por nos servir bem. Vamos, pois, ao augúrio: “A Galp
apurou um lucro de 218 milhões de euros nos nove primeiros meses do ano, menos
58 milhões (ou 21%) do que no mesmo período do ano passado” Numa confissão
pública – o que é sempre de louvar – foi a própria petrolífera portuguesa que o
revelou há dias.
E num revolver o punhal
da angústia na ferida (diga-se que não foi um haraquíri) juntou logo em seguida
que o resultado foi penalizado pelo desempenho no terceiro trimestre, período
em que a empresa apresentou uma deterioração dos resultados financeiros e teve
um aumento das amortizações e provisões no negócio de refinação e distribuição.
O povo que gosta de
ser informado e portanto elucidado carregou o cenho. Podia lá ser? Um tal
desastre de dimensão nacional era quase um cataclismo para não dizer mesmo um
tsunami. Receou. Seria necessário recorrer à Igreja que nos momentos mais
complicados está sempre ao dispor dos que sofrem? Umas novenas? Umas
procissões? Umas penitências? A hipótese de umas voltas de joelhos à volta do
recinto sagrado de Fátima?
As declarações do
Emérito Cardeal Policarpo vieram, porém, lançar a hesitação sobre a intercepção
da casa de Deus. Isto porque o ilustre purpurado/reformado tinha afirmado que
lhe parecia “ que ninguém sabe que Portugal está numa crise e dá a ideia
que todos reagem como se o estado pudesse satisfazer as suas reivindicações».
Mas, não se ficou por aqui o prelado resignatário.
Disse mais: que não encontrara ”ninguém das oposições - todas elas - que apresentasse soluções.
E se falhasse este mecanismo da economia liberal, Portugal só teria dinheiro
para mês e meio», frisou, acrescentando que, nesse cenário, «não haveria
dinheiro para pagar salários e pensões». É certo que D. Policarpo se considerou
a si próprio fora do prazo de validade, mas não é menos o que entendeu sobre
isso a Santa Sé. Donde, para ajudar a Galp, tinha de haver outras soluções que
não a intervenção divina, mesmo dando de barato que o auxilio da Senhora de
Fátima poderia ser ineficaz. A testá-lo, o Imóvel de Belém continuou – imóvel.
Nem com a ajuda da ilustríssima esposa falou. E se o fizesse certamente diria
mais uma vez asneirada da grossa, já que em alternativa nenhuma mosca se
arriscaria em entrar em boca tão suja, vingativa e mentirosa.
Daí que reafirme a minha irrecusável piedade pela Galp. Que
já foi Sacor fundada pelo judeu Martin Saim, residente em Paris e que teve nos
seus corpos gerentes figuras importantes do salazarismo, a mais conhecida delas
foi Francisco Casal Ribeiro, o ultra mais ultra no combate ao “primaveril”
Marcelo Caetano.
Estou mesmo na expectativa do aparecimento no Facebook de
uma proposta para a constituição de uma associação cujo escopo será a
angariação de fundos para ajudar a gasolineira. Para tal sugiro a contratação
da Dona Isabel Jonet, especialista em peditórios a nível nacional, com especial
incidência às portas das grandes superfícies comerciais. Com uma condição sine qua non: que o litro da gasolina vá
descendo a pouco e pouco, até que me seja possível encher o depósito do meu
carro sem recorrer ao método usado pelo (des)Governo: assalto e roubo à mão
desarmada.