sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A Quadratura do Circo – A Banca dos Imbecis

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Por Pedro Barroso
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O SISTEMA faliu.
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E agora, ao propor um prémio monumental, leia-se gigantesco, que cubra os prejuízos das instituições bancárias há uma óbvia imoralidade cívica, económica e política.
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Em primeiro lugar, porque a cobertura do erro vem da riqueza do país, isto é, de nós, do nosso dinheiro. Em milhões. Biliões. Pago em impostos, traduzidos no sangue, suor e lágrimas da nossa sofrida poupança. Quantas vezes na fímbria da falência pessoal. Da lágrima por tudo o que se abdica, desde o sonho, ao justo e merecido conforto.
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Que ficaram, para isso, adiados pela injustiça de uma fiscalidade, para nós, curiosamente, sempre implacável. E tapam-se e toleram-se magnanimamente os erros bancários porquê?
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Ganhando infinidades imorais como se fossem grandes especialistas da engenharia financeira, as grandes cabeças da bancarrota são, afinal, gestores e economistas de pacotilha que representam um papel de teatralidade óbvia, demasiado elementar até, assumindo alguns erros de sistema e que proferem agora o discurso da calma e da competência.
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Quando é óbvio que não promovem uma, nem revelam outra.
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Ao accionar uma gigantesca ajuda, afinal, os Governos deixam cair a máscara miserabilista e premeiam os imbecis que provocaram o caos. Com dinheiro que não era suposto existir para a cultura, a saúde, a justiça, a educação. Tais imbecis, pagos pelos depositantes cidadãos a peso de ouro, limitam-se a mover o dinheiro de um lado para o outro especulando, reinvestindo e dissociando. Segurando e ressegurando, comprando, colocando em off-shores, inventando e vendendo produtos de nome estudadamente credível, que nada significam na realidade em termos de segurança remuneratória. Ou de fiabilidade como produtos. Viu-se.
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As instituições financeiras, com efeito, sabedoras da nossa dependência num mundo de insegurança crescente, sabem que jamais as pessoas voltarão a poder guardar o dinheiro no colchão. E valem-se disso. Onde pôr o ordenado, a poupança? Onde fazer os pagamentos? Onde pagar as letras? Onde pedir emprestado? Os Bancos sabem-se imprescindíveis e intocáveis na estratégia financeira montada pela vida moderna. Como viver sem eles?
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Impunes e imbecis, com todo aquele ar de difícil crédito, tão triado e tão complicado, afinal os banqueiros erravam todos os dias. Emprestaram mal. Mas depois, será que emendaram a mão? Não. Os juros subiram. O convite permanente ao consumo continuou. O autismo continuou. Você quer - você tem.
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Qualquer comentador mais atento, mesmo sem ser da área financeira, se apercebia desse logro e desse perigoso destemor. Qualquer um de nós, se fizesse na sua economia doméstica o que a maioria dos Bancos tem andado a fazer, já tinha falido há muito tempo.
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Deste modo não. Artificialmente. Premeia-se o dolo. Premeia-se e desculpa-se a incompetência. Afinal era tudo a brincar. Tal como nós em miúdos a jogar à apanhada. Havia coito. Ali não vale. Ou seja, isto dos Bancos serem instituições sérias afinal não era bem assim. Era a brincar. Afinal são uns gajos porreiros, tesos como nós. Com milhões anuais de lucro. Mas tesos como nós. Dá para perceber?
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Os bancos putativamente tão sérios, tão exigentes, tão honestos, tão ricos, tão fiáveis, tão credíveis e seguros, afinal não são nada disso.
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São instituições comandadas por cérebros convencidos que sabem; que usam termos muito complicados para nos impressionar; que escrevem contratos em letra minúscula para nos levar a assinar o que não queremos; que nos prometem o que nunca será em nosso favor; que nos asseguram apoio que eles próprios não podem garantir.
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Neste caso ficamos impotentes. Não sabemos como reagir. Não há, com efeito, reacção recomendável.
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E as suas olímpicas serenidades apenas nos convencem da sua diluviana culpa. A opereta, em versão portuguesa, abanou o Teatro operativo, mas não caiu a graça dos protagonistas. Que humanos são, coitados. Afinal… que medíocres. Uns tesos! A gente a confiar-lhes a massa e eles até abrem falência e tudo. Se não fosse aquele fato Armani até poderiam passar por sem-abrigo. Assim é fácil. Cobertas as asneiras pelo Governo, como filhos da mamã, mimados, imbecis.
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O problema que fica é o seguinte: que fazer? A quem entregar a poupança envergonhada que ao longo do tempo tenhamos conseguido? À avó Matilde, para pôr no mealheiro? Ao dono da pastelaria, garantindo pequeno-almoço vitalício com meia de leite e um croissant?
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Como proceder? Comprar a eito tudo, mesmo o que não precisamos, só para converter trocos - uma vez que o que temos no Banco pode de um momento para o outro deixar de ser nosso?
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Comprar segundas e terceiras casas na esperança de investir no escuro? Oferecer um carro à porteira ucraniana, coitada, em paga pelo deleite secreto que as suas formas esculturais nos proporcionam todos os dias? Mudar o colégio dos miúdos para um mais caro, só para termos a vaidosa ilusão de sermos, também nós, banqueiros imbecis?
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Creio que não podemos fazer mais que aguardar. Lançar o pânico ainda seria pior. O circuito está montado para que, mais tarde ou mais cedo, regressemos à nossa normal e impudica relação bancária. À mais promíscua e total dependência desses comprovados imbecis para prosseguirmos a nossa vida. Com o pormenor que eles continuarão de Bentley e nós a comprar o Fiat Punto a prestações.
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Digamos que os presunçosos cinzentos apanharam um susto. Mas eles voltam sempre. Estão cobertos por um escudo que felizmente passou a ser mais visível, mais perverso, mais profano. À nossa custa.
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Mas uma coisa ficamos nós a saber, de tão claramente exposto:
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É que eles, afinal, nada sabem. Agora já podemos chamá-los justificadamente de imbecis. Não viram o que todos nós andávamos a ver há tanto tempo.
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São mesmo actores de terceira numa opera buffa cheia de contornos de mau gosto.
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Cantam mal, desafinam. Representam e mentem mal. E nem sequer sabem fazer contas.
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NOTA: este texto é uma extensão do que está publicado no Sorumbático [aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.