Por Alice Vieira
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MORREU a Isa Meireles.
Há quatro dias.
Com direito a um obituário rigorosamente igual em toda a parte: jornalista, começou no “Diário Ilustrado”, andou pelo “Diário de Lisboa” e “Capital”, estava reformada, passava dos 70, morreu de repente.
E fico cheia de remorsos porque, durante anos, a Isa Meireles fez parte do meu quotidiano e agora, ao ler a notícia tão breve da sua morte, dou comigo, sem querer, a murmurar: “julgava que já tinha morrido.”
De repente, ou porque a nossa vida se modifica, ou porque o trabalho nos desgasta, ou porque escolhemos caminhos diferentes, ou sei lá porquê, vamos esquecendo pessoas que nos pareciam imprescindíveis, com quem privámos no trabalho, com quem nos cruzámos diariamente, vamos desabituando a nossa boca de pronunciar os seus nomes, vamos esquecendo o som das suas vozes.
Gostava de saber em que momento da minha vida comecei a esquecer a Isa Meireles, mas não sei. Sei que durante anos nunca pensei nela, e agora, quando de repente o seu nome regressa à minha memória, só me vem à boca aquela frase terrível: julgava que já tinha morrido.
Há uns sites de bem-fazer na net, uma coisa chamada “Click to Give”, que todas as manhãs nos recordam a nossa obrigação de clicar para lá porque, a partir desse nosso simples gesto, podemos ajudar crianças a ter livros, ou o planeta a ser mais verde, ou mulheres necessitadas a fazerem mamografias, ou os animais a serem mais bem tratados, ou mil outras coisas urgentes. Pelo menos é o que nos dizem. E nós acreditamos, claro. E clicamos. Todos os dias. Sem faltar um.
Devia haver uma coisa parecida em relação aos nossos amigos.
Assim que abríssemos o computador, logo uma organização qualquer se encarregava de nos enviar a lista de todos os amigos de quem não nos poderíamos esquecer nunca, nem um só dia, e a gente clicava, clicava , e por cada vez que clicasse o amigo recebia de nós a palavra necessária, e a certeza de que, nem que fosse pelo espaço de um segundo, tínhamos pensado nele.
E sempre que arranjamos tempo para pensar num amigo - nem que seja por um segundo - tornamo-nos melhores pessoas.
Nem são precisos grandes discursos. Uma palavra apenas. A que eu gostaria de me ter lembrado de dizer à Isa Meireles durante estes anos todos de esquecimento.
Porque às vezes basta uma única palavra para nos salvar o dia. Para nos salvar a vida.
Há quatro dias.
Com direito a um obituário rigorosamente igual em toda a parte: jornalista, começou no “Diário Ilustrado”, andou pelo “Diário de Lisboa” e “Capital”, estava reformada, passava dos 70, morreu de repente.
E fico cheia de remorsos porque, durante anos, a Isa Meireles fez parte do meu quotidiano e agora, ao ler a notícia tão breve da sua morte, dou comigo, sem querer, a murmurar: “julgava que já tinha morrido.”
De repente, ou porque a nossa vida se modifica, ou porque o trabalho nos desgasta, ou porque escolhemos caminhos diferentes, ou sei lá porquê, vamos esquecendo pessoas que nos pareciam imprescindíveis, com quem privámos no trabalho, com quem nos cruzámos diariamente, vamos desabituando a nossa boca de pronunciar os seus nomes, vamos esquecendo o som das suas vozes.
Gostava de saber em que momento da minha vida comecei a esquecer a Isa Meireles, mas não sei. Sei que durante anos nunca pensei nela, e agora, quando de repente o seu nome regressa à minha memória, só me vem à boca aquela frase terrível: julgava que já tinha morrido.
Há uns sites de bem-fazer na net, uma coisa chamada “Click to Give”, que todas as manhãs nos recordam a nossa obrigação de clicar para lá porque, a partir desse nosso simples gesto, podemos ajudar crianças a ter livros, ou o planeta a ser mais verde, ou mulheres necessitadas a fazerem mamografias, ou os animais a serem mais bem tratados, ou mil outras coisas urgentes. Pelo menos é o que nos dizem. E nós acreditamos, claro. E clicamos. Todos os dias. Sem faltar um.
Devia haver uma coisa parecida em relação aos nossos amigos.
Assim que abríssemos o computador, logo uma organização qualquer se encarregava de nos enviar a lista de todos os amigos de quem não nos poderíamos esquecer nunca, nem um só dia, e a gente clicava, clicava , e por cada vez que clicasse o amigo recebia de nós a palavra necessária, e a certeza de que, nem que fosse pelo espaço de um segundo, tínhamos pensado nele.
E sempre que arranjamos tempo para pensar num amigo - nem que seja por um segundo - tornamo-nos melhores pessoas.
Nem são precisos grandes discursos. Uma palavra apenas. A que eu gostaria de me ter lembrado de dizer à Isa Meireles durante estes anos todos de esquecimento.
Porque às vezes basta uma única palavra para nos salvar o dia. Para nos salvar a vida.
«JN» de 31 de Agosto de 2008
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NOTA-1: eventuais comentários deverão ser afixados no Sorumbático - e não aqui.
NOTA-2: não foi possível encontrar uma foto de Isa Meireles para aqui afixar. Se algum leitor tiver alguma, agradecemos que a envie para sorumbatico@iol.pt