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Por Antunes Ferreira
UNA MOEDINHA, tenho fome. E faz com a mão que leva à boca, o gesto característico. Pelo acento, reconheço a nacionalidade do homem: é romeno. Agarra um pequeno maço da Cais e do Borda d’Água, o trivial. Com a janela fechada, nunca é de fiar, faço-lhe sinal que não quero. O semáforo continua no vermelho. Baixo o vidro: Mulţumesc, dar nu vreau. Muito obrigado, mas não quero.
Olha-me, espantado e avisa os outros membros do clã: Uite, el vorbeşte română. Olhem, ele fala romeno. O pessoal, atrás, começa a apitar; como continuo a ser parvo, chego-me ao passeio para o esclarecer: eu nu vorbesc limba română, dar am înţeles. Eu não falo a língua romena, mas compreendo um pouco, puţin. São quatro estrategicamente colocados a cada esquina. Una moedinha, va rogam sa, por favor. Deixo um euro e safo-me. La revedere, adeus.
Permito-me acrescentar que fui várias vezes à Roménia, entrevistei tovarăşul Niculae Ceauşescu, ou seja o camarada Niculae Ceausescu, e reportei o terramoto de 1977, bem como as primeiras eleições ditas “democráticas” depois da execução do ditador e de sua mulher, sempre e naturalmente para o Diário de Notícias. Fui aprendendo umas frases, o que nem me foi muito difícil, porque o romeno é uma língua novi-latina, como a nossa. Fechado o esclarecimento, continuo.
É uma chusma que se encontra aqui e acolá nesta cidade dita das sete colinas. Uma boa parte dela cigana da Roménia e da Moldávia. Fronteira comum, a língua é praticamente a mesma, tal como o Português daqui e os outros com acentos diferentes, a modos que um portuñol raiano com termos abrasileirados ou angolanizados. Há ainda os que tentam limpar o para-brisas das viaturas. No meu, nem pó. Nunca. Já se têm verificado casos de ameaças e até roubos. Armadilhas aproveitando o vermelho dos semáforos. Um perigo.
Uma boa parte deles não é flor que se cheire. Emigraram dos seus países, entraram como imigrantes pela Europa, Bucareste já é membro da União Europeia, mas cheiram a esturro. Preconceito? Suspeitas? Racismo? Numa terra como a nossa, habitada por gentes muito diversas e nós próprios resultantes de cruzamentos consecutivos, tal não deveria acontecer. O exemplo, mau, da França do monsieur Sarkozy, que os mandou expulsar, foi verberado energicamente, por quase todo o Mundo. E com carradas de razão. Mas, os franceses fingiram que não tinha ouvido nada.
O problema maior nem são estes pequenos nadas que, mesmo assim, chateiam um pacífico cidadão ao volante da sua viatura. São as máfias. Como as dos russos, dos ucranianos, dos chineses, por exemplo. De resto, os gangs não têm cor, são como o dinheiro, sejam eles de brasileiros, de portugueses ou de quem que seja mais. O crime organizado é um flagelo; e a sociedade, cada dia mais permissiva, quase não consegue responder-lhe. Um polícia para cada cidadão é muito difícil…
Por Antunes Ferreira
UNA MOEDINHA, tenho fome. E faz com a mão que leva à boca, o gesto característico. Pelo acento, reconheço a nacionalidade do homem: é romeno. Agarra um pequeno maço da Cais e do Borda d’Água, o trivial. Com a janela fechada, nunca é de fiar, faço-lhe sinal que não quero. O semáforo continua no vermelho. Baixo o vidro: Mulţumesc, dar nu vreau. Muito obrigado, mas não quero.
Olha-me, espantado e avisa os outros membros do clã: Uite, el vorbeşte română. Olhem, ele fala romeno. O pessoal, atrás, começa a apitar; como continuo a ser parvo, chego-me ao passeio para o esclarecer: eu nu vorbesc limba română, dar am înţeles. Eu não falo a língua romena, mas compreendo um pouco, puţin. São quatro estrategicamente colocados a cada esquina. Una moedinha, va rogam sa, por favor. Deixo um euro e safo-me. La revedere, adeus.
Permito-me acrescentar que fui várias vezes à Roménia, entrevistei tovarăşul Niculae Ceauşescu, ou seja o camarada Niculae Ceausescu, e reportei o terramoto de 1977, bem como as primeiras eleições ditas “democráticas” depois da execução do ditador e de sua mulher, sempre e naturalmente para o Diário de Notícias. Fui aprendendo umas frases, o que nem me foi muito difícil, porque o romeno é uma língua novi-latina, como a nossa. Fechado o esclarecimento, continuo.
É uma chusma que se encontra aqui e acolá nesta cidade dita das sete colinas. Uma boa parte dela cigana da Roménia e da Moldávia. Fronteira comum, a língua é praticamente a mesma, tal como o Português daqui e os outros com acentos diferentes, a modos que um portuñol raiano com termos abrasileirados ou angolanizados. Há ainda os que tentam limpar o para-brisas das viaturas. No meu, nem pó. Nunca. Já se têm verificado casos de ameaças e até roubos. Armadilhas aproveitando o vermelho dos semáforos. Um perigo.
Uma boa parte deles não é flor que se cheire. Emigraram dos seus países, entraram como imigrantes pela Europa, Bucareste já é membro da União Europeia, mas cheiram a esturro. Preconceito? Suspeitas? Racismo? Numa terra como a nossa, habitada por gentes muito diversas e nós próprios resultantes de cruzamentos consecutivos, tal não deveria acontecer. O exemplo, mau, da França do monsieur Sarkozy, que os mandou expulsar, foi verberado energicamente, por quase todo o Mundo. E com carradas de razão. Mas, os franceses fingiram que não tinha ouvido nada.
O problema maior nem são estes pequenos nadas que, mesmo assim, chateiam um pacífico cidadão ao volante da sua viatura. São as máfias. Como as dos russos, dos ucranianos, dos chineses, por exemplo. De resto, os gangs não têm cor, são como o dinheiro, sejam eles de brasileiros, de portugueses ou de quem que seja mais. O crime organizado é um flagelo; e a sociedade, cada dia mais permissiva, quase não consegue responder-lhe. Um polícia para cada cidadão é muito difícil…