Por Baptista-Bastos
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AS TELEVISÕES E AS RÁDIOS fizeram, nestes dias, uma pergunta aflita: Portugal precisa de um novo partido à Esquerda? A inquietação provinha da circunstância de um grupo de pessoas se ter reunido na Aula Magna, para confirmar o que toda a gente sabe: o Partido Socialista não é peva socialista. Manuel Alegre foi o rosto do conclave e, um pouco irado, falou "neste" PS como a absurda negação de um "outro." A verdade é que nunca houve "outro." Desde a "fundação", o PS foi uma espécie de elaboração ininteligível, com estuques róseos. Vale a pena recordar: logo no PREC, o grito d'alma dos militantes era: "Partido Socialista, partido marxista!" Depois, o vozear amaciou, até desaparecer numa gaveta onde se guardou, até hoje, o "socialismo."
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Estou em crer que Portugal não precisa de um novo partido à Esquerda. O que Portugal precisa é de que o PS seja, efectivamente, um partido de Esquerda ou que, em definitivo, deixe de dizer uma coisa e faça outra. Em suma: não se trata de argúcia, trata-se de ética.
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A reunião na Aula Magna não prefigurou um país fantomático. Representou, no meu entender, um outro modo de reflectir o descontentamento generalizado. Nenhum dos assistentes era, meramente, decorativo: eles exprimiam uma intenção realmente crítica, com a única legitimação da vida que estamos a viver. A sua reprovação dos métodos e das práticas deste Governo não significa que pensassem na criação de um novo partido de Esquerda. Porque seria não só absurdo como, sobretudo, inútil. As próprias reivindicações ideológicas da assembleia ilustram, apenas, uma fidelidade: às propostas de Abril, sobre as quais o PS tripudiou, miseravelmente. Talvez esta "fé" surja como um patético anacronismo. Talvez corresponda a um imaginário anterior, e já delido. Mas convenciona o mal-estar desesperado e obsidiante que se colou à nossa vida.
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Sabe-se: José Sócrates não serve. Transformou a política numa tagarelice. A imprecisão da sua ideologia confunde-se com a paixão do poder, e a relação entre ambas compromete, irremediavelmente, o nosso futuro e o nosso destino. A sua maneira fisiológica de dizer as coisas é, quase sempre, ocasional. Embora uma análise textual revelasse a natureza rudimentar do discurso. Não há interlocutores para Sócrates, e, acaso, o encontro na Aula Magna fosse a urgência e a necessidade de um largo sector da Esquerda "silenciosa" proclamar outra exigência política.
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Numa manifestação desta índole, o PCP não deveria ausentar-se. Cedeu a um preconceito histórico que tem minado a Esquerda, e não só em Portugal. O que está em causa é a prioridade de se escapar, tanto à hegemonia como à subordinação. O PCP faz parte da Esquerda - mas não é "a" Esquerda.
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«DN» de 17 de Dezembro de 2008.
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