Por Antunes Ferreira
QUINTA-FEIRA passada foi um marco no desnorte do
(des)Governo. Foi o que pode considerar um dia horribilis. Se se entendesse
necessário encontrar uma justificação para o que acaba de afirma, bastaria
referir que nunca se tinham verificado em Portugal tantos desencontros na
maioria parlamentar, no (des)Governo, na Presidência da República, na União
Europeia e no Fundo Monetário Internacional. Resumindo: cada cabeça, cada
sentença.
O dia começou mal, com o ministro da Presidência e dos
Assuntos Parlamentares a lamentar que nem sempre o que afirmam os responsáveis
máximos dos organismos internacionais coincida com o que os técnicos da Troica
depois defendem nas reuniões em Portugal. Pouco faltou para que Marques Guedes
lançasse uma advertência à entidade de três organismos que vêm governando o
nosso país: Falem em consonância, porra! Não o disse, mas se me permitem extrapolo.
Nessa quinta-feira trágica o Comissário Europeu dos Assuntos
Económicos Oli Rehn tinha dito que está na altura dos Estados Membros começarem
a abrandar a austeridade e o ritmo de consolidação orçamental, dando como
exemplo Portugal, e concentrar-se em políticas que promovam o crescimento da
economia e do emprego.
Mas também o FMI foi objecto da crítica do (des)governante que afirmou que “Já ouvimos a presidente do FMI várias vezes pronunciar-se sobre a
necessidade de abrandar e de alterar o programa de austeridade dos países sob
ajustamento, mas depois a atitude dos técnicos do FMI e dos relatórios do FMI sobre
a matéria dizem rigorosamente o contrário daquilo que é dito nas entrevistas
pela presidente do FMI”.
Entretanto em Bruxelas
a União desconfiou dos números do défice e do desemprego apresentados pelo
(des)Executivo, passando assim um atestado de incompetência ao Instituto
Nacional de Estatística. Zangavam-se as comadres descobriam-se as verdades.
Mas, os ataques à politica de austeridade não ficaram por aqui, muito longe
disso.
Já à noite, na reunião
das esquerdas promovida por Mário Soares sob a defesa da Constituição da
democracia e do estado social, as referências feitas pelo ex-Presidente ao
actual ocupante do Palácio de Belém, levaram ao rubro a sala da Aula Magna da
Universidade de Lisboa. O antigo secretário-geral do Partido Socialista
não esteve com paninhos quentes: “É por isso que digo que o Presidente e o
Governo devem demitir-se, enquanto podem ainda ir para suas casas pelo seu pé.
Caso contrário, serão responsáveis pela onda de violência que também os
atingirá”.
E singularmente quase na mesma altura a manifestação das
forças de segurança, desde a PSP às polícias municipais, passando pelos
Serviços de Fronteiras, agentes da Polícia Judiciária e GNR, rompendo as
barreiras de segurança subiu em sinal de protesto a escadaria da Assembleia da
República protestando contra o ataque de vinham sendo alvo do (des)Governo.
E um destacado representante das associações sindicais que
convocaram a manifestação sublinhou também a falta das condições de segurança
originada pelos sucessivos cortes que se verificavam e dando o seu aviso de que
em 2014 com o OE que já estava em discussão no Parlamento as coisas seriam
ainda piores. Foi a maior que algum dia se verificou dos elementos das forças
de segurança. Que terminou pacificamente. O que motivou a “felicidade” de
Assunção Esteves, presidente da AR.
O mesmo já não aconteceu ontem, sexta-feira. O superintendente Paulo Valente Gomes, Director
Nacional da PSP colocou o lugar à disposição “na sequência dos acontecimentos
ocorridos ontem (quinta-feira) em frente à Assembleia da República”, informou
através de uma nota do MAI enviada à comunicação social. O ministério
acrescentava que Miguel Macedo tinha aceitado o pedido de demissão e que ia
“iniciar o processo tendo em vista a designação de um novo Director Nacional” da PSP.
Um pot-pourri
desta dimensão é mais do que preocupante. Até porque, na Aula Magna também
estiveram altas patentes militares. Ocorreu-me até o que se passara na
revolução de Outubro na Rússia e que conduziu à eliminação do czar e de quase
todos os Romanov e originou a criação da falecida URSS. Exagero, talvez. Mas,
convém não esquecer que quem semeia ventos colhe tempestades.
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