Por Ferreira Fernandes
MAGREBE em árabe quer dizer "Ocidente" e isto não é uma aula de etimologia - quer dizer que o Magrebe (a região onde fica a Tunísia) é aqui mesmo ao lado. A geografia não muda, foi sempre assim. Mas a política muda: ontem, o Presidente tunisino, Ben Ali, ditador durante 23 anos, fugiu. E isso como que tornou a vizinhança do Magrebe com a Europa não só mais próxima como mais perigosa.
Quando a Europa ocupava o que pensava ser do seu interesse, a França colonizou ou fez protectorado esse Magrebe: Tunísia, Argélia e Marrocos. Depois, vieram as independências, a Tunísia tornou-se o mais laico dos estados árabes, a Argélia construiu-se com as forças armadas como coluna vertebral e Marrocos uniu-se à volta da sua monarquia.
Nos tempos mais recentes, quando começaram a soprar os ventos islâmicos radicais, os três países do Magrebe resistiram a eles com os seus esteios: o exército argelino, o rei marroquino e os costumes liberais tunisinos. Mas nenhum dos três países se tornou democrático, nem deu aos seus jovens outro futuro que não fosse emigrarem para essa Europa próxima. Os ventos fundamentalistas continuaram a soprar. Agora, com a fuga de Ben Ali, a Europa pode regozijar-se com o fim de uma ditadura, mas seria também prudente saber que perdeu um tampão para a hipótese de outra ditadura mais grave: como qualquer radicalismo, o islâmico gosta do vazio de poder.
.
«DN» de 15 Jan 11
MAGREBE em árabe quer dizer "Ocidente" e isto não é uma aula de etimologia - quer dizer que o Magrebe (a região onde fica a Tunísia) é aqui mesmo ao lado. A geografia não muda, foi sempre assim. Mas a política muda: ontem, o Presidente tunisino, Ben Ali, ditador durante 23 anos, fugiu. E isso como que tornou a vizinhança do Magrebe com a Europa não só mais próxima como mais perigosa.
Quando a Europa ocupava o que pensava ser do seu interesse, a França colonizou ou fez protectorado esse Magrebe: Tunísia, Argélia e Marrocos. Depois, vieram as independências, a Tunísia tornou-se o mais laico dos estados árabes, a Argélia construiu-se com as forças armadas como coluna vertebral e Marrocos uniu-se à volta da sua monarquia.
Nos tempos mais recentes, quando começaram a soprar os ventos islâmicos radicais, os três países do Magrebe resistiram a eles com os seus esteios: o exército argelino, o rei marroquino e os costumes liberais tunisinos. Mas nenhum dos três países se tornou democrático, nem deu aos seus jovens outro futuro que não fosse emigrarem para essa Europa próxima. Os ventos fundamentalistas continuaram a soprar. Agora, com a fuga de Ben Ali, a Europa pode regozijar-se com o fim de uma ditadura, mas seria também prudente saber que perdeu um tampão para a hipótese de outra ditadura mais grave: como qualquer radicalismo, o islâmico gosta do vazio de poder.
.