terça-feira, 8 de março de 2011

«Dito & Feito»

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Por José António Lima

OS JUROS da dívida pública portuguesa, tanto a dez anos como a cinco anos, mantêm-se há 20 dias consecutivos acima do fatídico limiar dos 7%. Há um ano, sublinhe-se, estes mesmos juros impostos a Portugal situavam-se em metade, entre os 3% e os 4%.


É um custo da dívida insustentável por muito mais tempo. Daí que responsáveis internacionais, como a gestora francesa de activos Axa Investment, tenham esta semana alertado: «A Irlanda e a Grécia tiveram de pedir ajuda quando os seus custos de endividamento subiram para esse nível [dos 7%]» e, por isso, é de crer «que Portugal também o faça nas próximas semanas». A Grécia, recorde--se, viu-se obrigada a recorrer à ajuda externa e do FMI 17 dias depois de a sua taxa de juro ultrapassar os 7%. A Irlanda não chegou a resistir um mês.

MAS, enquanto também a Standard & Poors assinalava esta semana que Portugal «pode ver-se forçado a solicitar o Fundo Europeu de Emergência Financeira e o FMI», o Governo de José Sócrates, em desespero de causa, fazia publicar nos jornais dados provisórios e cosmeticamente cor-de-rosa da execução orçamental em Fevereiro. E o ministro Teixeira dos Santos aproveitava para se alijar - a ele e ao Governo - de responsabilidades: «Os nossos esforços terão de ser acompanhados também pelo esforço europeu. Espero que a Europa seja capaz de dar os passos decisivos que se impõem. Se não der estes passos, receio que todo este esforço seja em vão». Ou seja: se isto correr mal, a culpa não é nossa... mas da Europa, que não fez o que devia para nos ajudar - além, é claro, de financiar há anos e anos a nossa imparável dívida e de sustentar artificialmente o nosso incorrigível despesismo.

É o estilo Sócrates de recusar responsabilidades e de se vitimizar que aí está, de novo, em curso. Para as medidas adicionais de austeridade que se perfilam e para a inevitabilidade do recurso à ajuda externa. A culpa será, obviamente, dos outros. Dos mercados, da Europa, da ingrata senhora Merkel, dos partidos de oposição, etc. E não de quem nos governa há seis anos e conduziu o país a este buraco.
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«SOL» de 4 Mar 11