domingo, 30 de novembro de 2008
ONZE MESES
sábado, 29 de novembro de 2008
Uma teoria dos tomates
Por Antunes Ferreira
A AMIZADE NÃO SE COMPRA nem se vende. Vive-se. E os Amigos não são bons nem maus. São apenas e só Amigos. O resto é conversa para encher pneus, como dizem os Brasileiros. Os Amigos são, também e ainda, para as ocasiões. Alto lá. Não se veja aqui qualquer intenção exclusivista, não se infira oportunismo, muito menos calculismo. Não é que eu seja um anjo celestial. Ninguém ainda me encontrou com um par de asas. De ases sim, mas noutras ocasiões.
Sempre considerei, considero e continuarei a considerar que uma das melhores coisas da vida são os Amigos. Uma minúscula parentética: não me vou repetir no patético e as Amigas. A generalidade diz-me que me fique pela expressão uni – Amigos. Diz-se, a propósito ou a des, que quem tem filhos tem cadilhos. Com o, para que não haja mal entendidos, nem bancos envolvidos. Negócios à portuguesa. Mas também se afirma que quem não tem Amigos morre mouro. Inch’Allah.
Num destes dias de sol radioso e com o frio a apertar, amesendei-me com um desses Amigos que a gente usa para dar como exemplo aos outros, de preferência, Amigos. Amigalhaço, na verdadeira acepção do vocábulo, daqueles de aperto no pólo sul da orelha, um gajo bué da fixe, na expressão que os netos me inculcaram. Almoço a condizer, bebidas a condizer, má-língua a condizer.
Estes repastos são pasto para tudo, salvo seja. Principalmente para o dizem e mais especificamente, deste ou daquele figurão. Grandes revelações acompanhadas, de preferência de um bom uísque irlandês, que nestas coisas não sou de modas. Ele é mais gin tónico. Mas são estas diversidades de gostos e de opiniões e de coscuvilhices caseiras que imprimem aos encontros bilaterais. Está na moda usar o termo, logo aqui o pranto. Sem pranto.
Ratar, na verdadeira acepção da ratice, entre duas garfadas – é excelente. Entre dois goles – excelentíssimo. Se fosse com o Zé Cardoso Pires havia que acrescentar dinossauro. Divagações perante uns secretos de porco preto, ainda que um tanto discriminatórias, têm um especial sabor. As divagações e os segredos do ex-suíno de Barrancos, está visto. Em frente, que já aí vem um pudim do tal abade de Priscos, que não se vos diga, se vos conte.
Inopinadamente (estes termos são quase sempre motivo de mofa, eu sei; mas também calham que nem ginjas para mostrar a erudição do autor, antes do Acordo) desfechou-me o dito cujo: sabes, ando a congeminar e penso que descobri no mais recôndito do meu ser, uma teoria que, quiçá, apresentarei na Academia. A medo e um tanto intrometido, interrompi-o: de Alcochete? Ele não se impressionou com o ponto de interrogação. Não, meu. A outra. Sem trunfos, passei.
Ouve com atenção. Eu era todo ouvidos. Orelhas, é mais o Vieira. Penso, estou quase seguro, que no cérebro possuímos uma substância que até à data ninguém sonhava que existisse. Ela está na origem da calvície. Porém – nesta altura já eu saboreava um guardanapo ensalivado, ao arrepio de qualquer protesto das papilas gustativas, tal a minha concentração e, até uma ansiedade crescente – porém, repetiu o meu Amigo. Homessa!?
O problema está na correlação. Na correlação? Pois, menino, na interdependência, no princípio dos vasos comunicantes. Não resisti a uma tal comunicação. É esse o busílis da questão. A substância ainda sem nome de que falava, sussurrou, tem, como tudo na vida, um nexo causa efeito que não sei até onde me levará. E?...
Olha: à medida que a cabeça vai ficando a caminho da bola de bilhar, a brilhar, o que acontece simultaneamente é que os testículos vão mirrando, mirrando, mirrando. Estás a ver, pá? É uma grande porra! Era. Eu até estava agoniado da dor me se me infiltrara nas virilhas. Uma coisa, passe a dislexia, dos tomates! Mas, porque não paras? A ciência, meu rapaz, a ciência. Para que o progresso avance a ciência, os conhecimentos, enfim isso tudo e mais umas botas, também avança. A aspirina, sem a guerra, não seria.
Pasmei. E, pelo sim, pelo não, abandonando o guardanapo a caminho da deglutição, olhei em volta para ver se nas mesas adjacentes algum calvo tinha ouvido a explanação, no receio, aliás legítimo, de reacção próxima da sevícia. Tudo impávido e sereno, incluindo o empregado da mesa que, honrada e galhardamente, nos inquiriu se estava tudo bem e de sobremesa?
Decidi que o suplício não passaria sem o abade do pudim. Digo, vice-versa. Não havia, mas sim uma sericaia com ameixa de Elvas. Era uma proposta alternativo-aliciante. Que viesse. Veio. O resto já não conta, nem vos conto. Só acrescento que, à saída, em passeio compassado para ajudar o quimo e, talvez mesmo o quilo, fui congeminando que a teoria do meu Amigo podia, no mínimo, ter a dimensão de um tsunami à enésima potência. Só um exemplo: que seria do dito tão nosso e popular – é dos carecas que elas gostam mais?
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Costa e o Caos
Em breve será um dos Prémios António Costa
Já é um dos Prémios António Costa
Av. Guerra Junqueiro
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Estacionamento para ambulâncias, SEMPRE ocupado por carros particulares.
Em breve será um Prémio António Costa
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Em breve será um Prémio António Costa
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Praça de Londres
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Praça de Londres
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Nem um único funciona.
Em breve será um dos Prémios António Costa
Em breve será um dos Prémios António Costa
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quinta-feira, 27 de novembro de 2008
O 1.º prémio vai para 'ART' (1590g, erro de 6g)
O 2.º prémio vai para 'Marco' (1600g, erro de 16g)
Pede-se a ambos que, nas próximas 48horas, escrevam para sorumbatico@iol.pt. ART deverá indicar qual dos 5 livros prefere, e Marco deverá indicar dois, por ordem decrescente de interesse. Ambos deverão, também, indicar morada.
Obrigado a todos!
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
A inútil declaração
terça-feira, 25 de novembro de 2008
No liceu, há 50 anos
Não me lembro do nome, mas nunca hei-de esquecer a sua voz mansa, o cabelo todo branco (embora ainda fosse nova), o casaco comprido castanho, e a malinha enfiada no braço.
Tinha vindo de outra escola, e também não aqueceu ali o lugar: eram tempos complicados, e pensar pela própria cabeça ( e — pior do que isso — pôr os alunos a pensar pela deles) pagava-se caro.
Nunca soubemos o que lhe aconteceu. Como na cantiga, “às duas por três chegou/ às duas por três partiu”.
A primeira vez que entrou na nossa sala de aula, olhou para todas como se não soubesse o que havia de nos dizer.
Depois abriu a malinha.
Da malinha tirou um livro.
Um livro muito pequeno, de uma colecção chamada “Miniatura”.
Voltou a olhar para nós, abriu o livro e começou a ler.
Era uma história estranha, que se passava numa terra que nem sabíamos onde ficava, uma história onde não havia mulheres a apaixonarem-se por homens que não lhes ligavam nenhuma, ou exactamente o contrário, como nos romances da “Biblioteca das Raparigas”, que habitualmente líamos.
Era a história de uma terra aparentemente normal onde, de repente, começavam a aparecer ratos mortos, muitos ratos mortos.
E, depois dos ratos mortos, começaram a morrer pessoas, muitas pessoas, até que alguém ordenou que a cidade fosse fechada.
Foi assim que nós, meninas de 15 anos, num liceu lisboeta no Portugal salazarento de finais dos anos 50, nos apaixonámos todas pela “Peste” de Camus.
A seguir à primeira leitura, ela explicou-nos quem era o autor, que terra estranha era aquela Oran onde tudo se passava, e disse-nos que estivéssemos sempre com muita atenção, porque às vezes as histórias tinham de ser entendidas para além das palavras.
Nos outros dias tudo se processava da mesma maneira: entrava, abria a malinha, tirava o livro, “ora vamos lá ver onde ficámos da outra vez”— e lia.
Sem floreados, sem “powerpoints”, sem “Magalhães”: a sua voz e mais nada.
Cinquenta minutos depois, a campainha tocava, ela fechava o livro, metia-o na malinha, e saía.
E nós saímos da sala meio atordoadas, com a sensação de sermos muito mais adultas. E, no recreio a seguir, nunca tínhamos vontade de falar.
Não, evidentemente que “A Peste” não fazia parte do programa!
E as aulas que ela nos dava não eram de português, ou de francês, ou de outra disciplina curricular.
Acontecia apenas que tínhamos duas professoras que faltavam muito.
E ela vinha, pura e simplesmente, dar-nos aulas de substituição.
Actualização: se esta crónica receber 8 comentários (ou mais), haverá um 2.º prémio. O vencedor poderá escolher o livro atrás referido, de Carlos Ceia, ou «A Peste», de Camus; o 2.º classificado ficará com o outro.
Prémios do passatempo Alice Viera de 29 Nov 08
O JÚRI considerou que os 2 melhores comentários feitos à crónica de Alice Vieira foram, afinal, 3: os de ART, Musicólogo e António, mas não os conseguiu ordenar!
Arranjou-se, então, um prémio suplementar, e a atribuição far-se-á assim:
Esses 3 leitores deverão, NESTE MESMO post e a partir deste momento, indicar qual dos 3 livros preferem, sendo os pedidos atendidos por ordem de chegada. O 3.º a responder ficará, logicamente, com o que os anteriores não quiseram.
NOTA: O processo deverá ficar concluído nas próximas 48h, incluindo a indicação de morada para envio (escrever para sorumbatico@iol.pt).
"Regulador automático de filas de carrinhos de supermercado"
Poluição Sonora
Ao princípio, enquanto os carrinhos estão a ser retirados dos locais de depósito, os clientes equilibram automaticamente o comprimento das filas — cada um, preguiçosamente, retira o carrinho que está mais perto de si, ou seja, o que está no final da fila maior. Assim, os comprimentos das filas tendem a ser reduzidos em paralelo. Quando os primeiros clientes voltam e o ritmo de retorno dos carrinhos aumenta, há filas que crescem muito e outras que ficam pequenas. A preguiça dos clientes leva-os agora a depositar os carrinhos na fila maior. E quanto maior for a fila mais tende a crescer.
O problema tem sido estudado matematicamente e sabe-se que apenas ao princípio do dia o sistema tende a um equilíbrio. Nessa altura, corrige-se a si próprio — é estável. Quando o ritmo de depósito aumenta um pouco, torna-se divergente ou instável, como se diz.
No corpo humano há muitos sistemas que se regulam a si próprios, mas alguns são divergentes. Quem passa muito tempo com auriculares nos ouvidos, ouvindo música muito alto, não só aborrece quem está ao lado, no café ou no autocarro, como pouco a pouco começa a ter problemas de audição. Isso fá-lo ouvir a música mais alto, o que ainda provoca mais problemas. O mesmo se passa com as «aparelhagens» aos berros nos carros, que não só perturbam quem está nas redondezas como vão ensurdecendo os ocupantes, que vão precisando de berros cada vez mais altos, que cada vez mais os ensurdecem e ainda mais incomodam os outros. O sistema é divergente.
Há tempos, considerava-se a perda de audição como um problema exclusivo dos idosos, mas hoje sabe-se que essa perda é sobretudo resultado de exposição exagerada ao ruído, tanto nos níveis como na sua duração. Relatórios recentes da Comissão Europeia revelam perdas de audição em níveis assustadores nos jovens, em resultado de elevados níveis sonoros durante períodos prolongados.
As ondas de som chegam ao nosso ouvido interno amplificadas cerca de 20 vezes, depois de terem sido recolhidas pela orelha e concentradas pelo ouvido médio. A pressão dessas ondas transmite-se à cóclea, um canal em forma de caracol preenchido por um líquido que activa as células ciliadas, uma espécie de pêlos que originam os impulsos nervosos. Sabe-se hoje que os ruídos extremos ou continuados vão matando essas células, que não são substituídas. São percas permanentes, que vão prejudicando a audição.
Portugal, segundo a Organização Mundial de Saúde, é um dos países que mais sofrem com o ruído numa outra vertente ainda — a psicológica. O ruído prolongado causa inquietação e distúrbios no sono. Calcula-se que os problemas de saúde resultantes provoquem mais mortes que a poluição do ar. O pior de tudo isto é que o sistema não se regula a si próprio. Quanto mais surdos houver, mais os outros ensurdecem.
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NOTA-1: Este texto é uma extensão do que está publicado no Sorumbático [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.
NOTA-2 (CMR): Ver [aqui] como o problema pode ser facilmente resolvido.
domingo, 23 de novembro de 2008
DA BOA OU MÁ CRIAÇÃO
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«DN» de 23 de Novembro de 2008
NOTA-1: vídeo com as palavras referidas no início desta crónica - ver [aqui]
NOTA-2: Este texto é uma extensão do que está publicado no Sorumbático [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.
sábado, 22 de novembro de 2008
Passatempo "Rififi"
Como ir do C. C. das Amoreiras para a Byblos...
A desafinação nacional
São os danados dos chips, são sim senhor, que deram cabo do que era inatacável. Há quem diga mesmo que nos dias que vão correndo os registos sonoros, de tão aviltados, distorcidos, desmotivados, só justificam a rouquidão em treinadores de futebol no final do jogo – ou em animadores de manifestações, ao volante de veículo dotado de altifalantes condicentes com.
Outro: a operação Fair Play. Detonada a ocorrência, veio a Procuradoria Geral da República informar que «foi possível recolher prova para indiciar os arguidos, que se organizaram no âmbito da claque de futebol denominada No Name Boys, pela prática de vários ilícitos criminais, designadamente dos crimes de associação criminosa, posse e tráfico de armas de fogo, tráfico de estupefacientes, ofensa à integridade física qualificada, roubo, incêndio, explosões e outras condutas violentas especialmente perigosas». E mais. O texto da PGR veio sublinhar a acção da polícia face à «firme determinação de combater o sentimento de impunidade existente em alguns sectores da sociedade portuguesa, sejam eles quais forem, o que só poderá resultar de uma eficaz articulação entre o Ministério Público e todos os órgãos de polícia criminal, como vem sendo incentivada». Neste particular, esta voz é quase semelhante à da Callas. Boa, excelente.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
A Quadratura do Circo - Carta Aberta a Carlos Queiroz
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Meu querido e bom amigo
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Eu avisei-te a tempo. Não ouviste.
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Isto do Futebol depende de toda a tua ciência e de todo o teu estudo, mas também da inspiração do momento e da cabeça fria. A dos dirigentes, do público e dos jogadores. Coisa que, como sabes, há muito pouco em tal mundo à parte. E ainda doutra coisa terrivelmente pragmática - as bolas que entram ou não nas balizas do adversário.
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Que, por sua vez, também é feito de gente, e, por isso, também está a viver o mesmo drama.
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Devo ter sido o único português, segundo lembro, que te disse - em tempos de colegas na Escola de S. João do Estoril, lembras-te? - que te dedicasses a alguma matéria mais pura e inocente, mais cientifica e menos humoral, mais pedagógica e menos brutal.
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- Futebol, Carlos!? – disse eu – tu vais-te especializar em futebol?!
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De facto. Bom aluno e estudioso, podias ter sido um investigador da Fisiologia do esforço, da Metodologia do Treino físico, das virtualidades psicossomáticas por influência do anel gama no tecido muscular estriado, dos mecanismos do gesto ao pensamento e vice-versa. Coisas assim, que este povo não entende. Quer golos. Obviamente.
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Sendo José Augusto seleccionador nacional, precisava de um teórico; um talento com capacidade, conhecimentos e verve para dar a cara. E escolheu-te, pouco depois, para as camadas jovens, onde tiveste o privilégio de deparar com uma geração de ouro de Paulos Sousas, Figos, Joões Pintos, etc. Num pulo, foste campeão do Mundo duas vezes de seguida e maior curriculum não era possível, nem de encomenda.
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Já no futebol profissional, rodearam-te e fizeram-te a cama, quando timidamente comandaste o Sporting, onde percebeste como eram as coisas no mundo dos clubes, saindo depois para uma viagem sem fim, que fui acompanhando de longe - eu músico, tu treinador de futebol - desde a África do Sul, a Américas, Japões, coisas assim.
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Um dia encontrámo-nos no aeroporto e falámos, como se o tempo não nos tivesse afastado e ainda compartilhássemos a mesma secretária. E avisei-te, mais uma vez, como colega mais velho e amigo. Tem cuidado com o Futebol.
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Quando tentaste o Real Madrid, senti que ias meter-te num ninho de víboras e chacais, e que a coisa ia dar para o torto com tanta prima-dona. Mais uma vez, estava certo. Voltaste ao ninho chuvoso de Manchester de asa caída.
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A apetência de ser o Treinador deste país era forte e, se bem que da primeira vez a coisa não fosse brilhante, agora havia Decos e Ronaldos, Nanis e Ricardos Carvalho. Uma tentação.
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Mas os miúdos ricos são quase sempre temperamentais e parvos no momento das grandes escolhas e prioridades. Na vida, e em campo. Torna-se difícil motivar uma manta de retalhos de gente tão vãmente e tão pré-matura-mente idolatrada. E tu lá vais arcando com resultados infelizes, numa espiral sem fim, de infelicidade e descalabro. E o Portugalzito está a jogar cada vez pior, sem alma nem entrega, nem velocidade, nem engenho, nem teia estratégica, nem fogo, mesmo contra dez heróicos albaneses. Desculpa, Carlos, mas tens de ser mais duro. Chicoteia o templo, como fez o outro.
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E mais uma coisa: As vedetas, sejam quais forem, assim, a fazer teatro para a galeria e a terem birras de meninos mimados, não podem ser capitães, de braçadeira ao peito. Capitão? Aquele miúdo? Por muito extraordinário que fosse – e, ao serviço da selecção, não é, ou não tem sabido ser… - dar-lhe aquela braçadeira histórica é, além do mais, ofender todos os outros.
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Que tem ele a mais que os colegas mais internacionais e, logo, mais logicamente indicáveis? É capitão, afinal, porquê?! Eu, se fosse Simão ou Maniche ou Nuno Gomes ou Deco, ou fosse lá quem fosse, pensava isso. Justamente. “Se tenho mais internacionalizações e não sou capitão, é porque o acham melhor que eu”. Isso desestabiliza e irrita. E ele, com todo o vasto repertório de cabriolas inúteis e rodriguinhos para a bancada ainda não o é. Ponto.
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Capitão, aquilo?! Coluna era um Capitão!!! Respeito e saber. Trapio, como se diz dos touros de lide. Ordem na casa. Disciplina. Tarimba. Autoridade. Cabeça fria, mesmo quando todos os outros a perdem. Capacidade de comando natural. Visão global. Aura. Controle dos colegas. Maturidade. Eis tudo o que o jovem Ronaldo ainda não tem.
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Aquele miúdo está precisar de terapeuta. Conheço um tipo que é formado nisso, homem sério e, curiosamente, também licenciado em Educação Física como tu. Pratica preços módicos, só pelo prazer de pôr esses miúdos na ordem, com disciplina e humildade prática. Dou-te o telefone, se ainda não o tiveres.
Assim, estás a contribuir para o endeusamento de um carburador poderoso, mas que só funciona a pleno gás quando lhe dá na bolha. E demasiado ocupado com o verniz das unhas e o corte do cabelo, para rasgar a roupa e comer a relva, como faz, em sofrimento, qualquer albanês anónimo faminto de fama.
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Põe ordem nas prima-donas e fecha-me a porta daquela capoeira. Pobre Quim. Ele não tem culpa, mas os trincos andam muito desconexos, ferrugentos. E o rapazito da Madeira, o tal habilidoso e maldisposto, se não anda a saber outra vez marcar livres, e se estiverem lá o Deco, o Maniche, o Bruno, o Moutinho, ou o Sabrosa, entre outros, olha que eles ainda pode ser que se lembrem. Monopólios, já o Marquês de Pombal acabou com eles. E dá-me alegria, entrega e criatividade do meio campo para a frente. Ralha. Explica. Expõe. Eu sei. Infelizmente, são tudo coisas que não se compram na farmácia.
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Mas compra tu uma agulha e começa a coser devagar esta manta de retalhos. Se for preciso, vai à segunda divisão arranjar gente peituda e ambiciosa. Pede ao Rui que empreste uns juniores, uns sub-21, qualquer coisa.
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E atalha a direito, pragmático, sem diplomacias. A coisa está preta e eu gostava muito de ter amigos em sítios importantes. E assim…
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Deste que te abraça teu velho amigo
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Professor Pedro Chora Barroso
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Contra o crime de amanhã
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Poderia Deus fazer um Universo diferente?
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A concepção de Einstein, de traços panteístas, é partilhada por muitos profissionais da ciência. O grande físico acreditava numa realidade externa que a observação, a experimentação e a razão podem progressivamente assimilar. Via lógica nessa realidade. Nas suas Notas Autobiográficas (1946), repetiu-o: «Lá fora há este mundo imenso, que existe independentemente de nós, seres humanos, e que se ergue perante nós como um grande e eterno mistério, parcialmente acessível à nossa inspecção e pensamento».
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Adoptando uma visão quase platónica, a unidade lógica do mundo físico existiria externamente. Não seríamos nós que daríamos sentido ao Universo. O sentido do Universo estaria à espera de ser descoberto. Naturalmente, esse sentido não era arbitrário. As leis físicas não podiam ser outras.
Einstein ficaria contente se pudesse conhecer alguns trabalhos de natureza matemática que, nos últimos tempos, têm vindo a tentar desenvolver a teoria da relatividade sem recurso ao célebre postulado da constância da velocidade da luz. Como se sabe, experiências muito rigorosas feitas no fim do século XIX não conseguiram detectar a mudança de velocidade da luz quando o observador se afasta e se aproxima da fonte luminosa. Muitos físicos procuraram explicações ad hoc para este fenómeno surpreendente. Einstein teve a ideia de postular que a velocidade da luz no vazio era uma constante universal e daí tirou um conjunto de conclusões revolucionárias sobre o espaço e o tempo que ainda hoje fascinam cientistas e leigos. Mas há mesmo algo de especial na luz, ou a relatividade deriva de algo de muito profundo na estrutura do espaço e do tempo?
Mitchell J. Feigenbaum, um físico-matemático da Universidade Rockefeller em Nova Iorque, acaba de mostrar (http://arxiv.org/abs/0806.1234) que todas as conclusões de Einstein se podem deduzir de princípios mais simples.
Feigenbaum volta a Galileu e ao seu célebre exemplo do navio em movimento. Dizia o físico italiano que, num mar sem ondas e dentro de um navio em movimento uniforme, um observador olharia para o cais e julgaria estar parado, sendo o cais a mover-se. Uma vez fechado na cabina, tudo se passaria como se o navio estivesse parado. Não lhe seria possível distinguir o repouso do movimento uniforme.
Estendendo este princípio de relatividade de Galileu com recurso a conceitos puramente matemáticos e esquecendo por completo a velocidade da luz, Feigenbaum redescobriu as chamadas transformações de Lorentz, que estão no cerne da relatividade de Einstein. Não é necessário atribuir um papel especial à velocidade da luz. Talvez, afinal, Deus não tivesse podido construir o Universo de outra maneira.
«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 15 de Novembro de 2008- adapt.
domingo, 16 de novembro de 2008
À desgarrada
O chuto-na-canela nacional anda «muitíssimo agitadíssimo»
É A MINHA SINA: adoro o futebol. Aliás gosto (mais ou menos, óbvio) de tudo o que é desporto. Pratiquei, «a sério», rugby e natação. Mas vou a quase todas, desde o atletismo ao snooker. Até já percebo de curling… As vassourinhas entusiasmam-me. Medianamente, é certo, não atingem o grau de deslumbramento com uma boa placagem ou uma melée. Ainda digo assim, tal como aprendi e pratiquei. Hoje, já nem na bancada: no sofá é que é bom.