CONTINUANDO a abordar temas da actualidade
nacional, dificilmente se poderá fugir ao tema da moderna insegurança urbana.
E, de facto, neste espaço tem-se falado de criminosos comuns, de condutores que
se comportam como assassinos, da forma como a Justiça lida com o problema, etc.
etc. E, evidentemente, tem-se procurado dar destaque aos esforços que o
Salvador faz para pôr ao serviço da Lei e da Ordem os seus conhecimentos
tecnológicos.
Há dias fui
dar com ele, sentado na leitaria da D. Deolinda, nervoso, a fazer estranhas
pesquisas na Internet. Vi, de longe, que o monitor apresentava gatafunhos e
mais gatafunhos, uns mais feios do que outros, e não resisti a perguntar à dona
da loja (para não interromper o Grande Consultor) se sabia o que é que se
passava.
- Não o
incomode agora! Sabe? É que o afilhado parece que anda com problemas com a
Justiça e ele está a informar-se sobre crimes.
Fiquei
gelado! Apesar de não conhecer o rapaz, a situação não era nada agradável.
Resolvi, então, ficar por ali perto, folheando umas revistas, até se
proporcionar o momento certo para me intrometer no assunto. Finalmente, o
Salvador lá reparou em mim, e chamou-me para ao pé de si, não alterando – nem
sequer procurando disfarçar - o seu ar preocupado.
E passou a
explicar:
- Trata-se
do Marcolino, o meu jovem afilhado que tem a mania que é artista... Mas até
agora só deu em pintor de paredes! Anda a encher a cidade com a sua bonecada, e
nem o facto de ter várias páginas na Web o salva de ir parar à prisão. Não
leste a entrevista do homem que foi Mayor de Nova Iorque e que sugere
que se prendam os artistas como o Marcolino?
De facto
lera, e a coisa podia ficar feia para o rapaz. O Salvador, suspirando, desligou
o computador e saímos. Mas o certo é que há coincidências engraçadas, e logo
fomos encontrar o Marcolino, encostado a uma parede, pensativo. Estava em
frente à Fundação Gulbenkian e uma lata de spray espreitava do bolso
direito das calças.
O Salvador apresentou-nos,
conversámos um pouco, e eu tive uma
ideia fabulosa: levei a conversa para a arte, e, como quem não quer a coisa,
convenci-os a irem comigo a ver «a verdadeira arte», na exposição permanente da
Fundação. Mas, face ao desinteresse do Marcolino, a breve trecho estávamos cá
fora... Porém, não desistindo, arranjei forma de nos encaminharmos de seguida
para o edifício anexo, o Centro de Arte Moderna. E, desta vez, sim! O nosso
jovem saiu de lá com um sorriso nos lábios! Alguma coisa lhe dizia que, ali por
aqueles lados, a sua arte seria compreendida!
Mas confesso
que fiquei preocupado quando, já na rua, o Marcolino quis voltar atrás,
fascinado com a brancura de alguns pilares e paredes do Museu...
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(*) - CMR -
Revista Valor – 31 de Maio 2001
*
NOTA adicional: seguem-se alguns dos desenhos que o cartoonista José Abrantes fez para ilustrar as histórias desta personagem.
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