segunda-feira, 28 de março de 2011
sábado, 26 de março de 2011
Ao que chegámos…
.
Por Antunes Ferreira
DAS AGÊNCIAS - O jornal Financial Times ironiza esta sexta-feira com a situação portuguesa e sugere a anexação de Portugal pelo Brasil. Na coluna “Lex” é, ainda, assegurado que as maiores vantagens seriam para Portugal.
«A União Europeia considera Portugal problemático: sem governo, com alta resistência à austeridade e fraca performance económica crónica (o PIB estagnou na última década). As negociações são duras» prossegue o articulista que, depois, escreve: «Aqui está uma ideia inovadora para lidar com a situação: a anexação pelo Brasil». E faz de seguida o elenco das virtudes brasileiras: um país onde se fala português e onde o PIB tem crescido, em média, 4% ao ano na última década.
«Portugal seria uma grande província, mas longe de ser dominante: 5% da população e 10% do PIB», acrescenta a coluna que termina por apontar que «Claro, o antigo colonizador ia ressentir-se da perda de status. Mas a anterior colónia tem algo a oferecer, além de spreads mais baixos no crédito e défices corrente e do Estado proporcionalmente muito inferiores. O Brasil é um dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o centro emergente do poder mundial. Para casa, soa melhor do que a velha e cansada União Europeia».
Poderia, perfeitamente, ficar por aqui, pedindo apenas desculpa aos que me lêem por me contentar, preguiçoso, com a transcrição. Mas, acrescento umas linhas, pelo menos para me auto-penitenciar. O nosso ‘Sorumbático’ e o Carlos Medina Ribeiro não ficariam, também e por certo, muito satisfeitos com o autor destas linhas…
O diário económico (e não só) mais conhecido do Mundo goza com Portugal. Não posso classificar de outro modo, o texto que acima se lê. Com Portugal, principalmente, mas outrossim com o Brasil. Se nós merecemos ser assim tratados, já a grande Nação da outra margem do Atlântico, não. O desconchavo está em que o nosso pobre torrão se comporta tão mal que se sujeita a ser gozado desta maneira…
O jornal cor de salmão é originário do País que constitui com Portugal a mais velha Aliança da Europa. Mas, igualmente, o que originou o Mapa cor-de-rosa que antecedeu outra crise de tal ordem por aqui, que iria desaguar na substituição do regime político português. Entre as duas balizas, ficam uns quantos símbolos da colonização britânica entre nós, desde a Carris até aos TLP, desde o vinho do Porto até ao da Madeira. E por aí fora.
Ao estado a que chegámos. Motivo de galhofa, ainda que provinda de quem também anda arredado dos melhores caminhos, de quem perdeu um Império para se refugiar na Europa a que se refere, mas que não teve a coragem e a determinação suficientes para ter entrado no euro.
Tudo medido e tudo pesado, não posso deixar de me repetir: ao que nós chegámos…
DAS AGÊNCIAS - O jornal Financial Times ironiza esta sexta-feira com a situação portuguesa e sugere a anexação de Portugal pelo Brasil. Na coluna “Lex” é, ainda, assegurado que as maiores vantagens seriam para Portugal.
«A União Europeia considera Portugal problemático: sem governo, com alta resistência à austeridade e fraca performance económica crónica (o PIB estagnou na última década). As negociações são duras» prossegue o articulista que, depois, escreve: «Aqui está uma ideia inovadora para lidar com a situação: a anexação pelo Brasil». E faz de seguida o elenco das virtudes brasileiras: um país onde se fala português e onde o PIB tem crescido, em média, 4% ao ano na última década.
«Portugal seria uma grande província, mas longe de ser dominante: 5% da população e 10% do PIB», acrescenta a coluna que termina por apontar que «Claro, o antigo colonizador ia ressentir-se da perda de status. Mas a anterior colónia tem algo a oferecer, além de spreads mais baixos no crédito e défices corrente e do Estado proporcionalmente muito inferiores. O Brasil é um dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o centro emergente do poder mundial. Para casa, soa melhor do que a velha e cansada União Europeia».
Poderia, perfeitamente, ficar por aqui, pedindo apenas desculpa aos que me lêem por me contentar, preguiçoso, com a transcrição. Mas, acrescento umas linhas, pelo menos para me auto-penitenciar. O nosso ‘Sorumbático’ e o Carlos Medina Ribeiro não ficariam, também e por certo, muito satisfeitos com o autor destas linhas…
O diário económico (e não só) mais conhecido do Mundo goza com Portugal. Não posso classificar de outro modo, o texto que acima se lê. Com Portugal, principalmente, mas outrossim com o Brasil. Se nós merecemos ser assim tratados, já a grande Nação da outra margem do Atlântico, não. O desconchavo está em que o nosso pobre torrão se comporta tão mal que se sujeita a ser gozado desta maneira…
O jornal cor de salmão é originário do País que constitui com Portugal a mais velha Aliança da Europa. Mas, igualmente, o que originou o Mapa cor-de-rosa que antecedeu outra crise de tal ordem por aqui, que iria desaguar na substituição do regime político português. Entre as duas balizas, ficam uns quantos símbolos da colonização britânica entre nós, desde a Carris até aos TLP, desde o vinho do Porto até ao da Madeira. E por aí fora.
Ao estado a que chegámos. Motivo de galhofa, ainda que provinda de quem também anda arredado dos melhores caminhos, de quem perdeu um Império para se refugiar na Europa a que se refere, mas que não teve a coragem e a determinação suficientes para ter entrado no euro.
Tudo medido e tudo pesado, não posso deixar de me repetir: ao que nós chegámos…
quinta-feira, 24 de março de 2011
Solução 1154 gramas
OS DOIS leitores que mais se tenham aproximado deste valor têm 24h, a partir de agora, para escreverem para medina.ribeiro@gmail.com indicando morada e 2 dos livros que prefiram.
.
Actualização (20h08m): se não me enganei nas contas, o vencedor foi o leitor "500" (palpite 1135g, um erro de 19 gramas) e o 2.º classificado foi M. Araújo (palpite 1075g, erro de 104 gramas). Atenção agora ao prazo para reclamar os prémios, pois não haverá prorrogação.terça-feira, 22 de março de 2011
A minha Europa e a deles
.
«Expresso» de 19 Mar 11
Por Maria Filomena Mónica
EM 1962, fui viver para uma ilha, a Grã-Bretanha, situada dentro ou perto da Europa. Apaixonei-me logo pela civilização europeia, de que Portugal parecia estar, há séculos, arredado. Em 1986, quando Portugal aderiu à CEE, aprovei o gesto de forma incondicional. Mas o entusiasmo não durou. Não tardei a reparar que a União Europeia produzia subsídios para os agricultores, cotas para o pescado e regras sobre lâmpadas, mas não europeus.
Nesta organização, o poder é detido pelo Conselho da Europa, um somatório de interesses nacionais, e pela Comissão, uma casta que não responde perante ninguém. Regiamente pagos, os seus funcionários querem estar bem instalados. No ano passado, decidiram construir uma nova sede para o Conselho, com 40.000 m2, a qual custará uma fortuna. Por seu lado, o Parlamento é um clube itinerante onde apenas se debatem coisas menores, pelo que não espanta que os seus membros se vinguem, entretendo-se a pensar na forma de melhorar a vidinha. Como não há uma ligação real entre eles e os eleitores, fazem o que lhes passa pela cabeça.
Num momento de crise como aquele que atravessamos, não encontraram nada melhor do que proceder a um aumento generalizado das despesas correntes (dos 22 eurodeputados portugueses, só Miguel Portas votou contra). Além dos chorudos vencimentos que recebem, usufruem de 300 euros de ajudas de custo diárias quando estão em Bruxelas e Estrasburgo, têm direito a bilhete de avião de ida e volta em 1ª classe em 1ª classe para o país de origem (os serviços só compram passagens em turística quando recebem ordens expressas nesse sentido). Nem o mais ínfimo pormenor foi deixado ao acaso. O percurso entre a casa e o aeroporto – e vice-versa – é pago pela instituição, sendo o respectivo montante calculado em quilómetros. No corrente ano, para a contratação de «assistentes» (muitos deles familiares sem habilitações para o exercício das tarefas exigidas) passarão a dispor de uma verba mensal de 21.200 euros, ou seja, mais 3.000 do que em 2010. Não admira que a proposta do Orçamento para o corrente ano inclua, na rubrica «recursos dos deputados», um aumento de 27 milhões de euros.
Todos os empreendimentos colectivos – e a União Europeia é um deles - exigem confiança a quem neles está envolvido. Quando pagamos impostos é por imaginar que outros o farão e que, mais importante, o dinheiro será bem aplicado. Durante anos, os alemães subsidiaram as economias do sul, acreditando que tal contribuiria para criar uma Europa mais solidária. Depois do que se passou com as contas públicas dos PIGS – Portugal, Itália, Grécia e Espanha – o pacto está à beira da ruína. Os alemães não acreditam que o engº Sócrates saiba administrar o nosso dinheiro. Nem eu.
PS: Na última crónica, enganei-me no título do Observatório da Ajuda: é Astronómico e não Meteorológico. Peço desculpa aos leitores e aos astros.
.EM 1962, fui viver para uma ilha, a Grã-Bretanha, situada dentro ou perto da Europa. Apaixonei-me logo pela civilização europeia, de que Portugal parecia estar, há séculos, arredado. Em 1986, quando Portugal aderiu à CEE, aprovei o gesto de forma incondicional. Mas o entusiasmo não durou. Não tardei a reparar que a União Europeia produzia subsídios para os agricultores, cotas para o pescado e regras sobre lâmpadas, mas não europeus.
Nesta organização, o poder é detido pelo Conselho da Europa, um somatório de interesses nacionais, e pela Comissão, uma casta que não responde perante ninguém. Regiamente pagos, os seus funcionários querem estar bem instalados. No ano passado, decidiram construir uma nova sede para o Conselho, com 40.000 m2, a qual custará uma fortuna. Por seu lado, o Parlamento é um clube itinerante onde apenas se debatem coisas menores, pelo que não espanta que os seus membros se vinguem, entretendo-se a pensar na forma de melhorar a vidinha. Como não há uma ligação real entre eles e os eleitores, fazem o que lhes passa pela cabeça.
Num momento de crise como aquele que atravessamos, não encontraram nada melhor do que proceder a um aumento generalizado das despesas correntes (dos 22 eurodeputados portugueses, só Miguel Portas votou contra). Além dos chorudos vencimentos que recebem, usufruem de 300 euros de ajudas de custo diárias quando estão em Bruxelas e Estrasburgo, têm direito a bilhete de avião de ida e volta em 1ª classe em 1ª classe para o país de origem (os serviços só compram passagens em turística quando recebem ordens expressas nesse sentido). Nem o mais ínfimo pormenor foi deixado ao acaso. O percurso entre a casa e o aeroporto – e vice-versa – é pago pela instituição, sendo o respectivo montante calculado em quilómetros. No corrente ano, para a contratação de «assistentes» (muitos deles familiares sem habilitações para o exercício das tarefas exigidas) passarão a dispor de uma verba mensal de 21.200 euros, ou seja, mais 3.000 do que em 2010. Não admira que a proposta do Orçamento para o corrente ano inclua, na rubrica «recursos dos deputados», um aumento de 27 milhões de euros.
Todos os empreendimentos colectivos – e a União Europeia é um deles - exigem confiança a quem neles está envolvido. Quando pagamos impostos é por imaginar que outros o farão e que, mais importante, o dinheiro será bem aplicado. Durante anos, os alemães subsidiaram as economias do sul, acreditando que tal contribuiria para criar uma Europa mais solidária. Depois do que se passou com as contas públicas dos PIGS – Portugal, Itália, Grécia e Espanha – o pacto está à beira da ruína. Os alemães não acreditam que o engº Sócrates saiba administrar o nosso dinheiro. Nem eu.
PS: Na última crónica, enganei-me no título do Observatório da Ajuda: é Astronómico e não Meteorológico. Peço desculpa aos leitores e aos astros.
«Expresso» de 19 Mar 11
sábado, 19 de março de 2011
Eleições e soluções
.
Por Antunes Ferreira
AS ELEIÇÕES estão à porta. Trocam-se acusações, a crise foi originada pelo desgoverno, as finanças estão de rastos, os cidadãos cada vez mais desconfiados, farto de promessas está o Inferno cheio, as vitórias estão ali mesmo à biquinha, os maus (maus? Péssimos!) resultados têm de ser ultrapassados.
A crise é isso mesmo. Uma amálgama de maus procedimentos de há anos a esta parte, de ilusões frustradas, de tropeções constantes, de desencantos generalizados. Em suma: um real pot pourri. Nunca se tinha vivido uma como esta. As pessoas já deviam estar habituadas, já deviam saber o que a casa gastava, já deviam desconfiar dos que mandavam, c’os diabos, era a altura de mudar.
Mudar para quê? Para que tudo ficasse na mesma? Para que os bosses fossem sempre os mesmos, das mesmas famílias, dos mesmos desconchavos, dos mesmos procedimentos? Quando a dúvida se instala é mau; quando as dívidas o fazem é muito pior. É péssimo. Como pagá-las, esse é o busílis da questão.
Os adversários chegaram às últimas; só faltam mesmo as agressões físicas, a trolha, o pontapé, os olhos negros, a facada pelas costas. Também tu, bruto? Numa tal terra de cegos, um que tem um só olho é rei, diz a sabedoria popular e diz muito bem. Anda uma geração à rasca? Andamos todos. Ainda que sem manifestações de centenas de milhar.
Os elencos apresentam-se, os dinheiros são prometidos e garantidos. Nestes preparos, é tudo bem-vindo para que as coisas entrem nos eixos e, logo, que se levantem. Chega de rastejar na lama, basta de jogadas subterrâneas, está-se farto dos esgotos; viva quem vai ganhar, porque é sempre melhor estar do lado dos vencedores.
Estou, naturalmente, a falar das eleições no meu paupérrimo clube, de que nem sou sócio mas apenas simpatizante. A verde e branco, é óbvio. No Sporting Clube de Portugal; pois que mais havia de ser? Que são daqui a oito dias, a 26 deste mês e se esperam que sejam as mais concorridas de sempre. Ao contrário das outras, em que a abstenção sobe mais do que os juros da dívida pública.
Eram seis os candidatos, mas já desistiu um, o senhor Zeferino Boal de seu nome. Ficaram na luta os senhores Godinho Lopes, Bruno de Carvalho, Dias Ferreira, Pedro Baltazar e Abrantes Mendes. Todos se afirmam homens de bem, salvadores dos leões, carregados de euros, com fundos e… mundos.
Todos amam o clube desde pequeninos, alguns mesmo são sócios de berço, para não dizer uterinos. Todos têm treinadores de nomeada, todos apresentam jogadores do melhor que há pelo orbe fora, todos se rodeiam de figuras gradas, de velhas glórias, de ídolos do passado.
É o fartar vilanagem, é o regabofe. Se o leão está moribundo, todos lhe atiram… remédios miraculosos. Também diz o povo que antes a morte que tal sorte. Eu, não sendo associado, não vou votar. E se o fosse e se fosse votar era no Paulinho roupeiro. Tiro e queda.
AS ELEIÇÕES estão à porta. Trocam-se acusações, a crise foi originada pelo desgoverno, as finanças estão de rastos, os cidadãos cada vez mais desconfiados, farto de promessas está o Inferno cheio, as vitórias estão ali mesmo à biquinha, os maus (maus? Péssimos!) resultados têm de ser ultrapassados.
A crise é isso mesmo. Uma amálgama de maus procedimentos de há anos a esta parte, de ilusões frustradas, de tropeções constantes, de desencantos generalizados. Em suma: um real pot pourri. Nunca se tinha vivido uma como esta. As pessoas já deviam estar habituadas, já deviam saber o que a casa gastava, já deviam desconfiar dos que mandavam, c’os diabos, era a altura de mudar.
Mudar para quê? Para que tudo ficasse na mesma? Para que os bosses fossem sempre os mesmos, das mesmas famílias, dos mesmos desconchavos, dos mesmos procedimentos? Quando a dúvida se instala é mau; quando as dívidas o fazem é muito pior. É péssimo. Como pagá-las, esse é o busílis da questão.
Os adversários chegaram às últimas; só faltam mesmo as agressões físicas, a trolha, o pontapé, os olhos negros, a facada pelas costas. Também tu, bruto? Numa tal terra de cegos, um que tem um só olho é rei, diz a sabedoria popular e diz muito bem. Anda uma geração à rasca? Andamos todos. Ainda que sem manifestações de centenas de milhar.
Os elencos apresentam-se, os dinheiros são prometidos e garantidos. Nestes preparos, é tudo bem-vindo para que as coisas entrem nos eixos e, logo, que se levantem. Chega de rastejar na lama, basta de jogadas subterrâneas, está-se farto dos esgotos; viva quem vai ganhar, porque é sempre melhor estar do lado dos vencedores.
Estou, naturalmente, a falar das eleições no meu paupérrimo clube, de que nem sou sócio mas apenas simpatizante. A verde e branco, é óbvio. No Sporting Clube de Portugal; pois que mais havia de ser? Que são daqui a oito dias, a 26 deste mês e se esperam que sejam as mais concorridas de sempre. Ao contrário das outras, em que a abstenção sobe mais do que os juros da dívida pública.
Eram seis os candidatos, mas já desistiu um, o senhor Zeferino Boal de seu nome. Ficaram na luta os senhores Godinho Lopes, Bruno de Carvalho, Dias Ferreira, Pedro Baltazar e Abrantes Mendes. Todos se afirmam homens de bem, salvadores dos leões, carregados de euros, com fundos e… mundos.
Todos amam o clube desde pequeninos, alguns mesmo são sócios de berço, para não dizer uterinos. Todos têm treinadores de nomeada, todos apresentam jogadores do melhor que há pelo orbe fora, todos se rodeiam de figuras gradas, de velhas glórias, de ídolos do passado.
É o fartar vilanagem, é o regabofe. Se o leão está moribundo, todos lhe atiram… remédios miraculosos. Também diz o povo que antes a morte que tal sorte. Eu, não sendo associado, não vou votar. E se o fosse e se fosse votar era no Paulinho roupeiro. Tiro e queda.
sexta-feira, 18 de março de 2011
Passatempo de 18 Mar 11 - Solução
16h46m
Depois de uma grande trabalheira (que implicou virar o carro infractor ao contrário...) a EMEL lá levou o prevaricador.
Depois de uma grande trabalheira (que implicou virar o carro infractor ao contrário...) a EMEL lá levou o prevaricador.
16h49m
No local agora vago, um outro carro estaciona.
Atrás, um outro (da PSP) faz o mesmo. Dele saem 3 agentes, que atravessam a avenida e vão a um estabelecimento.
No local agora vago, um outro carro estaciona.
Atrás, um outro (da PSP) faz o mesmo. Dele saem 3 agentes, que atravessam a avenida e vão a um estabelecimento.
17h07m
Os agentes da PSP regressam ao carro-patrulha, vão-se embora, e tudo retorna à normalidade.
.
Curiosidade: este local é o chamado «Local D» dos Prémios António Costa - Ver [aqui].
Os agentes da PSP regressam ao carro-patrulha, vão-se embora, e tudo retorna à normalidade.
.
Curiosidade: este local é o chamado «Local D» dos Prémios António Costa - Ver [aqui].
quarta-feira, 16 de março de 2011
FRANCISCO LOUÇÃ, O REVOLUCIONÁRIO
.
«GQ» de Março 2010
Por Maria Filomena Mónica
DEZ ANOS depois da sua fundação, o Bloco de Esquerda pode orgulhar-se de ter hoje no Parlamento 16 deputados. Nascido da união de vários grupúsculos da Extrema-Esquerda, está em expansão, o que justifica o interesse pela personalidade do seu chefe. A 24 de Abril de 1974, então com 17 anos, Francisco Louçã era membro dos órgãos directivos da trotskista «Liga Comunista Internacionalista» (LCI). Nessa noite, depois de ter sido informado que iria ter lugar um golpe de Estado, deslocou-se para uma casa na Rua da Beneficência, em Lisboa. Começou logo a preparar acções de propaganda, entre as quais dois cartazes, com as seguintes frases «Nem mais um soldado para as colónias» e «Fim à Guerra Colonial, Independência já», a serem colocados na Praça da Figueira. Foi daqui que, às 8 horas da manhã, tentou juntar alguns camaradas, a fim de planear o que deveriam fazer após uma insurreição tida como vitoriosa.
Mas nada estava assegurado. No momento em que ele chegava à Baixa, o seu pai, o capitão-de-fragata Seixas Louçã, comandante do navio Almirante Gago Coutinho, descia o Tejo, integrado numa força da NATO prestes a rumar em direcção a Nápoles. A certa altura, recebeu indicações para sair da formatura, colocando-se em frente ao Terreiro do Paço, onde estavam estacionadas as forças rebeldes. O vice-chefe do Estado-Maior da Armada, contra-almirante Jaime Lopes, deu-lhe ordem para disparar. Alegando estar muita gente no local, além de cacilheiros a chegar e a partir, o comandante ter-se-á recusado, mas a eventual carnificina não impressionou o vice-chefe, que insistiu. O comandante optou então por mandar dar «uns tirinhos para o ar», uma ordem que os oficiais se recusaram a cumprir. Diante do Tejo, além das tropas de Salgueiro Maia, havia agora tanques do Regimento de Cavalaria 7, comandados por um alferes miliciano que optara por aderir ao Movimento, o mesmo tendo acontecido aos pelotões de Lanceiros 2.
Na Outra Banda, uma bateria da Escola Prática de Artilharia, que se juntara aos revoltosos, seguia os movimentos da fragata. Sob o nome de guerra de «Tigre», Otelo ordenava a «Charlie Oito» (Salgueiro Maia), que protegesse os blindados, após o que o comandante Vítor Crespo anulava a ordem dada ao comandante Louçã. Perto do meio-dia, este fundeava o navio no Alfeite. A 27 de Maio, solicitava a passagem à reserva, um pedido deferido pelo almirante Pinheiro de Azevedo, o qual não se absteve de lhe dizer: «Eh pá, você atrasou a revolução meia hora.» Não sabemos o que pai e filho se terão dito, mas uma coisa é certa: estivemos à beira de uma guerra civil. Em 1799, Goya publicou uma série de desenhos, os «Caprichos». Num dos mais famosos, o n.º 43, está inscrita a seguinte frase, «El sueño de la razon produce monstruos». O pintor conhecia por dentro os horrores que as utopias revolucionárias podem trazer ao mundo. A fragata nacional não disparou, mas jamais esqueci a frase, aliás ambígua, aposta na gravura espanhola.
O facto de ser descendente de um militar explica alguns traços de Francisco Louçã. Foi ao pai, e não ao avô materno, António Neves Anacleto, um algarvio que, tendo começado no anarquismo, acabou no PPD, que o líder do Bloco foi buscar o seu amor à disciplina. Aos 10 anos, numa redacção, defendia que as férias «servem para descansar, para estudar, e, naturalmente para atacar os pontos fracos nos estudos». Seu colega de turma, Santana Lopes conta que de tal forma o puritanismo do rapaz o irritava que, um dia, lhe prometera 20 escudos, se ele dissesse «merda» em voz alta, o que o outro teria recusado.
A rebeldia, se é que o termo se lhe aplica, reservava-a Francisco Louçã para a política. Em 1972, fora a França. Como tantos de nós, dirigiu-se à livraria Joie de Lire, no Quartier Latin, pertença de um militante trotskista. Era demasiado cedo – tinha apenas 15 anos – para saber o que desejava da vida. Marcelo Caetano resolveu-lhe o problema. No aniversário de uma amiga dos pais, ao saber que o jovem desejava ir para «Económicas», o Presidente do Conselho tentou dissuadi-lo, informando-o ser o ISCEF «um antro de comunistas». Tanto bastou para o entusiasmar. O menino viajou, estudou, casou, tendo hoje uma carreira académica respeitada. Mas nada disto alterou as suas ideias: o capitalismo é mau, o socialismo é bom, a globalização deve ser combatida. Que na adolescência se acredite em tais coisas, compreendo: o que me custa a perceber é como, passado o limiar dos 50 anos, alguém ainda assim pense.
DEZ ANOS depois da sua fundação, o Bloco de Esquerda pode orgulhar-se de ter hoje no Parlamento 16 deputados. Nascido da união de vários grupúsculos da Extrema-Esquerda, está em expansão, o que justifica o interesse pela personalidade do seu chefe. A 24 de Abril de 1974, então com 17 anos, Francisco Louçã era membro dos órgãos directivos da trotskista «Liga Comunista Internacionalista» (LCI). Nessa noite, depois de ter sido informado que iria ter lugar um golpe de Estado, deslocou-se para uma casa na Rua da Beneficência, em Lisboa. Começou logo a preparar acções de propaganda, entre as quais dois cartazes, com as seguintes frases «Nem mais um soldado para as colónias» e «Fim à Guerra Colonial, Independência já», a serem colocados na Praça da Figueira. Foi daqui que, às 8 horas da manhã, tentou juntar alguns camaradas, a fim de planear o que deveriam fazer após uma insurreição tida como vitoriosa.
Mas nada estava assegurado. No momento em que ele chegava à Baixa, o seu pai, o capitão-de-fragata Seixas Louçã, comandante do navio Almirante Gago Coutinho, descia o Tejo, integrado numa força da NATO prestes a rumar em direcção a Nápoles. A certa altura, recebeu indicações para sair da formatura, colocando-se em frente ao Terreiro do Paço, onde estavam estacionadas as forças rebeldes. O vice-chefe do Estado-Maior da Armada, contra-almirante Jaime Lopes, deu-lhe ordem para disparar. Alegando estar muita gente no local, além de cacilheiros a chegar e a partir, o comandante ter-se-á recusado, mas a eventual carnificina não impressionou o vice-chefe, que insistiu. O comandante optou então por mandar dar «uns tirinhos para o ar», uma ordem que os oficiais se recusaram a cumprir. Diante do Tejo, além das tropas de Salgueiro Maia, havia agora tanques do Regimento de Cavalaria 7, comandados por um alferes miliciano que optara por aderir ao Movimento, o mesmo tendo acontecido aos pelotões de Lanceiros 2.
Na Outra Banda, uma bateria da Escola Prática de Artilharia, que se juntara aos revoltosos, seguia os movimentos da fragata. Sob o nome de guerra de «Tigre», Otelo ordenava a «Charlie Oito» (Salgueiro Maia), que protegesse os blindados, após o que o comandante Vítor Crespo anulava a ordem dada ao comandante Louçã. Perto do meio-dia, este fundeava o navio no Alfeite. A 27 de Maio, solicitava a passagem à reserva, um pedido deferido pelo almirante Pinheiro de Azevedo, o qual não se absteve de lhe dizer: «Eh pá, você atrasou a revolução meia hora.» Não sabemos o que pai e filho se terão dito, mas uma coisa é certa: estivemos à beira de uma guerra civil. Em 1799, Goya publicou uma série de desenhos, os «Caprichos». Num dos mais famosos, o n.º 43, está inscrita a seguinte frase, «El sueño de la razon produce monstruos». O pintor conhecia por dentro os horrores que as utopias revolucionárias podem trazer ao mundo. A fragata nacional não disparou, mas jamais esqueci a frase, aliás ambígua, aposta na gravura espanhola.
O facto de ser descendente de um militar explica alguns traços de Francisco Louçã. Foi ao pai, e não ao avô materno, António Neves Anacleto, um algarvio que, tendo começado no anarquismo, acabou no PPD, que o líder do Bloco foi buscar o seu amor à disciplina. Aos 10 anos, numa redacção, defendia que as férias «servem para descansar, para estudar, e, naturalmente para atacar os pontos fracos nos estudos». Seu colega de turma, Santana Lopes conta que de tal forma o puritanismo do rapaz o irritava que, um dia, lhe prometera 20 escudos, se ele dissesse «merda» em voz alta, o que o outro teria recusado.
A rebeldia, se é que o termo se lhe aplica, reservava-a Francisco Louçã para a política. Em 1972, fora a França. Como tantos de nós, dirigiu-se à livraria Joie de Lire, no Quartier Latin, pertença de um militante trotskista. Era demasiado cedo – tinha apenas 15 anos – para saber o que desejava da vida. Marcelo Caetano resolveu-lhe o problema. No aniversário de uma amiga dos pais, ao saber que o jovem desejava ir para «Económicas», o Presidente do Conselho tentou dissuadi-lo, informando-o ser o ISCEF «um antro de comunistas». Tanto bastou para o entusiasmar. O menino viajou, estudou, casou, tendo hoje uma carreira académica respeitada. Mas nada disto alterou as suas ideias: o capitalismo é mau, o socialismo é bom, a globalização deve ser combatida. Que na adolescência se acredite em tais coisas, compreendo: o que me custa a perceber é como, passado o limiar dos 50 anos, alguém ainda assim pense.
«GQ» de Março 2010
domingo, 13 de março de 2011
sábado, 12 de março de 2011
Somos os primeiros
.
Por Antunes Ferreira
JÁ NOS HABITUÁMOS a ter o primeiro lugar em muitas questões europeias. Desta feita, até nos distanciámos do segundo classificado. Os aplausos são, por conseguinte, absolutamente desnecessários; o mérito dispensa as palmas. O que não nos dispensa de nos orgulharmos com a distinção: não é todos os dias que se nos reconhece a dianteira.
Passemos aos factos. De acordo com a Comunicação Social, Portugal é o país da Europa com mais fraudes na Saúde. Todos os anos, o Estado português é lesado em 839 milhões de euros.
Os dados foram revelados pela Rede Europeia de Combate à Fraude e Corrupção na Saúde, com Portugal a liderar o ranking que inclui 23 países. A seguir a nós, estão a Finlândia (722 milhões) e a Irlanda (709 milhões).
Bem pelo contrário a Alemanha (13 milhões), a Espanha (4,33 milhões) e a Áustria (1,39 milhões) estão no outro extremo da lista. Feliz exemplo do mosaico que é o Velho Continente, mas também o destes países bem comportados. Diz o saber popular que cada um é como cada qual, somos todos iguais, mas há uns mais iguais do que os outros.
O Senhor Paul Vincke, que é o presidente da Rede Europeia de Combate à Fraude e Corrupção, afirmou, face à lista, que o dinheiro que se perde com as fraudes na Europa dava para pagar um ano de salários a dois milhões e meio de enfermeiros. Nem com o aumento da dotação do famigerado Fundo Europeu a situação se equilibraria. Mais a mais, com o rotundo não de Frau Angela.
Quem diria que na União Europeia e arredores se verificaria um caso destes. Com membros diversos, cada cor seu paladar, o que não se esperava de todo. Ou antes, esperar-se esperava-se, mas alguns protagonistas eram impensáveis, como é o caso da Finlândia, que até tem a Casa do Pai Natal em Rovaniemi. Já não se pode acreditar em ninguém, sequer na própria sombra.
Volto ao nosso caso. Recentemente, uma investigação levantou a lebre quanto a mais de uma dezena de médicos, acusados de falsificação de receitas e de uso indevido do nome dos doentes. Mas, as fraudes resultaram da actividade de vários intervenientes desde o doente ao médico, passando pelos fornecedores de serviços, farmacêuticos, laboratórios e instituições da área da saúde. Enfim, o verdadeiro tudo-ao-molho-e-fé-em-Deus que o Senhor José Estebes celebrizou.
Estamos, portanto, de parabéns por mais esta performance. Neste particular e utilizando terminologia do ciclismo já não nos encontramos na cauda do pelotão comunitário. Bem pelo contrário; protagonizamos uma bem sucedida fuga, com o Hino à Alegria em fundo musical. O Senhor Ludwig van Beethoven deliraria.
Não existe vacina para este despautério verdadeiramente criminoso. E se houvesse, tantas seriam administradas que o Serviço Nacional de Saúde então é que abriria falência. Lá ficaria a Senhora Ministra no desemprego, tendo de aderir, aliás muito justa e justificadamente, à Geração à Rasca. Claro que sem pedir atestado médico para justificar a baixa.
JÁ NOS HABITUÁMOS a ter o primeiro lugar em muitas questões europeias. Desta feita, até nos distanciámos do segundo classificado. Os aplausos são, por conseguinte, absolutamente desnecessários; o mérito dispensa as palmas. O que não nos dispensa de nos orgulharmos com a distinção: não é todos os dias que se nos reconhece a dianteira.
Passemos aos factos. De acordo com a Comunicação Social, Portugal é o país da Europa com mais fraudes na Saúde. Todos os anos, o Estado português é lesado em 839 milhões de euros.
Os dados foram revelados pela Rede Europeia de Combate à Fraude e Corrupção na Saúde, com Portugal a liderar o ranking que inclui 23 países. A seguir a nós, estão a Finlândia (722 milhões) e a Irlanda (709 milhões).
Bem pelo contrário a Alemanha (13 milhões), a Espanha (4,33 milhões) e a Áustria (1,39 milhões) estão no outro extremo da lista. Feliz exemplo do mosaico que é o Velho Continente, mas também o destes países bem comportados. Diz o saber popular que cada um é como cada qual, somos todos iguais, mas há uns mais iguais do que os outros.
O Senhor Paul Vincke, que é o presidente da Rede Europeia de Combate à Fraude e Corrupção, afirmou, face à lista, que o dinheiro que se perde com as fraudes na Europa dava para pagar um ano de salários a dois milhões e meio de enfermeiros. Nem com o aumento da dotação do famigerado Fundo Europeu a situação se equilibraria. Mais a mais, com o rotundo não de Frau Angela.
Quem diria que na União Europeia e arredores se verificaria um caso destes. Com membros diversos, cada cor seu paladar, o que não se esperava de todo. Ou antes, esperar-se esperava-se, mas alguns protagonistas eram impensáveis, como é o caso da Finlândia, que até tem a Casa do Pai Natal em Rovaniemi. Já não se pode acreditar em ninguém, sequer na própria sombra.
Volto ao nosso caso. Recentemente, uma investigação levantou a lebre quanto a mais de uma dezena de médicos, acusados de falsificação de receitas e de uso indevido do nome dos doentes. Mas, as fraudes resultaram da actividade de vários intervenientes desde o doente ao médico, passando pelos fornecedores de serviços, farmacêuticos, laboratórios e instituições da área da saúde. Enfim, o verdadeiro tudo-ao-molho-e-fé-em-Deus que o Senhor José Estebes celebrizou.
Estamos, portanto, de parabéns por mais esta performance. Neste particular e utilizando terminologia do ciclismo já não nos encontramos na cauda do pelotão comunitário. Bem pelo contrário; protagonizamos uma bem sucedida fuga, com o Hino à Alegria em fundo musical. O Senhor Ludwig van Beethoven deliraria.
Não existe vacina para este despautério verdadeiramente criminoso. E se houvesse, tantas seriam administradas que o Serviço Nacional de Saúde então é que abriria falência. Lá ficaria a Senhora Ministra no desemprego, tendo de aderir, aliás muito justa e justificadamente, à Geração à Rasca. Claro que sem pedir atestado médico para justificar a baixa.
terça-feira, 8 de março de 2011
«Dito & Feito»
.
Por José António Lima
OS JUROS da dívida pública portuguesa, tanto a dez anos como a cinco anos, mantêm-se há 20 dias consecutivos acima do fatídico limiar dos 7%. Há um ano, sublinhe-se, estes mesmos juros impostos a Portugal situavam-se em metade, entre os 3% e os 4%.
É um custo da dívida insustentável por muito mais tempo. Daí que responsáveis internacionais, como a gestora francesa de activos Axa Investment, tenham esta semana alertado: «A Irlanda e a Grécia tiveram de pedir ajuda quando os seus custos de endividamento subiram para esse nível [dos 7%]» e, por isso, é de crer «que Portugal também o faça nas próximas semanas». A Grécia, recorde--se, viu-se obrigada a recorrer à ajuda externa e do FMI 17 dias depois de a sua taxa de juro ultrapassar os 7%. A Irlanda não chegou a resistir um mês.
MAS, enquanto também a Standard & Poors assinalava esta semana que Portugal «pode ver-se forçado a solicitar o Fundo Europeu de Emergência Financeira e o FMI», o Governo de José Sócrates, em desespero de causa, fazia publicar nos jornais dados provisórios e cosmeticamente cor-de-rosa da execução orçamental em Fevereiro. E o ministro Teixeira dos Santos aproveitava para se alijar - a ele e ao Governo - de responsabilidades: «Os nossos esforços terão de ser acompanhados também pelo esforço europeu. Espero que a Europa seja capaz de dar os passos decisivos que se impõem. Se não der estes passos, receio que todo este esforço seja em vão». Ou seja: se isto correr mal, a culpa não é nossa... mas da Europa, que não fez o que devia para nos ajudar - além, é claro, de financiar há anos e anos a nossa imparável dívida e de sustentar artificialmente o nosso incorrigível despesismo.
É o estilo Sócrates de recusar responsabilidades e de se vitimizar que aí está, de novo, em curso. Para as medidas adicionais de austeridade que se perfilam e para a inevitabilidade do recurso à ajuda externa. A culpa será, obviamente, dos outros. Dos mercados, da Europa, da ingrata senhora Merkel, dos partidos de oposição, etc. E não de quem nos governa há seis anos e conduziu o país a este buraco.
.Por José António Lima
OS JUROS da dívida pública portuguesa, tanto a dez anos como a cinco anos, mantêm-se há 20 dias consecutivos acima do fatídico limiar dos 7%. Há um ano, sublinhe-se, estes mesmos juros impostos a Portugal situavam-se em metade, entre os 3% e os 4%.
É um custo da dívida insustentável por muito mais tempo. Daí que responsáveis internacionais, como a gestora francesa de activos Axa Investment, tenham esta semana alertado: «A Irlanda e a Grécia tiveram de pedir ajuda quando os seus custos de endividamento subiram para esse nível [dos 7%]» e, por isso, é de crer «que Portugal também o faça nas próximas semanas». A Grécia, recorde--se, viu-se obrigada a recorrer à ajuda externa e do FMI 17 dias depois de a sua taxa de juro ultrapassar os 7%. A Irlanda não chegou a resistir um mês.
MAS, enquanto também a Standard & Poors assinalava esta semana que Portugal «pode ver-se forçado a solicitar o Fundo Europeu de Emergência Financeira e o FMI», o Governo de José Sócrates, em desespero de causa, fazia publicar nos jornais dados provisórios e cosmeticamente cor-de-rosa da execução orçamental em Fevereiro. E o ministro Teixeira dos Santos aproveitava para se alijar - a ele e ao Governo - de responsabilidades: «Os nossos esforços terão de ser acompanhados também pelo esforço europeu. Espero que a Europa seja capaz de dar os passos decisivos que se impõem. Se não der estes passos, receio que todo este esforço seja em vão». Ou seja: se isto correr mal, a culpa não é nossa... mas da Europa, que não fez o que devia para nos ajudar - além, é claro, de financiar há anos e anos a nossa imparável dívida e de sustentar artificialmente o nosso incorrigível despesismo.
É o estilo Sócrates de recusar responsabilidades e de se vitimizar que aí está, de novo, em curso. Para as medidas adicionais de austeridade que se perfilam e para a inevitabilidade do recurso à ajuda externa. A culpa será, obviamente, dos outros. Dos mercados, da Europa, da ingrata senhora Merkel, dos partidos de oposição, etc. E não de quem nos governa há seis anos e conduziu o país a este buraco.
«SOL» de 4 Mar 11
Etiquetas:
Autor convidado,
jal
Heresias da ciência…
.
«Números e Letras» - «Expresso» de 5 Mar 11
Por Nuno Crato
NO VERÃO de 1996 comecei a escrever para o Expresso sobre ciência. Daí até ao fim de 2010 escrevi artigos de divulgação, notícias, comentários e crónicas. O “Passeio Aleatório”, que ocupava este espaço, apareceu 351 vezes, ao longo de 10 anos. Como conseguiram os leitores e o Expresso aturarem-me durante tanto tempo? A verdade é que nunca este semanário alguma vez me pressionou para que escrevesse ou para que não escrevesse alguma coisa. Foi um exercício de liberdade.
O convite continua, agora para escrever sobre educação. O espaço será partilhado com três distintos cronistas, que escrevem sobre outros temas igualmente importantes. Para mim é um descanso. Para os leitores também.
Em educação, tal como em muitos outros temas, faz falta a liberdade de discutir e questionar as teorias que há vinte ou trinta anos dominam a teoria educativa. O espírito crítico e a razão podem ajudar-nos a questionar ideias caducas. Mas há uma ajuda mais poderosa. É a ciência. Sobretudo nas últimas décadas, a psicologia cognitiva, a economia da educação e outras áreas científicas têm vindo a questionar muitas ideias feitas e a colocar o debate educativo noutros moldes.
Basta folhear as revistas científicas. No mês passado, por exemplo, um grupo de investigadores das universidades de Chicago e Harvard, reportaram nos “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS) um estudo sobre as relações entre as palavras e a capacidade de representação numérica (doi: 10.1073/pnas.1015975108). Sabe-se, por vários estudos culturais comparativos, que a existência de palavras para representar números está associada à representação mental rigorosa de largas quantidades. Nas culturas que não têm palavras para números grandes (por exemplo, algumas tribos amazónicas não possuem numerais além de dois ou três), os indivíduos não conseguem avaliar com precisão quantidades elementares. Chamados a comparar dois conjuntos de elementos apresentados separadamente, confundem 7 com 10. Mas, nessas culturas, os indivíduos também não têm uma prática, por exemplo, em trocas comerciais, que os obriguem a desenvolver a contagem. Daí que seja difícil saber de onde vem a dificuldade, se da ausência de palavras que denotam as quantidades se da falta de prática numérica.
Neste estudo, os investigadores conseguiram dissociar os dois factores, analisando a capacidade de surdos-mudos que comunicam por meio de uma linguagem gestual própria e pouco rica, onde não existem símbolos para números, mas que estão integrados numa cultura (nicaraguense) em que há transacções comerciais frequentes e em que os números permeiam a vida. Descobriram que, apesar de conseguirem usar o dinheiro com precisão e fazer trocos acertadamente, em contagens abstractas esses surdos-mudos enganam-se mais do que os que estudaram a linguagem gestual convencional, em que existem elementos simbólicos distintos que representam quaisquer números inteiros.
Os investigadores concluíram que as lengalengas escolares, como a recitação da sequência de números (“um, dois, três, … “), que os alunos por vezes praticam ainda antes de saber o seu significado, ajudam posteriormente a identificar as quantidades. Não há mal em recitar a palavra “quatro”, mesmo antes de a entender, concluem, isso ajuda a identificar mais tarde o conceito. Por vezes, não há mal em se decorar sem se perceber, pois isso pode favorecer a compreensão dos conceitos. Que heresia para algumas teorias educativas! Ao que os cientistas se atrevem!
.NO VERÃO de 1996 comecei a escrever para o Expresso sobre ciência. Daí até ao fim de 2010 escrevi artigos de divulgação, notícias, comentários e crónicas. O “Passeio Aleatório”, que ocupava este espaço, apareceu 351 vezes, ao longo de 10 anos. Como conseguiram os leitores e o Expresso aturarem-me durante tanto tempo? A verdade é que nunca este semanário alguma vez me pressionou para que escrevesse ou para que não escrevesse alguma coisa. Foi um exercício de liberdade.
O convite continua, agora para escrever sobre educação. O espaço será partilhado com três distintos cronistas, que escrevem sobre outros temas igualmente importantes. Para mim é um descanso. Para os leitores também.
Em educação, tal como em muitos outros temas, faz falta a liberdade de discutir e questionar as teorias que há vinte ou trinta anos dominam a teoria educativa. O espírito crítico e a razão podem ajudar-nos a questionar ideias caducas. Mas há uma ajuda mais poderosa. É a ciência. Sobretudo nas últimas décadas, a psicologia cognitiva, a economia da educação e outras áreas científicas têm vindo a questionar muitas ideias feitas e a colocar o debate educativo noutros moldes.
Basta folhear as revistas científicas. No mês passado, por exemplo, um grupo de investigadores das universidades de Chicago e Harvard, reportaram nos “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS) um estudo sobre as relações entre as palavras e a capacidade de representação numérica (doi: 10.1073/pnas.1015975108). Sabe-se, por vários estudos culturais comparativos, que a existência de palavras para representar números está associada à representação mental rigorosa de largas quantidades. Nas culturas que não têm palavras para números grandes (por exemplo, algumas tribos amazónicas não possuem numerais além de dois ou três), os indivíduos não conseguem avaliar com precisão quantidades elementares. Chamados a comparar dois conjuntos de elementos apresentados separadamente, confundem 7 com 10. Mas, nessas culturas, os indivíduos também não têm uma prática, por exemplo, em trocas comerciais, que os obriguem a desenvolver a contagem. Daí que seja difícil saber de onde vem a dificuldade, se da ausência de palavras que denotam as quantidades se da falta de prática numérica.
Neste estudo, os investigadores conseguiram dissociar os dois factores, analisando a capacidade de surdos-mudos que comunicam por meio de uma linguagem gestual própria e pouco rica, onde não existem símbolos para números, mas que estão integrados numa cultura (nicaraguense) em que há transacções comerciais frequentes e em que os números permeiam a vida. Descobriram que, apesar de conseguirem usar o dinheiro com precisão e fazer trocos acertadamente, em contagens abstractas esses surdos-mudos enganam-se mais do que os que estudaram a linguagem gestual convencional, em que existem elementos simbólicos distintos que representam quaisquer números inteiros.
Os investigadores concluíram que as lengalengas escolares, como a recitação da sequência de números (“um, dois, três, … “), que os alunos por vezes praticam ainda antes de saber o seu significado, ajudam posteriormente a identificar as quantidades. Não há mal em recitar a palavra “quatro”, mesmo antes de a entender, concluem, isso ajuda a identificar mais tarde o conceito. Por vezes, não há mal em se decorar sem se perceber, pois isso pode favorecer a compreensão dos conceitos. Que heresia para algumas teorias educativas! Ao que os cientistas se atrevem!
«Números e Letras» - «Expresso» de 5 Mar 11
segunda-feira, 7 de março de 2011
As Universidades em Portugal
.
Por Maria Filomena Mónica
O QUE TÊM EM COMUM a Universidade de Lisboa, o Observatório Meteorológico da Ajuda e o Censo de 2011? Aparentemente nada. Vale todavia a pena olhar mais de perto. A propósito do Centenário daquela Universidade, o Reitor organizou uma série de «Cem Lições» proferidas por ex-alunos. Composta por meia dúzia de gatos-pingados, entre os quais me encontrava, a assistência revelou o óbvio: em Portugal, não existem Universidades.
Há alguns meses, um médico ordenou-me que andasse 40 minutos por dia. Comecei pela Tapada da Ajuda. Uma vez ali, deparei-me com o Observatório Meteorológico mandado construir, na década de 1850, por D. Pedro V. Faz este mês 150 anos que a primeira pedra foi por ele lançada. Apesar de o interior conter, ao que me dizem, um conjunto fascinante de instrumentos, não pode ser visto. Por outro lado, a beleza do edifício neo-clássico tão pouco estimulou o restauro. Perguntei a quem pertencia. A resposta deixou-me estupefacta: à Universidade de Lisboa.
Chegamos ao Censo de 2011: acabo de ser informada que 34% dos 50.000 candidatos à distribuição dos questionários porta a porta tem formação superior. Mas foi para esta tarefa que as Universidades andaram a preparar gente? É esta a geração «qualificada» de que o engº Sócrates gosta de falar? Como se sentirão os jovens que, dentro de dias, nos abordarão, envergando um colete verde reflector?
Se procurarmos averiguar quem são os responsáveis pela deplorável situação a que chegámos, temos que colocar, na primeira fila, os Ministros da Educação. Mas nem toda a responsabilidade é deles. Na medida em que, por preguiça ou indiferença, as Universidades abdicaram de ter uma palavra a dizer sobre os seus alunos, tornaram-se cúmplices. Por surpreendente que pareça, quem escolhe os jovens que entram no ensino superior é um computador.
Não minimizo as dificuldades sentidas, depois de 1974, pelas Universidades. Sem um passado em que ancorar os cursos, defrontando uma classe média exigindo que os filhos a ela tivessem acesso, não dispondo de um corpo docente qualificado, o regime democrático viu-se perante um problema. A direita, por covardia, e a esquerda, por convicção, acordaram em que o ingresso na Universidade era um direito fundamental. Ora, pela sua natureza, esta é elitista.
Uma boa Universidade é uma comunidade. A ausência de salas quer para professores que para alunos revela o que ali se passa: os docentes chegam, dão as aulas e desaparecem. Eis tudo. Ora, longe de ser uma corrida durante a qual os concorrentes procuram chegar em primeiro lugar, uma Universidade é o local onde tem lugar uma conversa. Sim, uma conversa, ou seja, um debate. Eis o que não existe. Olho a Universidade como o fazia Almeida Garrett quando falava dos frades, em Viagens na Minha Terra. Tenho saudades, não do que foi, mas do que poderia ter sido. Quando a critico, não é baseada em sentimentos nostálgicos, mas em nome daquilo que, em 1974, imaginei ser possível.
.
«Expresso» de 5 Mar 11
O QUE TÊM EM COMUM a Universidade de Lisboa, o Observatório Meteorológico da Ajuda e o Censo de 2011? Aparentemente nada. Vale todavia a pena olhar mais de perto. A propósito do Centenário daquela Universidade, o Reitor organizou uma série de «Cem Lições» proferidas por ex-alunos. Composta por meia dúzia de gatos-pingados, entre os quais me encontrava, a assistência revelou o óbvio: em Portugal, não existem Universidades.
Há alguns meses, um médico ordenou-me que andasse 40 minutos por dia. Comecei pela Tapada da Ajuda. Uma vez ali, deparei-me com o Observatório Meteorológico mandado construir, na década de 1850, por D. Pedro V. Faz este mês 150 anos que a primeira pedra foi por ele lançada. Apesar de o interior conter, ao que me dizem, um conjunto fascinante de instrumentos, não pode ser visto. Por outro lado, a beleza do edifício neo-clássico tão pouco estimulou o restauro. Perguntei a quem pertencia. A resposta deixou-me estupefacta: à Universidade de Lisboa.
Chegamos ao Censo de 2011: acabo de ser informada que 34% dos 50.000 candidatos à distribuição dos questionários porta a porta tem formação superior. Mas foi para esta tarefa que as Universidades andaram a preparar gente? É esta a geração «qualificada» de que o engº Sócrates gosta de falar? Como se sentirão os jovens que, dentro de dias, nos abordarão, envergando um colete verde reflector?
Se procurarmos averiguar quem são os responsáveis pela deplorável situação a que chegámos, temos que colocar, na primeira fila, os Ministros da Educação. Mas nem toda a responsabilidade é deles. Na medida em que, por preguiça ou indiferença, as Universidades abdicaram de ter uma palavra a dizer sobre os seus alunos, tornaram-se cúmplices. Por surpreendente que pareça, quem escolhe os jovens que entram no ensino superior é um computador.
Não minimizo as dificuldades sentidas, depois de 1974, pelas Universidades. Sem um passado em que ancorar os cursos, defrontando uma classe média exigindo que os filhos a ela tivessem acesso, não dispondo de um corpo docente qualificado, o regime democrático viu-se perante um problema. A direita, por covardia, e a esquerda, por convicção, acordaram em que o ingresso na Universidade era um direito fundamental. Ora, pela sua natureza, esta é elitista.
Uma boa Universidade é uma comunidade. A ausência de salas quer para professores que para alunos revela o que ali se passa: os docentes chegam, dão as aulas e desaparecem. Eis tudo. Ora, longe de ser uma corrida durante a qual os concorrentes procuram chegar em primeiro lugar, uma Universidade é o local onde tem lugar uma conversa. Sim, uma conversa, ou seja, um debate. Eis o que não existe. Olho a Universidade como o fazia Almeida Garrett quando falava dos frades, em Viagens na Minha Terra. Tenho saudades, não do que foi, mas do que poderia ter sido. Quando a critico, não é baseada em sentimentos nostálgicos, mas em nome daquilo que, em 1974, imaginei ser possível.
.
sábado, 5 de março de 2011
O ovo de Colombo
.
Por Antunes Ferreira
É DO CONHECIMENTO geral que as coisas vão de mal a pior por estas nossas bandas. Tudo o que é gente e/ou instituição que se preze vem vaticinando o futuro mais negro para Portugal. Dos mimos das agências de rating até aos solavancos que continuam sobre os juros da dívida soberana lusa, a questão já é apenas saber-se quando o FMI ou o Fundo de Estabilização Europeu põem aqui a bota.
Bem se esforçam Sócrates e Teixeira dos Santos por tentar passar a mensagem que se resume facilmente: não precisamos de «ajuda» externa para nada. Safamo-nos sozinhos. O paternal ditador de Santa Comba Dão falava no «orgulhosamente sós». Tratava-se do problema colonial, ou ultramarino, para o regime. Sem pretender mais do que recordar a afirmação calina, não faço comparações espúrias.
Andamos numa roda-viva em busca de um iluminado que ponha em pé o ovo mágico que resolveria o imbróglio. Mas, o Mestre Cristóvão já se finou há tempo suficiente para inviabilizar a procura e muito menos a solução. Bom seria se conseguíssemos atingir o objectivo; porém, nem a Senhora Merkel consegue tal milagre ovíparo. É muito chato, mas é.
Este assunto, traz-me à memória uma estória muito curiosa que aconteceu na Bolívia. Essa agora?, perguntar-me-ão. Eu conto-a para os que ainda me conseguem seguir, corajosa e denodadamente. Nos princípios do século passado tinha sido fundado em La Paz «El Diario». O seu primeiro director e proprietário foi um nome grande do jornalismo boliviano: Don Jose Carrasco Torrico.
Homem ocupadíssimo, como se compreende, por vezes as inúmeras solicitações que tinha impediam-no de estar tão presente no periódico tanto quanto ele desejava. Mas, uma coisa havia que para ele era sagrada: o editorial quotidiano. Estivesse onde estivesse, o escrito chegava pontualmente à tipografia. Nem um terramoto abalaria essa determinação.
O 12 de Outubro de 1492 foi a data do descobrimento da América; por isso se tornou no Dia da Raça. A figura de Cristóvão Colombo, autor confesso da ocorrência, foi por inúmeras vezes citada na Imprensa e sempre associada ao famoso episódio do ovo em pé.
Num desses dias, Don Jose Carrasco, episodicamente fora do jornal, enviou por mensageiro o seu texto intitulado precisamente El huevo de Colón. O linotipista de serviço iniciou de imediato a composição, mas logo no título lhe surgiu uma dúvida. Huevo, na gíria da fala castelhana menos educada tem ou outro significado.
O bom homem pensou que el señor Director nunca utilizara, nem utilizaria tal calão. E dada a ausência do editorialista, o compositor permitiu-se a correcção que entendeu absolutamente necessária. No dia seguinte, «El Diario» publicava o editorial intitulado El testículo de Colón. Isto porque o termo lhe pareceu mais correcto e menos indelicado. Imaginam-se as reacções e as gargalhadas do público, a actuação de Don Carrasco e as consequências para o zeloso tipógrafo.
Neste nosso pobre País, a estória parece-me ser adequada, ainda que com uma ligeira adaptação: é o que se diz meter o tomate na virilha. Para não utilizar terminologia mais vernácula. Isto é que vai uma crise.
É DO CONHECIMENTO geral que as coisas vão de mal a pior por estas nossas bandas. Tudo o que é gente e/ou instituição que se preze vem vaticinando o futuro mais negro para Portugal. Dos mimos das agências de rating até aos solavancos que continuam sobre os juros da dívida soberana lusa, a questão já é apenas saber-se quando o FMI ou o Fundo de Estabilização Europeu põem aqui a bota.
Bem se esforçam Sócrates e Teixeira dos Santos por tentar passar a mensagem que se resume facilmente: não precisamos de «ajuda» externa para nada. Safamo-nos sozinhos. O paternal ditador de Santa Comba Dão falava no «orgulhosamente sós». Tratava-se do problema colonial, ou ultramarino, para o regime. Sem pretender mais do que recordar a afirmação calina, não faço comparações espúrias.
Andamos numa roda-viva em busca de um iluminado que ponha em pé o ovo mágico que resolveria o imbróglio. Mas, o Mestre Cristóvão já se finou há tempo suficiente para inviabilizar a procura e muito menos a solução. Bom seria se conseguíssemos atingir o objectivo; porém, nem a Senhora Merkel consegue tal milagre ovíparo. É muito chato, mas é.
Este assunto, traz-me à memória uma estória muito curiosa que aconteceu na Bolívia. Essa agora?, perguntar-me-ão. Eu conto-a para os que ainda me conseguem seguir, corajosa e denodadamente. Nos princípios do século passado tinha sido fundado em La Paz «El Diario». O seu primeiro director e proprietário foi um nome grande do jornalismo boliviano: Don Jose Carrasco Torrico.
Homem ocupadíssimo, como se compreende, por vezes as inúmeras solicitações que tinha impediam-no de estar tão presente no periódico tanto quanto ele desejava. Mas, uma coisa havia que para ele era sagrada: o editorial quotidiano. Estivesse onde estivesse, o escrito chegava pontualmente à tipografia. Nem um terramoto abalaria essa determinação.
O 12 de Outubro de 1492 foi a data do descobrimento da América; por isso se tornou no Dia da Raça. A figura de Cristóvão Colombo, autor confesso da ocorrência, foi por inúmeras vezes citada na Imprensa e sempre associada ao famoso episódio do ovo em pé.
Num desses dias, Don Jose Carrasco, episodicamente fora do jornal, enviou por mensageiro o seu texto intitulado precisamente El huevo de Colón. O linotipista de serviço iniciou de imediato a composição, mas logo no título lhe surgiu uma dúvida. Huevo, na gíria da fala castelhana menos educada tem ou outro significado.
O bom homem pensou que el señor Director nunca utilizara, nem utilizaria tal calão. E dada a ausência do editorialista, o compositor permitiu-se a correcção que entendeu absolutamente necessária. No dia seguinte, «El Diario» publicava o editorial intitulado El testículo de Colón. Isto porque o termo lhe pareceu mais correcto e menos indelicado. Imaginam-se as reacções e as gargalhadas do público, a actuação de Don Carrasco e as consequências para o zeloso tipógrafo.
Neste nosso pobre País, a estória parece-me ser adequada, ainda que com uma ligeira adaptação: é o que se diz meter o tomate na virilha. Para não utilizar terminologia mais vernácula. Isto é que vai uma crise.
Subscrever:
Mensagens (Atom)