Por Nuno Crato
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TUDO COMEÇOU há 38 mil anos, ou mais. Não se sabe ao certo. Uma estrela explodiu com o brilho de cinco mil milhões de sóis. Lançou para o espaço os detritos da sua matéria e a luz da explosão seguiu em todas as direcções. Em 11 de Novembro de 1572, chegou à Terra. As pessoas, habituadas à constância do firmamento, repararam que havia uma estrela a mais na Cassiopeia. Ficaram espantadas. Os sábios pensaram que se tratava de um fenómeno meteorológico, que se confundiria com uma estrela. Aristóteles tinha ensinado que os céus eram perfeitos e imutáveis — nada se poderia ter passado no firmamento.
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TUDO COMEÇOU há 38 mil anos, ou mais. Não se sabe ao certo. Uma estrela explodiu com o brilho de cinco mil milhões de sóis. Lançou para o espaço os detritos da sua matéria e a luz da explosão seguiu em todas as direcções. Em 11 de Novembro de 1572, chegou à Terra. As pessoas, habituadas à constância do firmamento, repararam que havia uma estrela a mais na Cassiopeia. Ficaram espantadas. Os sábios pensaram que se tratava de um fenómeno meteorológico, que se confundiria com uma estrela. Aristóteles tinha ensinado que os céus eram perfeitos e imutáveis — nada se poderia ter passado no firmamento.
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A luz chegou também aos olhos do maior astrónomo da época, o dinamarquês Tycho Brahe, que fez medidas de paralaxe muito precisas e provou que esse ponto de luz estava para além da Lua. Não podia ser um fenómeno atmosférico. Era uma «estrela nova».
A luz chegou também aos olhos do maior astrónomo da época, o dinamarquês Tycho Brahe, que fez medidas de paralaxe muito precisas e provou que esse ponto de luz estava para além da Lua. Não podia ser um fenómeno atmosférico. Era uma «estrela nova».
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A nova — ou supernova, como depois veio a ser chamada — começou a perder brilho em fins de Novembro. Em Março de 1574 tinha-se desvanecido. O que ficou foi o eco das observações de Tycho Brahe, que anunciavam o fim da astronomia antiga.
A nova — ou supernova, como depois veio a ser chamada — começou a perder brilho em fins de Novembro. Em Março de 1574 tinha-se desvanecido. O que ficou foi o eco das observações de Tycho Brahe, que anunciavam o fim da astronomia antiga.
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Nunca se soube que tipo de explosão teria originado a supernova de 1572, que foi uma das mais violentas registadas na história das observações astronómicas. A astrofísica, entretanto, evoluiu muito. Pode-se hoje saber o que anteriormente se considerava para sempre vedado à ciência. Analisando as componentes da luz com uma técnica chamada espectroscopia conseguem-se descobrir os elementos químicos na origem da fonte luminosa. Como seria bom que a luz da supernova de 1572 ainda fosse visível! Se isso acontecesse, pela espectroscopia poder-se-iam detectar os elementos químicos presentes na estrela e, com esses dados, perceber que tipo de estrela tinha explodido. Muito seria acrescentado ao conhecimento do cosmos.
Nunca se soube que tipo de explosão teria originado a supernova de 1572, que foi uma das mais violentas registadas na história das observações astronómicas. A astrofísica, entretanto, evoluiu muito. Pode-se hoje saber o que anteriormente se considerava para sempre vedado à ciência. Analisando as componentes da luz com uma técnica chamada espectroscopia conseguem-se descobrir os elementos químicos na origem da fonte luminosa. Como seria bom que a luz da supernova de 1572 ainda fosse visível! Se isso acontecesse, pela espectroscopia poder-se-iam detectar os elementos químicos presentes na estrela e, com esses dados, perceber que tipo de estrela tinha explodido. Muito seria acrescentado ao conhecimento do cosmos.
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Surpreendentemente, o desejo dos astrónomos veio a tornar-se realidade. Quando a estrela explodiu, emitiu luz em todas as direcções. Parte dessa luz dirigiu-se directamente para a Terra e foi detectada em 1572. Mas outros raios luminosos dirigiram-se para outras paragens. Umas centenas de anos depois da explosão inicial, alguns desses raios vieram a encontrar uma nuvem extensa de poeira interestelar e a iluminá-la. A luz reflectiu-se. Alguns dos reflexos só agora chegaram à Terra pois fizeram um trajecto mais extenso do que a luz de 1572. Foram detectados pelo telescópio Subaru, no Hawai. São ecos muito fracos da explosão inicial. Curiosamente, parecem mexer-se, pois são resultado de reflexões de luz em partes sucessivamente mais longínquas da nuvem de poeiras, que nos vêm chegando desfasados.
Surpreendentemente, o desejo dos astrónomos veio a tornar-se realidade. Quando a estrela explodiu, emitiu luz em todas as direcções. Parte dessa luz dirigiu-se directamente para a Terra e foi detectada em 1572. Mas outros raios luminosos dirigiram-se para outras paragens. Umas centenas de anos depois da explosão inicial, alguns desses raios vieram a encontrar uma nuvem extensa de poeira interestelar e a iluminá-la. A luz reflectiu-se. Alguns dos reflexos só agora chegaram à Terra pois fizeram um trajecto mais extenso do que a luz de 1572. Foram detectados pelo telescópio Subaru, no Hawai. São ecos muito fracos da explosão inicial. Curiosamente, parecem mexer-se, pois são resultado de reflexões de luz em partes sucessivamente mais longínquas da nuvem de poeiras, que nos vêm chegando desfasados.
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O astrónomo Oliver Krause e a sua equipa publicaram a descoberta esta semana na «Nature» (456, 617–619). O estudo da luz revelou a presença de silício, enxofre e ferro, elementos que indicam tratar-se de um tipo de explosão denominada «supernova Ia». Sendo assim, o que explodiu foi um sistema binário de anãs brancas. Uma das estrelas aumentou de massa roubando matéria à sua companheira. Quando atingiu o chamado limite de Chandrasekhar (1,4 vezes a massa do nosso Sol), explodiu num evento termonuclear que dispersou luz em todas as direcções. Pelos vistos, os sinais dessa explosão continuam a chegar à nossa velha Terra. E agora sabemos decifrá-los.
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«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 6 de Dezembro de 2008 (adapt.).
O astrónomo Oliver Krause e a sua equipa publicaram a descoberta esta semana na «Nature» (456, 617–619). O estudo da luz revelou a presença de silício, enxofre e ferro, elementos que indicam tratar-se de um tipo de explosão denominada «supernova Ia». Sendo assim, o que explodiu foi um sistema binário de anãs brancas. Uma das estrelas aumentou de massa roubando matéria à sua companheira. Quando atingiu o chamado limite de Chandrasekhar (1,4 vezes a massa do nosso Sol), explodiu num evento termonuclear que dispersou luz em todas as direcções. Pelos vistos, os sinais dessa explosão continuam a chegar à nossa velha Terra. E agora sabemos decifrá-los.
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«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 6 de Dezembro de 2008 (adapt.).
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