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Por Nuno Brederode Santos
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O CDS NÃO CUIDA dos seus maiores, nem rega a sua árvore genealógica. Recusou o centrismo de Freitas do Amaral, desautorizou o institucionalismo que Adriano Moreira nem teve tempo para fixar na mira, desprezou o neoliberalismo de Lucas Pires, para - sempre empurrado pelos ventos eleitorais - vir aterrar nas mãos de Manuel Monteiro e Paulo Portas. Este acabaria por escorraçar aquele, em espasmos intestinais onde, vistos os factos de fora, a ideologia não meteu prego nem estopa. Nenhum dos idos é saudoso nessa casa da Família Adams sita no Largo do Caldas.
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Monteiro, desabrigado, encetou uma aventura pessoal de contornos difíceis de prever e impossíveis de descrever: após sucessivos desaires (que culminaram nas autárquicas de Lisboa), anunciara recentemente a disponibilidade da sua Nova Democracia para desaparecer, a bem de uma qualquer inovação da direita para 2009, mas a aplicação de duas multas pela Comissão Nacional de Eleições deu-lhe agora o pretexto dourado para reconverter esse horizonte cinzento numa odisseia em technicolor - e, por isso, anunciou, esta semana, que não paga as multas e que o PND está pronto para o martirológio da extinção, mas não pactuará com a infâmia da perseguição que lhe é movida. Como o regime é pachola e esmoler por temperamento, ninguém comentou a proclamação e o PND já se pode ir embora, não na prosa em sépia do rabo entre as pernas a que parecia condenado, mas na grandeza trágica do suicídio de Antero. E assim Monteiro (e mais uns poucos) se poderá libertar do colete de forças que vestiu e disponibilizar-se para a primeira aventura fraccionista que o PSD gerar ou consentir.
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Ganho o partido - que se tornou PP, mas parece já ter voltado a responder ao petit nom de CDS - Paulo Portas conseguiu tirar Marcelo Rebelo de Sousa do caminho e chegar ao Governo pela mão de Durão Barroso. Depois, nas circunstâncias que estão na memória de todos, este abalaria para Bruxelas, deixando Santana no lugar. A solução parece ter repugnado a alguns quadros laranjas, que enjeitaram continuar, mas não ao CDS, que - porque só vive para isso - viria a partilhar a derrocada eleitoral do PSD. Portas demite-se, num fragor que seria depois plagiado por Putin e Medvedev. Mas, como o delfim Telmo Correia perdeu o Congresso para um Ribeiro e Castro desarmado, ele volta, sem dar tempo a um nojo convincente, defenestra os democratas-cristãos e, novamente presidente, senta-se no Parlamento (onde, juntamente com a presença de Santana, como líder da bancada laranja, proporcionaria a Sócrates viver alguns dos mais enlevados momentos da sua vida política).
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Assim reconquistava o partido o direito a, em cada momento, livremente se escolher no catálogo das ideologias. Tornou-se então populista e liberal-conservador. Tudo, portanto, menos democrata-cristão. O que traz consigo uma perigosa curiosidade. É que o sufoco estratégico do CDS perante o PSD resulta precisamente da justaposição ideológica entre eles. Ambos têm uma componente conservadora, outra liberal, outra populista. O PSD tem a mais alguma - escassa - social-democracia, o CDS tinha a mais alguma democracia-cristã. Ao abdicar dela, o pequeno grupo de amigos que constituem o seu estado-maior renuncia à única e última diferenciação tangível no inevitável cotejo com o PSD. A Conferência Episcopal mete-E o CDS lá se vai afunilando, com um discurso triunfal sobre o bom resultado nos Açores (que ignora a Madeira e sobretudo a catástrofe de Lisboa) a justificar mais um assalto de viela escura, que é surpreender qualquer hipotética oposição interna com uma antecipação mais de 4 meses do seu calendário interno (com um pré-aviso de 15 dias), que obriga a apresentar candidaturas até 7 de Novembro e moções de estratégia até 10. Cego, surdo e mudo, o CDS avança aos tropeções por um corredor cada vez mais estreito e mais escuro. Um dia, Paulo Portas recordará melancolicamente o que foi mandar cada vez mais num partido que era cada vez menos.se mais em política do que a Igreja gostaria, mas não é nestes "aventureiros" que confia. A Ala Liberal, de António Pires de Lima, fechou as portas por falta de clientes. Os conservadores, no seu remanso aristocrático, execram (mesmo quando a elas se resignam) as arruaças radicais e reformistas. O populismo impera, indisputado. Mas o PSD tem Jardim, Santana e até Menezes: não precisa de lições e não teme tais rivais.
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«DN» de 26 de Outubro de 2008
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