Por Antunes Ferreira
AS LEIS DO FINANCIAMENTO dos partidos são sempre motivo de controvérsia, com os contras muito superiores aos prós, o que é absolutamente natural. Os primeiros fazem parte das oposições; os segundos são os seus autores, ou seja os governos. É matéria em que as abstenções não contam, pois uns, ainda que dizendo mal, estão à espera dos financiamentos; os outros produziram aquilo que lhes traz mais benefícios e mais rapidamente.
Recebi há dias um mail que me pareceu de tal modo significativo e bem humorado, o que não é normal na crise, que não resisto a fazer sobre ele esta crónica. Não posso citar o autor, porque não constava da mensagem. Nestes preparos nunca ninguém os assina, partindo do princípio de que a voz do Povo é a voz de Deus. Assim fosse.
Em plena discussão, uma televisão decide fazer um inquérito/reportagem de rua. E fá-lo em directo, o que é sempre uma aventura, pois não pode fazer-se depois a montagem mais conveniente. Mas, dizia um programa dos idos que «o perigo é a minha profissão»; os riscos correm-se e o resto é conversa.
Um cidadão com todo o aspecto de ser um denodado cumpridor das suas obrigações fiscais e de outras está sentado à mesa de um café, tomando a quantidade quotidiana de cafeína que lhe apetece e a que se julga ter direito. Note-se que ainda não há balão para o grau de rubiácea no sangue, daí a tranquilidade do sujeito.
Microfone em punho, aproxima-se o jornalista acompanhado do operador de câmara. O visado repara de imediato que vai sair na televisão e arma um sorriso um tanto alvar na face mal escanhoada. À volta, os mirones tentam passar por trás do fulano, na esperança de igualmente passarem na televisão, sendo que alguns dão-se ao cuidado de fazer adeus para a família que talvez esteja na frente do ecrã.
Mau amigo, estamos em directo para a TV Xis e queremos fazer-lhe umas perguntas, coisas simples, de resto. Concorda? Claro que concorda, oportunidade daquelas não surge todos os dias, há que aproveitá-la. Então, a primeira é… O pessoal emudece, o que será ela?
Se tivesse dez milhões de euros, dariam cinco milhões para o seu partido? Certíssimo, não tenha dúvidas. O repórter sorri, o povo também, os empregados de mesa que se foram chegando igualmente. E se tivesse dois Rolls Royce daria um para o seu partido?
Era tiro e queda, claro que sim. As convicções partidárias do homem são grandes. E se tivesse duas mansões de cinco milhões cada, era capaz de oferecer uma ao seu partido? Nem hesita. Absolutamente, teria o maior prazer nisso.
A última, agradecendo-lhe desde já a sua atenção e a sua disponibilidade. E se tivesse dois frangos, entregaria um deles ao seu partido? Nem pensar; nem pó!
Caro amigo, porquê a negativa, depois de tantos sins? Ora essa: os dois frangos são meus. Tenho-os.
AS LEIS DO FINANCIAMENTO dos partidos são sempre motivo de controvérsia, com os contras muito superiores aos prós, o que é absolutamente natural. Os primeiros fazem parte das oposições; os segundos são os seus autores, ou seja os governos. É matéria em que as abstenções não contam, pois uns, ainda que dizendo mal, estão à espera dos financiamentos; os outros produziram aquilo que lhes traz mais benefícios e mais rapidamente.
Recebi há dias um mail que me pareceu de tal modo significativo e bem humorado, o que não é normal na crise, que não resisto a fazer sobre ele esta crónica. Não posso citar o autor, porque não constava da mensagem. Nestes preparos nunca ninguém os assina, partindo do princípio de que a voz do Povo é a voz de Deus. Assim fosse.
Em plena discussão, uma televisão decide fazer um inquérito/reportagem de rua. E fá-lo em directo, o que é sempre uma aventura, pois não pode fazer-se depois a montagem mais conveniente. Mas, dizia um programa dos idos que «o perigo é a minha profissão»; os riscos correm-se e o resto é conversa.
Um cidadão com todo o aspecto de ser um denodado cumpridor das suas obrigações fiscais e de outras está sentado à mesa de um café, tomando a quantidade quotidiana de cafeína que lhe apetece e a que se julga ter direito. Note-se que ainda não há balão para o grau de rubiácea no sangue, daí a tranquilidade do sujeito.
Microfone em punho, aproxima-se o jornalista acompanhado do operador de câmara. O visado repara de imediato que vai sair na televisão e arma um sorriso um tanto alvar na face mal escanhoada. À volta, os mirones tentam passar por trás do fulano, na esperança de igualmente passarem na televisão, sendo que alguns dão-se ao cuidado de fazer adeus para a família que talvez esteja na frente do ecrã.
Mau amigo, estamos em directo para a TV Xis e queremos fazer-lhe umas perguntas, coisas simples, de resto. Concorda? Claro que concorda, oportunidade daquelas não surge todos os dias, há que aproveitá-la. Então, a primeira é… O pessoal emudece, o que será ela?
Se tivesse dez milhões de euros, dariam cinco milhões para o seu partido? Certíssimo, não tenha dúvidas. O repórter sorri, o povo também, os empregados de mesa que se foram chegando igualmente. E se tivesse dois Rolls Royce daria um para o seu partido?
Era tiro e queda, claro que sim. As convicções partidárias do homem são grandes. E se tivesse duas mansões de cinco milhões cada, era capaz de oferecer uma ao seu partido? Nem hesita. Absolutamente, teria o maior prazer nisso.
A última, agradecendo-lhe desde já a sua atenção e a sua disponibilidade. E se tivesse dois frangos, entregaria um deles ao seu partido? Nem pensar; nem pó!
Caro amigo, porquê a negativa, depois de tantos sins? Ora essa: os dois frangos são meus. Tenho-os.