Por Antunes Ferreira
“Ó SR. DEPUTADO, eu não tenho amigos!”, afirmou Pedro Passos Coelho, em resposta a Jerónimo de Sousa. “Não
admira!”, exclamou de imediato o líder da bancada comunista, num aparte bem
audível no plenário. E a oposição rompeu em gargalhadas, o que motivou que
Coelho corrigisse logo a seguir, “Eu não tenho amigos… no Banif”. Assim
respondia ao secretário-geral do PCP que afirmara que o (des)Governo só tinha
mãos largas para os amigos. Referia-se ao estranho caso do BPN. E perguntou
ainda se estava “em condições de garantir que os portugueses não vão ser
chamados a pagar outro BPN no caso do Banif”.
Coelho não gostou da pergunta do líder do PCP. Mas nos
minutos que tinha para responder a Jerónimo o chefe do Governo acabou por não
dizer se o Banif já liquidara ou não as tranches das ajudas estatais que
recebeu. Teve de esperar até ao final do debate para, com um papel na mão,
dizer que o Banif “já devolveu 150 milhões de euros com o primeiro reforço de
capital que foi realizado”.
A sessão par(a)lamentar de quarta-feira foi um tremendo
desastre para o nosso primeiro. Se quisermos sintetiza-la numa curta frase não
será difícil: foi um circo. Com
Passos sem compasso como palhaço aparentando ser rico, mas no fundo sendo
pobre. De espírito. Os deputados da coligação espúria aplaudiram-no,
defenderam-no, mas, pouco, com convicção alegro
ma non tropo. Os da oposição riram-se
– e não tiveram pena dele. Nem tinham de ter.
João Semedo já o “incomodara”; ou seja, a oposição
toureava-o e naturalmente a pseudo serenidade de Passos foi-se esbatendo,
chegando ao ponto de ruptura do verniz com que tenta disfarçar as mentiras que diz
aos Portugueses. Encostado às cordas sobra-lhe em irritação o que tenta passar
de calma e tranquilidade a quem todos os dias é roubado por ele próprio ou
pelos seus capangas.
Na sua edição on-line de quinta-feira,
como habitualmente, o Expresso publica a coluna Politicoesfera assinada pelo seu titular João Lemos Esteves. Com
este não estou de acordo por diversas vezes; mas o seu texto merece-me um
aplauso, de tal forma que, se mo permitisse a minha cabeça (e o meu teclado)
não teria pejo de o assinar na totalidade. Mas, assim, limito-me a transcrever
dois passos dele.
“João Semedo afirmou, ontem no debate parlamentar, que não
sabe se o Governo ainda tem tropas - mas certamente já não tem generais. Pois
bem, acrescento que o general Passos Coelho nunca existiu e já está
praticamente deposto - e as tropas, face à inexistência política absoluta do
general (e inexistência, como se sabe, é mais grave do que
nulidade política), as tropas - e
as melhores tropas - de Portugal continuam a desertar.
(…)
Passos Coelho cometeu um erro pornográfico: afirmou que o Orçamento de Estado para o próximo ano comporta vários riscos. Portanto, já não bastava que o OE tivesse sido elaborado a trouxe-mouxe , nos últimos dias legalmente previstos para a sua apresentação; já não bastava as indefinições e o défice de esclarecimento sobre algumas medidas pré-anunciadas do Orçamento - ontem, Passos Coelho confessou a sua impotência para executar o Orçamento! Já não é um problema da troika. Já não é um problema de gestão política do executivo e a nossa dependência face ao exterior: é um problema de incompetência exclusiva do Governo, pois é o único órgão que tem poderes para aplicar o Orçamento de Estado e garantir a sua aplicação!”
Passos Coelho cometeu um erro pornográfico: afirmou que o Orçamento de Estado para o próximo ano comporta vários riscos. Portanto, já não bastava que o OE tivesse sido elaborado a trouxe-mouxe , nos últimos dias legalmente previstos para a sua apresentação; já não bastava as indefinições e o défice de esclarecimento sobre algumas medidas pré-anunciadas do Orçamento - ontem, Passos Coelho confessou a sua impotência para executar o Orçamento! Já não é um problema da troika. Já não é um problema de gestão política do executivo e a nossa dependência face ao exterior: é um problema de incompetência exclusiva do Governo, pois é o único órgão que tem poderes para aplicar o Orçamento de Estado e garantir a sua aplicação!”
(O
destaque em negro é do autor, a quem felicito pelo artigo.
Aliás,
aproveito esta oportunidade para referir que parte deste comentário é respigada
do “Público” e de outros órgãos da comunicação social. A todos, o meu obrigado)
Entretanto, António José Seguro também entrou na dança. Não falou em eleições, mas não deixou
de insinuar a necessidade de chamar os portugueses às urnas caso o país recorra
a um segundo pedido de ajuda. O que também irritou Coelho que,
na reposta, recusou debater "clichés". E porquê? Porque o líder socialista acusou o (des)Governo de chamar
"programa cautelar" ao que na prática não passa de
um "segundo resgate". Seguro notou que "existem quatro
formas de regressar aos mercados e só uma delas é independente e dispensa
condicionalidades".
Seguro frisou que "se houver
um segundo pedido de ajuda", Passos deverá "tirar consequências"
e não terá "perdão" porque significa que "o
programa falhou". Com o semblante carregado, Passos considerou que
"é lamentável que o PS pense em confundir os portugueses". E renovou
o desafio ao líder dos socialistas: "No dia em que quiser fechar o nosso
programa sem populismo e sem demagogia, eu estou disponível para fazer uma
discussão séria”. Por isso, a comunicação social considerou que o
frente-a-frente entre Passos e Seguro foi o momento mais quente do debate
quinzenal.
A dado passo da sua intervenção,
Seguro recordou as afirmações do "ministro do CDS" (Pires de Lima, em
Londres, sobre o programa cautelar que já estaria a ser preparado). Passos
corrigiu: "não é um ministro do CDS. É um ministro do meu Governo". E
até garantiu que a preparação de um programa cautelar não estava na sua mesa,
nem na da ministra das Finanças, nem na mesa das negociações com a troika. Foi
uma tentativa desesperada de interpretar “As pombinhas da Catrina”.
Cruxificado, ainda assumiu pateticamente do cimo do Calvário de São Bento que
está a aguardar o fim do programa na Irlanda para decidir como é que Portugal
vai ter assistência no regresso aos mercados. Além de não saber – confessou-o –
qual será o futuro da economia, está à espera de ver em que param as modas.
Irlandesas.
Foi assim, com esta afirmação –
que deve ser lida segundo o ditado “quem espera sempre alcança”? – que Coelho
deixou uma vez mais no ar a irresponsabilidade de um (des)Governo de putos mal
preparados (e mal educados) quando dizem que não foram eles que tinham ido à
lata dos biscoitos que a mãe tinha usado para impedir, em vão, o furto desses
bolos secos. Porque o roubo que acontece quotidianamente não é de biscoitos. É
daquilo com um cidadão em primeiro lugar usa para se alimentar a si e aos seus:
dinheiro. Por isso estão muitos Portugueses a morrer de fome.
NA – A expressão (des)Governo é de minha responsabilidade