quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

"Freep...", perdão, "BPN, BPN, BPN..."

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Por Ferreira Fernandes

HÁ ALGUMA COISA de errado nesta maneira de conduzir uma campanha: "Eu fiz uma pergunta a Cavaco Silva...", diz Manuel Alegre, com ar de quem encostou o adversário à parede. Não encostou. Numa campanha, qualquer debate, diálogo e entrecruzadas conferências de imprensa não são para que os candidatos se esclareçam reciprocamente, são para conduzirem os eleitores a uma conclusão. Assim, uma pergunta só é assassina quando empurra o opositor para aquele lugar que a opinião pública já tinha dele. Ora a convicção de que Cavaco Silva é desonesto não me parece que seja maioritária entre os portugueses. Se havia que atacá-lo sobre a compra e venda de acções do BPN, a maneira de o fazer não devia passar por uma pergunta a ele, mas por um dossier bem preparado. E o interlocutor não seria Cavaco Silva, mas os portugueses: ele fez isto, e isto não devia ser feito, por causa disto e disto. Essa explicação iria poupar-nos do "BPN, BPN, BPN, BPN..." que vamos tragar por semanas, prima direita do "Freeport, Freeport, Freeport..." que tragámos durante anos, ambas netas da nossa incapacidade de saber do que estamos a falar, sobretudo quando estamos a falar muito.
Da enxurrada de palavras preguiçosas ficamos a saber que há lucros de 140% e que Sócrates tem primos. Dá para fazer de conta, nos cafés, que seguimos o mundo. Mas é insuficiente para chegarmos a cidadãos conscientes.
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«DN» de 6 Jan 11