segunda-feira, 28 de outubro de 2013

“Eu não tenho amigos!”

Por Antunes Ferreira
“Ó SR. DEPUTADO, eu não tenho amigos!”,  afirmou Pedro Passos  Coelho, em resposta a Jerónimo de Sousa. “Não admira!”, exclamou de imediato o líder da bancada comunista, num aparte bem audível no plenário. E a oposição rompeu em gargalhadas, o que motivou que Coelho corrigisse logo a seguir, “Eu não tenho amigos… no Banif”. Assim respondia ao secretário-geral do PCP que afirmara que o (des)Governo só tinha mãos largas para os amigos. Referia-se ao estranho caso do BPN. E perguntou ainda se estava “em condições de garantir que os portugueses não vão ser chamados a pagar outro BPN no caso do Banif”.
Coelho não gostou da pergunta do líder do PCP. Mas nos minutos que tinha para responder a Jerónimo o chefe do Governo acabou por não dizer se o Banif já liquidara ou não as tranches das ajudas estatais que recebeu. Teve de esperar até ao final do debate para, com um papel na mão, dizer que o Banif “já devolveu 150 milhões de euros com o primeiro reforço de capital que foi realizado”.
A sessão par(a)lamentar de quarta-feira foi um tremendo desastre para o nosso primeiro. Se quisermos sintetiza-la numa curta frase não será difícil: foi um circo. Com Passos sem compasso como palhaço aparentando ser rico, mas no fundo sendo pobre. De espírito. Os deputados da coligação espúria aplaudiram-no, defenderam-no, mas, pouco, com convicção alegro ma non tropo. Os da oposição riram-se – e não tiveram pena dele. Nem tinham de ter.
João Semedo já o “incomodara”; ou seja, a oposição toureava-o e naturalmente a pseudo serenidade de Passos foi-se esbatendo, chegando ao ponto de ruptura do verniz com que tenta disfarçar as mentiras que diz aos Portugueses. Encostado às cordas sobra-lhe em irritação o que tenta passar de calma e tranquilidade a quem todos os dias é roubado por ele próprio ou pelos seus capangas.
Erro pornográfico
Na sua edição on-line de quinta-feira, como habitualmente, o Expresso publica a coluna Politicoesfera assinada pelo seu titular João Lemos Esteves. Com este não estou de acordo por diversas vezes; mas o seu texto merece-me um aplauso, de tal forma que, se mo permitisse a minha cabeça (e o meu teclado) não teria pejo de o assinar na totalidade. Mas, assim, limito-me a transcrever dois passos dele.
“João Semedo afirmou, ontem no debate parlamentar, que não sabe se o Governo ainda tem tropas - mas certamente já não tem generais. Pois bem, acrescento que o general Passos Coelho nunca existiu e já está praticamente deposto - e as tropas, face à inexistência política absoluta do general (e inexistência, como se sabe, é mais grave do que nulidade política), as tropas - e as melhores tropas - de Portugal continuam a desertar.
(…)

Passos Coelho cometeu um erro pornográfico: afirmou que o Orçamento de Estado para o próximo ano comporta vários riscos. Portanto, já não bastava que o OE tivesse sido elaborado a trouxe-mouxe , nos últimos dias legalmente previstos para a sua apresentação; já não bastava as indefinições e o défice de esclarecimento sobre algumas medidas pré-anunciadas do Orçamento - ontem, Passos Coelho confessou a sua impotência para executar o Orçamento! Já não é um problema da troika. Já não é um problema de gestão política do executivo e a nossa dependência face ao exterior: é um problema de incompetência exclusiva do Governo, pois é o único órgão que tem poderes para aplicar o Orçamento de Estado e garantir a sua aplicação!”
(O destaque em negro é do autor, a quem felicito pelo artigo.
Aliás, aproveito esta oportunidade para referir que parte deste comentário é respigada do “Público” e de outros órgãos da comunicação social. A todos, o meu obrigado)

Entretanto, António José Seguro também entrou na dança. Não falou em eleições, mas não deixou de insinuar a necessidade de chamar os portugueses às urnas caso o país recorra a um segundo pedido de ajuda. O que também irritou Coelho que, na reposta, recusou debater "clichés". E porquê? Porque o líder socialista acusou o (des)Governo de chamar "programa cautelar" ao que na prática não passa de um "segundo resgate". Seguro notou que "existem quatro formas de regressar aos mercados e só uma delas é independente e dispensa condicionalidades".
Seguro frisou que "se houver um segundo pedido de ajuda", Passos deverá "tirar consequências" e não terá "perdão" porque significa que "o programa falhou". Com o semblante carregado, Passos considerou que "é lamentável que o PS pense em confundir os portugueses". E renovou o desafio ao líder dos socialistas: "No dia em que quiser fechar o nosso programa sem populismo e sem demagogia, eu estou disponível para fazer uma discussão séria”. Por isso, a comunicação social considerou que o frente-a-frente entre Passos e Seguro foi o momento mais quente do debate quinzenal.
A dado passo da sua intervenção, Seguro recordou as afirmações do "ministro do CDS" (Pires de Lima, em Londres, sobre o programa cautelar que já estaria a ser preparado). Passos corrigiu: "não é um ministro do CDS. É um ministro do meu Governo". E até garantiu que a preparação de um programa cautelar não estava na sua mesa, nem na da ministra das Finanças, nem na mesa das negociações com a troika. Foi uma tentativa desesperada de interpretar “As pombinhas da Catrina”. Cruxificado, ainda assumiu pateticamente do cimo do Calvário de São Bento que está a aguardar o fim do programa na Irlanda para decidir como é que Portugal vai ter assistência no regresso aos mercados. Além de não saber – confessou-o – qual será o futuro da economia, está à espera de ver em que param as modas. Irlandesas.
Foi assim, com esta afirmação – que deve ser lida segundo o ditado “quem espera sempre alcança”? – que Coelho deixou uma vez mais no ar a irresponsabilidade de um (des)Governo de putos mal preparados (e mal educados) quando dizem que não foram eles que tinham ido à lata dos biscoitos que a mãe tinha usado para impedir, em vão, o furto desses bolos secos. Porque o roubo que acontece quotidianamente não é de biscoitos. É daquilo com um cidadão em primeiro lugar usa para se alimentar a si e aos seus: dinheiro. Por isso estão muitos Portugueses a morrer de fome.

NA – A expressão (des)Governo é de minha responsabilidade

sábado, 26 de outubro de 2013

Andar por aí

Por Antunes Ferreira
PEDRO SANTANA LOPES criou a frase que ficou nos anais da história política de Portugal: “vou andar por aí…” Numa remake deturpada, Aníbal Cavaco Silva, quando confrontado pelos jornalistas para que esclarecesse a sua enigmática declaração sobre a possibilidade de enviar ao Tribunal Constitucional o Orçamento de 2014, afirmou com um sorriso (o que é raro, e os que exibe são no mínimo forçados) que face à questão, pedissem ao ministro Poiares Maduro que elucidasse o que ele, Cavaco tinha querido dizer, pois “ele anda por aí”.
Curiosa esta “delegação de poder para explicar afirmação alheia”. Não consta que a nova “figura política” esteja contemplada em algum código jurídico. Donde, o apelidado Presidente da República que já inventara o façarei e os cidadões, criou agora uma também nova legislação (?) ad hoc. No meio da balbúrdia que grassa nos meios presidências/governamentais – o que é o mesmo -, esta sentença é, realmente, inesperada, mas simultaneamente sintética, concisa e clara. Muito obrigada, Senhor Professor Doutor.
De homens como este, sábios, brilhantes, cultos, dialogantes, inspirados – quiçá pela Senhora de Fátima e pela sua (dele) caríssima esposa – carece este País. Porém, felizmente, eles emergem das águas mais revoltas; para ser mais específico, ele emerge. Sem margem para dúvidas, Cavaco emerge, contrariando assim os que afirmam que imerge. Arquimedes enunciou que "Todo o corpo mergulhado num fluido em repouso sofre, por parte do fluido, uma força vertical para cima, cuja intensidade é igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo."
Aliás, é bom que não se esqueça a sua deslocação às Desertas, a fim de visitar as cagarras. Ainda que em navio da Armada Portuguesa ele nunca imergiu. Fá-lo-ia talvez se tivesse utilizado um dos submarinos que Paulo Portas “arranjou”; mas não foi esse o caso. E sem pretender abandalhar este escrito, poder-se-á dizer que o Senhor Silva também não emergiu; não andou sob as águas do mar revolto, mas sim, sobre. Está-se, portanto, perante um émulo do Cristo. O mais alto magistrado da Nação – expressão utilizada, como é sabido, nos tempos salazarentos, mas que a Cavaco se aplica como uma luva – tem, pois, uma aura divina. E apóstolos.
Relembra-se aqui o episódio evangélico do caminhar sobre as águas, protagonizado pelo filho (?) do carpinteiro e pelos doze discípulos que o acompanhavam habitualmente. Conta a estória (que não se pode confirmar por não existir documento comprovativo) que o Nazareno recomendara à dúzia que o seguia, “Tende fé, camaradas, e andareis sobre as águas” – ressalve-se o termo aqui utilizado, que pode ser substituído por amigos - que nesse caso eram as do mar da Galileia. 
Em abono da verdade – e antes de concluir o ocorrido – há que dizer que uma outra versão do milagre foi relatada por Mateus (14:22-33), Marcos (6:45-52) e João (6:16-21). Mas, para o caso, há que retomar o que se vinha relatando. Evangelhos há muitos; pelo menos quatro; mas se contarmos com os apócrifos, que se diz serem cinco a coisa toma outro perfil e, bem entendido, outra dimensão. Adiante.
Os treze intérpretes do suposto milagre começaram, então, a caminhar sobre as águas, com os doze acólitos maravilhados e, ao mesmo tempo, espantados com o feito. Perdão, a dúzia, não; os onze. Isto por que Judas Iscariotes começou a imergir. Já preocupado, ele bateu no ombro de Filipe que o antecedia, solicitando-lhe que passasse palavra a fim de que o Mestre soubesse que ele, Judas, já tinha OH2 pela cintura.
Assim se fez; e o Senhor, voltou-se para Pedro que o seguia uns passos atrás e disse-lhe que, segundo em caminho inverso ao que se verificara, fosse acentuado a Judas que tivesse fé e andaria sobre as águas. Mas, quando a informação chegou ao Iscariotes, este já tinha água pelo peito. E de novo, o caso repetiu-se, com a transmissão oral – que me seja permitida a expressão um tanto pecadora, em linguagem politicamente correcta e usada em campanhas eleitorais, boca a boca.
Quando já estava imerso até aos primeiros pelos da barba, o apóstolo e futuro bufo repetiu o apelo. Este chegou a Jesus que, entre o preocupado e o irónico, respondeu a Pedro: “pronto, não se fala mais nisso; ensinem-lhe a localização das pedras. Estas sim, estas emergiam. Passe o anedótico da estória, há que reconhecer que ela tem algum fundamento: não se deve acreditar nem na própria sombra. Si non e vero, e bene trovato.
Voltando à expressão utilizada na política nacional, o andar por aí já ganhou foros de consagrado de tão repetido. A única dúvida que subsiste consiste em tentar saber que o próprio Cavaco não entendeu o que antes afirmara. O que é absolutamente natural nele, até mesmo com laivos de patológico. Mas o ministro Maduro baldou-se: ele também não entendeu. Apesar do apelido, ele está ainda muito verde.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Em 2014 não baixarão os impostos


Por Antunes Ferreira

VEM AÍ outro orçamento rectificativo para o ano em curso, afirmou na quarta-feira Pedro Passos Coelho na RTP, durante a primeira emissão do novo programa O País pergunta. Isso permite, referiu, que através dele poderão ser introduzidas “novas condições de competitividade fiscal”. E apesar das perguntas feitas por vinte cidadãos presentes no estúdio não especificou quais eram essas “novas condições”.

Mas fez uma afirmação respondendo a pergunta posta por uma empresária da restauração que naturalmente queria saber se e quando baixaria o IVA a 23% para o anterior a 13%. Apesar de ter informado que a questão ia ser objecto de análise nos Conselhos de Ministros de ontem e extraordinário de amanhã, domingo, sublinhou que não queria “alimentar essa expectativa.

Se nos detivermos em pormenor no que afirmou neste particular, repararemos que Coelho teve a desfaçatez de sublinhar que o problema não diz respeito apenas ao valor do imposto, mas sim porque “as pessoas não têm dinheiro para ir ao restaurante”. Porém, num rasgo de bondade complementou que que o Governo espera que, tendo em conta a tendência de estabilização da economia, “uma parte das pessoas que deixaram de ir ao restaurante possa progressivamente retomar” [esse procedimento]. Isto porque a economia está a estabilizar e a procura interna está praticamente a estabilizar.”

Mas também afirmou que em 2014 não haverá diminuição dos impostos. Porém não disse se estes iam em contrapartida aumentar. Muito mais disse Passos Coelho, mas um tema mais foi abordado, quando respondeu aos jornalistas à saída do estúdio que lhe referiram o problema levantado por Rui Machete, o ministro dos Negócios Estrangeiros, em especial com o pedido de desculpas a Luanda. Com desplante a sua afirmação foi um espanto. Não houvera “nada de grave” no procedimento do ministro.

Misturou uma falsa humildade quando reconheceu que a classe média é a mais prejudicada com as medidas tomadas para combater a crise, em resumo, com a austeridade que, no seu entender é necessária para pagar aos credores aquilo que nos emprestaram. Um (des)Governo honesto tem a obrigação de cumprir o combinado para se alcançar esse objectivo. Pelo que disse é preciso salvar a Nação e os cidadãos mesmo que ela e eles não queiram ser salvos.

Foi um chefe do (des)Governo que se apresentou ufano da “retoma da economia” mas que, bem vistas as coisas, foi verdadeiramente patético. As fintas que usou face às questões mais incómodas não são próprias de um primeiro-ministro. Realisticamente, o programa serviu-lhe para propagandear o que o seu (des)Executivo já fizera em prol da Pátria e dos cidadãos vítimas dos erros enormes cometidos por aqueles que o tinham antecedido. Apetece perguntar se o que disse é  “a sério” e se esta postura é “irrevogável”. E perguntar se se referiu aos Governos do primeiro-ministro Cavaco Silva. É que eles foram também culpados desses erros enormes.

Ter-se-á tratado de mais umas quantas mentiras de um mentiroso crasso? Ter-se-á referido à honestidade da quadrilha que diz que nos governa, mas que na realidade nos (des)governa. Como pode ser honesta um (des)governante que deita para o lixo as promessas que fez na campanha eleitoral para chegar ao poder? Como pode ser honesta uma entidade que permite ditos e desditos em cadeia dos titulares dos seus ministérios?

Como acreditar num ministro – e não é preciso relembrar as trapalhadas relvadas – que depois de ter mentido quanto às qualificações estudantis, até foi premiado com um tacho soberbo? Como se interrogar sobre a Ministra Maria “suópes” Luís Albuquerque que usou mentiras sobre mentiras no Parlamento e ainda se mantém à frente do Ministério das Finanças?

Se a honestidade é isto, bem a podemos comparar com uma peça que é uma farsa – Ali Babá e os 40 ladrões. E na qual somos espectadores enfiados temerosamente nas cadeiras de pau e desconjuntadas de uma plateia amorfa. Mas que honestidade é esta que o (des)Governo interpreta à boca de cena, sem necessidade de ponto?

Alto lá. Sem necessidade de ponto não é verdade. Porque o ponto de interrogação e o de exclamação são inevitáveis- pois existem e têm de ser usados. Porque o ponto principal está metido na sua caixa, o palácio de Belém. Com a ajuda da Senhora de Fátima que ele invocou ao dirigir-se aos “cidadões” e que afirmou que nunca mais “façaria” coisas que lhe parecessem complicadas como a sinistra avaliação. Como por exemplo a sua intervenção, digo eu, no escabroso caso do BPN.

Seja-me permitido recordar que Portugal ( só mais dois países, a Irlanda e a Espanha) apresentou a Berlim as condolências pela morte de Adolfo Hitler. Mais: Salazar mandou colocar a bandeira nacional a meio mastro por motivo do “infausto acontecimento”. Foi então que o Senhor Winston Churchill respondeu ao seu MNE, Antony Eden num memorando com a típica arrogância britânica misturada cum um pouco do humor que o caracterizava. Pelo seu conteúdo, transcreve-se aqui um extracto desse documento.

“Creio que seria mais sensato deixá-los (os Portugueses) continuar a brincar e não sermos demasiado duros com eles (…) Afinal de contas, quando se é um aliado há mais de quatrocentos anos, há que ter permissão para andar de vez em quando por aí à deriva, conforme os caprichos. Devo tratá-los como se fossem crianças amorosas que fazem caretas absurdas”  (Gabinete do Primeiro-Ministro, 10 de Maio de 1945)

Chega? Chega.

sábado, 5 de outubro de 2013

Putin 1 – Nobel 0 (?)

Por Antunes Ferreira
LÊ-SE – e não se quer acreditar; mas tem-se de o fazer perante os textos distribuídos pelas agências noticiosas. Vladimir Putin foi proposto para o Prémio Nobel da… Paz. A proposta foi anunciada na terça-feira passada pelo presidente da Academia Internacional da União das Nações do Mundo pela voz do presidente da instituição, Gueorgi Trapeznikov.
A bem da verdade, nunca se tinha ouvido falar desta Academia cujo nome se afigura, no mínimo, incongruente. Se ela é Internacional, para quê a União das Nações do Mundo? Ou será que esta última precisa de ser internacional para que seja conhecida? E num Mundo em que as guerras, os atentados, os golpes de Estado, a confrontação, será que é possível falar nessa união de todas as nações? Ou serão “quase” todas?
A ser assim, ter-se-á de mudar a designação da Academia? Cuidado. O presidente da Associação sedeada em Moscovo – pois que outra haveria de ser? – o senhor (ou talvez ainda seja “camarada”) Trapeznikov não esteve com meias medidas, afirmando que "Conhecemos bem o papel pacificador que desempenhou o nosso presidente em zonas conflituosas". E deu o exemplo do caso sírio. Pronto, já está.
Aliás, e para que não se verifiquem quaisquer mal entendidos, a carta - para efeitos da candidatura do presidente da Rússia –já foi enviada à Comissão Nobel, mais precisamente a 16 de Setembro tendo sido acusada a sua recepção a 20 do mesmo mês. O processo arrancou, portanto. E quem o transmite é a agência noticiosa oficial ITAR-TASS.
Cabe aqui um esclarecimento: a TASS era a abreviação de Telegrafnoie Agentstvo Sovetskogo Soiuza, ou seja a Agência Telegráfica da União Soviética que foi a agência de notícias soviética oficial, de 1922 a 1991. Mas como o nome TASS era muito conhecido, ele foi posteriormente adicionado à sigla ITAR, ficando agora como a   Telegrafnoye Agentstvo Svazi i Soobshcheniya, o que quer dizer  Agência Telegráfica de Comunicações e Reportagem.
Sem desprimor, foi mais ou menos o que aconteceu quando Marcelo Caetano chegou ao poder depois da queda do “mais belo dos ditadores europeus”, epíteto com que um veterano oficial britânico mimoseou Salazar no princípio da II Guerra Mundial. A União Nacional foi transformada na Acção Nacional Popular, a PIDE mudou para Direcção Geral de Segurança e por aí adiante.
Por singular coincidência – finalmente elas existem… - o ministro Crato, garantiu há dias aos reitores das universidades públicas portuguesas que a intenção de criar um novo sistema de autonomia reforçada, já anunciado, levaria em linha de conta "o que as universidades-fundação já conseguiram". Não há mudança, a não ser na designação. Resumindo: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades? Não, mudam-se os nomes para ficar tudo na mesma, na paz do Senhor.

Vladimir Vladimirovitch Putin  é o actual presidente da Rússia, depois de um jogo de cabra-cega com Dimitri Mdvedev. Enquanto Putin foi presidente, Medvedv era primeiro-ministro; depois inverteram-se as funções entre os dois. E agora voltou tudo à primeira forma. Curioso. Mas, Putin foi agente e chefe dos serviços secretos soviéticos, KGB, e após a queda da URSS, ainda foi o patrão da FSB, que substituiu a sua antecedente. Uma espécie de jogo das cadeiras. 
A KGB, como se recorda, tinha a sua sede na Praça Lubianka em Moscovo, e por isso a polícia secreta ficou conhecida pelo mesmo nome. Ficou tristemente “famosa” pelas milhares de mortes e brutais interrogatórios realizados no seu subsolo; mas também foi o laboratório da criação de venenos do governo, que fizeram algumas das vítimas mais conhecidas dos regimes dos ditadores Estaline e Brejnev.
É este mesmo Putin que foi proposto para o Nobel da Paz. Por uma organização a respeito da qual o seu porta-voz, Dmitri Peskov, disse que desconhecia as pessoas que tinham feito a proposta e se essas pessoas tinham as "necessárias faculdade" para o fazer. Aliás, ainda acentuou que "Putin não é partidário de receber condecorações ou prémios. É, sim, partidário de encontrar satisfação conseguindo resultados com o seu trabalho".
Os proponentes, entretanto, aquando da comunicação da proposta, tinham sublinhado que se o Nobel da Paz fora já atribuído a Obama, mais do que razão para que fosse dado a Putin. Lógica irrefutável. E irrevogável.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A derrota do Coelho, a vitória do Seguro, o surgimento dos homens livres e um misterioso desaparecimento


Por Pedro Barroso

O POVO falou ontem e explicou bem que, apesar de não lhe apetecer muito, lá foi aparecendo e dizendo que quer outra coisa.
Claro que o braço fiscal da Merkl tinha de sofrer as consequências e Seguro estava sempre seguro disso. Ganharia sempre. Era claro que sim. Portas, o rei da ubiquidade, conseguiu perder e ganhar ao mesmo tempo. O Governo afunda-se mas já mostrou não ter vergonha na cara; já nada espero destes senhores, para não lhes chamar garotos.
Agora há um problema que me merece uma análise especial.
O António, a Pipas e o Bernardo estão tristes. O BE desapareceu.
Ocupados como estavam com as respectivas questões maiores de suas vidas, foram acreditando que tal força lhes acabaria por resolver os diferendos entre as coisas do quotidiano e a política, numa intervenção sagaz, mas sonhadora, pratica mas flexível, socialista mas com estilo próprio.
Tão distraídos andaram, que nem se deram conta que já saíram devagar os homens inteligentes que fundaram tal ideia e a tornaram eventualmente em tempos, uma lufada de ar fresco na política, incisiva e argumentativa, sabedora e autorizada, diferente.
Vejamos. António militava no sector ecológico e absorvia-se diariamente com os urgentes problemas dos linces da Malcata e de Silves. Ultimamente entrara em empenhado mestrado sobre o stress traumático das gaivotas ribeirinhas, após verificar os numerosos atropelamentos das graciosas aves no Terreiro do Paço e Cais Sodré.
A Pipas era uma militante de primeira hora. A causa feminista preenchia todo o espectro da sua actividade cívica e não só. A privada também. Embora puxe a barba nos braços e na cara com navalha, para aumentar a pilosidade, usa corte de cabelo à homem, curto; fala com palavrões e profere insultos ao volante. A sua feminilidade equivale à do senhor Lopes do talho e foi uma lutadora desde sempre pelo casamento lésbico, pena até agora não se ter ainda fixado o suficiente numa parceira para que isso lhe pudesse acontecer.
O Bernardo é um ser vocacionado para a arte e a performance. São conhecidas as suas obras de plástico ornamental, bem com os concertos para almofariz e tuba, muito aplaudidos por todos os amigos reunidos na sala, em número de dezassete, um dia, em Braço de Prata.
O Morais, ex militante da UDP, em tempos que já lá vão, anda furioso, pois isto só lá ia mas era à cacetada; e olhando à sua volta não vê pessoal que queira andar à porrada nas ruas impondo a evidente razão das suas perspectivas.
O Antunes apela ao bom senso dos camaradas no sentido de uma esquerda organizada evoluída e sensível, que saberá sempre fazer a diferença dos grosseiros e cristalizados comunistas, e terá sempre espaço político - excepto se não tiver e se devorar a si mesma.
Rosalina, militante distraída durante o Verão, ajuda na limpeza das praias, mas continua a acreditar que o que é urgente mesmo para o país é dar águas limpas à truta do rio Ave e combater a poluição no Sousa, pois só assim as pessoas poderão encontrar emprego na região.
Já o Ricardo, sindicalista, acha que não, e que é preciso primeiro empregar as pessoas e depois, sim, ir limpar os rios e puta que pariu os efluentes e a Rosalina.
Resultado: os militantes BE estão tristes, derrotados, impotentes e não se entendem. Habituados a causas delicadas e sensíveis, coisas evoluídas e de bom gosto, acontece que a troika trouxe-nos problemas grossos - um Estado que rouba, reformados que são assaltados, impostos cruéis, um Governo desgovernado e mentiroso. E a coisa não se remedeia com a aprovação da adopção para o casamento gay, nem com a reconstrução da linha do Tua.
Habituados a bordar, agora é preciso rasgar, romper. Habituados a apanhar folhas, agora é preciso cavar. Política agora, por assim dizer, tem de fazer-se de tractor. E para tal propósito que haverá melhor que o velho, absolutamente inefável, mas sempre confiável Partido Comunista Português, com seus valores tipo Condado portucalense, foice e martelo, avante camaradas, internacional e tudo isso, caramba? Um luxo! Viu-se ontem; meio Portugal vermelho, ao bom estilo 25/4. Ora bem.
Quanto a mim os dirigentes nacionais do BE não souberam explicar-nos afinal, na prática, qual a diferença, no verbo e no voto com o PCP. Não quiseram – ou quiseram mas não souberam…- construir a Grande Esquerda Unida que sonhara Louçã. Mantiveram uma direcção bífida e mista, suponho que mais para respeitar a paridade sexual que outra coisa. Mantiveram o pensamento em bloco - infeliz e vaga expressão para tão dispersa e afastada gente. Não souberam entender nem facturar, apoiando as candidaturas independentes - aos milhares - que por toda a parte surgiram pelo país.
Essas foram, aliás, as grandes vencedoras de ontem. Essas sim, de gente livre que não deve nada a ninguém e se desiludiu há muito, por não ver saídas nem rotas de alcançar que não seja irmos, agarrarmos no Futuro e fazê-lo por nossas próprias mãos, com os erros possíveis e as glórias possíveis, mas num acto de desespero e esperança ao mesmo tempo.
A responsabilidade está em nós.
Os partidos estão falidos. De ridículo, de ideias e de credibilidade.
Houvesse candidaturas livres a deputados nas Legislativas e veríamos a hecatombe…