sábado, 12 de março de 2011

Somos os primeiros

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Por Antunes Ferreira

JÁ NOS HABITUÁMOS a ter o primeiro lugar em muitas questões europeias. Desta feita, até nos distanciámos do segundo classificado. Os aplausos são, por conseguinte, absolutamente desnecessários; o mérito dispensa as palmas. O que não nos dispensa de nos orgulharmos com a distinção: não é todos os dias que se nos reconhece a dianteira.

Passemos aos factos. De acordo com a Comunicação Social, Portugal é o país da Europa com mais fraudes na Saúde. Todos os anos, o Estado português é lesado em 839 milhões de euros.
Os dados foram revelados pela Rede Europeia de Combate à Fraude e Corrupção na Saúde, com Portugal a liderar o ranking que inclui 23 países. A seguir a nós, estão a Finlândia (722 milhões) e a Irlanda (709 milhões).

Bem pelo contrário a Alemanha (13 milhões), a Espanha (4,33 milhões) e a Áustria (1,39 milhões) estão no outro extremo da lista. Feliz exemplo do mosaico que é o Velho Continente, mas também o destes países bem comportados. Diz o saber popular que cada um é como cada qual, somos todos iguais, mas há uns mais iguais do que os outros.

O Senhor Paul Vincke, que é o presidente da Rede Europeia de Combate à Fraude e Corrupção, afirmou, face à lista, que o dinheiro que se perde com as fraudes na Europa dava para pagar um ano de salários a dois milhões e meio de enfermeiros. Nem com o aumento da dotação do famigerado Fundo Europeu a situação se equilibraria. Mais a mais, com o rotundo não de Frau Angela.

Quem diria que na União Europeia e arredores se verificaria um caso destes. Com membros diversos, cada cor seu paladar, o que não se esperava de todo. Ou antes, esperar-se esperava-se, mas alguns protagonistas eram impensáveis, como é o caso da Finlândia, que até tem a Casa do Pai Natal em Rovaniemi. Já não se pode acreditar em ninguém, sequer na própria sombra.

Volto ao nosso caso. Recentemente, uma investigação levantou a lebre quanto a mais de uma dezena de médicos, acusados de falsificação de receitas e de uso indevido do nome dos doentes. Mas, as fraudes resultaram da actividade de vários intervenientes desde o doente ao médico, passando pelos fornecedores de serviços, farmacêuticos, laboratórios e instituições da área da saúde. Enfim, o verdadeiro tudo-ao-molho-e-fé-em-Deus que o Senhor José Estebes celebrizou.

Estamos, portanto, de parabéns por mais esta performance. Neste particular e utilizando terminologia do ciclismo já não nos encontramos na cauda do pelotão comunitário. Bem pelo contrário; protagonizamos uma bem sucedida fuga, com o Hino à Alegria em fundo musical. O Senhor Ludwig van Beethoven deliraria.

Não existe vacina para este despautério verdadeiramente criminoso. E se houvesse, tantas seriam administradas que o Serviço Nacional de Saúde então é que abriria falência. Lá ficaria a Senhora Ministra no desemprego, tendo de aderir, aliás muito justa e justificadamente, à Geração à Rasca. Claro que sem pedir atestado médico para justificar a baixa.