Por Antunes Ferreira
… e, de supetão, Aníbal Cavaco Silva originou uma confusão durante a campanha eleitoral. Nestas coisas, há sempre quem ganhe e há sempre também quem perca. Diz a sabedoria popular que entre os dois venha o Diabo e escolha. E da actuação da Presidência da República neste particular muito ainda se há-de falar.
Não é que Belém deu com a língua nos dentes numa questão polémica? Pense-se o que se pensar, o Presidente é considerado o Supremo Magistrado da Nação. Não vem ao caso discutir-se a veracidade ou a dimensão ou o significado da expressão. O almirante Américo Tomás era o venerando Chefe do Estado, lembram-se? E pouco riscava – antes da queda do dr. Salazar. Depois foi o que se viu. Mas não se discutia a expressão.
Veja-se, agora, o que aconteceu. E, se ainda houver capacidade para tal, pasme-se. A imparcialidade - que deve ser regra fundamental e por isso incontornável do Palácio cor-de-rosa – foi-se num ápice. Uma escorregadela impensável veio lançar, evidentemente, a dúvida nos espíritos. Qual das duas partes teria razão. E até ao momento em que escrevo (velho nariz de cera ainda dentro do prazo de validade) nem um esclarecimento saiu à rua. Só depois das eleições deste domingo, ao que tudo indica.
Mas, vamos a factos. Diz quem sabe destas coisas que, informalmente, tanto a Presidência como os bispos portugueses sabiam da vinda do Papa, aguardando só a luz verde do Vaticano para divulgá-la. A Conferência Episcopal, a dar fé no que se afirma – e esta é verdadeiramente uma questão de fé - preferia o correspondente anúncio após as eleições, mas o Presidente antecipou-se, originando o desconforto dos prelados. Claro que, de imediato, surgia a justificação: a comunicação surgira de Roma ao final do dia: por lapso, ela apenas chegou a Belém.
Disse o Diário de Notícias ontem mesmo que «o anúncio da visita do Papa a Portugal, feito no site da Presidência da República, causou mal-estar entre os bispos e Belém. O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, Manuel Morujão, disse ao DN que estava prevista a divulgação dessa informação depois das eleições de domingo. Mas a luz verde do Vaticano chegou mais cedo e Cavaco Silva não hesitou em fazer o anúncio, mesmo sem o concertar com os bispos».
Pergunta-se: e porquê só depois das urnas? Morujão estranhou aos microfones da Renascença «a antecipação da Presidência da República» quanto à forma e ao timing do anúncio, quando estava previsto que este acontecesse num período pós-eleitoral, «mais calmo e tranquilo». Realmente sábios os bispos nacionais. Sábios e esclarecedores. E previdentes.
Ontem ainda, e em primeiro lugar, um comunicado do Presidente da República vinha lançar luz sobre o equívoco. De seguida foi o citado porta-voz da Conferência Episcopal que corrigiu as informações anteriores. Cavaco Silva escreveu que «o conteúdo e o momento deste anúncio foram acordados entre a Presidência da República e o Vaticano, através da embaixada de Portugal junto da Santa Sé».
E logo o episcopado deu a sua versão. «A Conferência Episcopal, que como é natural estava a par da vinda do Papa e tinha decidido fazer a comunicação de tão importante evento na próxima semana, não recebeu esta última confirmação oficial, para poder acertar com a Presidência da República a sua concertada comunicação». Tudo claro, tudo límpido, nada a apontar – a ninguém. A não ser ao Papa, sabe-se lá porquê.
Estes esclarecimentos rápidos, concisos e precisos, são sempre de grande utilidade na relação Órgãos de Soberania e povo. A forma atempada como são feitos é, realmente de louvar. Os cidadãos gostam de ser informados. E até há quem diga que têm o direito a isso. Em todas as circunstâncias e em todos os acontecimentos menos claros ou mais esconsos. A utilização dos dois pesos e das duas medidas não interessa a ninguém. Obviamente.
… e, de supetão, Aníbal Cavaco Silva originou uma confusão durante a campanha eleitoral. Nestas coisas, há sempre quem ganhe e há sempre também quem perca. Diz a sabedoria popular que entre os dois venha o Diabo e escolha. E da actuação da Presidência da República neste particular muito ainda se há-de falar.
Não é que Belém deu com a língua nos dentes numa questão polémica? Pense-se o que se pensar, o Presidente é considerado o Supremo Magistrado da Nação. Não vem ao caso discutir-se a veracidade ou a dimensão ou o significado da expressão. O almirante Américo Tomás era o venerando Chefe do Estado, lembram-se? E pouco riscava – antes da queda do dr. Salazar. Depois foi o que se viu. Mas não se discutia a expressão.
Veja-se, agora, o que aconteceu. E, se ainda houver capacidade para tal, pasme-se. A imparcialidade - que deve ser regra fundamental e por isso incontornável do Palácio cor-de-rosa – foi-se num ápice. Uma escorregadela impensável veio lançar, evidentemente, a dúvida nos espíritos. Qual das duas partes teria razão. E até ao momento em que escrevo (velho nariz de cera ainda dentro do prazo de validade) nem um esclarecimento saiu à rua. Só depois das eleições deste domingo, ao que tudo indica.
Mas, vamos a factos. Diz quem sabe destas coisas que, informalmente, tanto a Presidência como os bispos portugueses sabiam da vinda do Papa, aguardando só a luz verde do Vaticano para divulgá-la. A Conferência Episcopal, a dar fé no que se afirma – e esta é verdadeiramente uma questão de fé - preferia o correspondente anúncio após as eleições, mas o Presidente antecipou-se, originando o desconforto dos prelados. Claro que, de imediato, surgia a justificação: a comunicação surgira de Roma ao final do dia: por lapso, ela apenas chegou a Belém.
Disse o Diário de Notícias ontem mesmo que «o anúncio da visita do Papa a Portugal, feito no site da Presidência da República, causou mal-estar entre os bispos e Belém. O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, Manuel Morujão, disse ao DN que estava prevista a divulgação dessa informação depois das eleições de domingo. Mas a luz verde do Vaticano chegou mais cedo e Cavaco Silva não hesitou em fazer o anúncio, mesmo sem o concertar com os bispos».
Pergunta-se: e porquê só depois das urnas? Morujão estranhou aos microfones da Renascença «a antecipação da Presidência da República» quanto à forma e ao timing do anúncio, quando estava previsto que este acontecesse num período pós-eleitoral, «mais calmo e tranquilo». Realmente sábios os bispos nacionais. Sábios e esclarecedores. E previdentes.
Ontem ainda, e em primeiro lugar, um comunicado do Presidente da República vinha lançar luz sobre o equívoco. De seguida foi o citado porta-voz da Conferência Episcopal que corrigiu as informações anteriores. Cavaco Silva escreveu que «o conteúdo e o momento deste anúncio foram acordados entre a Presidência da República e o Vaticano, através da embaixada de Portugal junto da Santa Sé».
E logo o episcopado deu a sua versão. «A Conferência Episcopal, que como é natural estava a par da vinda do Papa e tinha decidido fazer a comunicação de tão importante evento na próxima semana, não recebeu esta última confirmação oficial, para poder acertar com a Presidência da República a sua concertada comunicação». Tudo claro, tudo límpido, nada a apontar – a ninguém. A não ser ao Papa, sabe-se lá porquê.
Estes esclarecimentos rápidos, concisos e precisos, são sempre de grande utilidade na relação Órgãos de Soberania e povo. A forma atempada como são feitos é, realmente de louvar. Os cidadãos gostam de ser informados. E até há quem diga que têm o direito a isso. Em todas as circunstâncias e em todos os acontecimentos menos claros ou mais esconsos. A utilização dos dois pesos e das duas medidas não interessa a ninguém. Obviamente.