Por Antunes Ferreira
As eleições para o Parlamento Europeu tiveram os resultados
que tiveram, já mereceram a maior (exagerada?) atenção dos comentadores
políticos, mas, indubitavelmente a vitória do Partido Socialista foi o me mais
motivou os especialistas – sabe-se lá de quê, embora todos digam que o são
politicamente – a emitirem as respectivas opiniões, autoconsideradas as mais
correctas e esclarecedoras.
Mas, sem margem para dúvidas, desde logo um ponto suscitou
as críticas mais azedas dos fazedores de opinião (temos de começar a substituir
denominações e expressões tais como opinion
makers): a euforia de Francisco
Assis, imediatamente após terem sido conhecidas as primeiras projecções dos
resultados, que foi acompanhada pelo secretário nacional do PS, António José
Seguro.
Isto porque a
eufórica vitória alcançada contra a direita, se veio concretizar nuns
escassos 3,7% sobre o alcançado pela coligação Aliança Portugal composta pelos
dois partidos que aguentam o
Executivo encabeçado por Pedro Passos Coelho. Estava aceso o rastilho da bomba
que se supunha ser a vantagem bastante mais substancial do PS e no que, ao fim
e ao cabo, dera o que Mário Soares consideraria uma vitória de Pirro.
Mas, no meu modesto entender, tapou-se o céu com uma
peneira, uma vez mais. Enquanto se discutia o resultado dos socialistas, a
fragmentação dos resultados, a ascensão meteórica do Partido da Terra, que
obteria dois lugares no anfiteatro de Estrasburgo, porque Marinho e Pinto, o
iconoclasta ex-bastonário da Ordem dos Advogados veio abanar o statu quo da política à portuguesa, a
subida acentuada dos comunistas e a queda dos bloquistas, a maior percentagem
de sempre de abstenções, etc. esqueceu-se um facto que me parece extremamente
relevante.
Socorro-me da matemática e da estatística, matéria em que
sempre fui quase um zero à esquerda da vírgula. Mas a ousadia dos que pouco
sabem leva-me a enunciar a minha teoria. O universo dos Portugueses que
votaram, para efeitos de percentagens, representou 100%. Se me engano, peço o
favor de me corrigirem, obrigado. Desses 100% a Aliança Portugal obteve quase
28%. Daí que, contra ela se tenham verificado, mais coisa, menos coisa, 72%. O
que quer dizer que estas eleições europeias, que em Portugal eram, sobretudo,
para avaliar o comportamento do (des)Governo PSD/CDS-PP, se saldaram por uma
enorme derrota para esta coligação da direita..
A rejeição desse caminho abstruso que se consubstanciou na
terrível austeridade praticada e avalizada pela troika nacional (Cavaco, Coelho e Portas) e nas consequências
funestas para (quase) todos os Portugueses foi repito e sublinho, uma tremenda derrota para Belém e São Bento. Sobre isto, não me
parece haver dúvidas, ou então, como diz a vox
populi, a matemática é uma batata…
É sabido que esses resultados originaram um imbróglio no
Partido Socialista, cuja dimensão se poderá avaliar melhor depois da reunião de
hoje da sua Comissão Nacional. O largo do Rato é, assim, hoje, o patamar de uma
escada que começou no Hotel Altis e poderá chegar sabe-se lá onde. Talvez ao
Congresso do PS em que os dois Antónios dirimirão forças para saber qual deles
sai, qual deles entra. O que está em causa, como se sabe, é a liderança do
partido da rosa, mas que continua a ser, presumo, também o
do punho erguido.