Por José António Lima
NUM EXERCÍCIO ANALÍTICO, frio e racional, é evidente que uma vitória de Manuela Ferreira Leite no próximo dia 27 criava o cenário ideal para a candidatura presidencial de Manuel Alegre. Com o PSD e o CDS no poder, mesmo sem maioria no Parlamento, toda a esquerda tocaria a rebate para impedir um novo triunfo da direita e a reeleição de Cavaco Silva em Janeiro de 2011. Do Bloco de Esquerda ao PS, passando pelo PCP, todos ultrapassariam rapidamente as divergências e ressentimentos recíprocos para se mobilizarem em torno da candidatura unitária, frentista e salvadora de Manuel Alegre – o unificador da esquerda. Uma esquerda que, ainda por cima, apesar de ter perdido as legislativas, contaria mais de50%dos votos contra apenas 40% da direita. Ao mesmo tempo, em Belém, Cavaco ver-se-ia obrigado, ao longo de 2010 e face a um Governo de Ferreira Leite sem uma base parlamentar maioritária, a um equilíbrio institucional melindroso e desgastante. E forçado a intervenções políticas que poderiam reduzir o espaço da sua recandidatura presidencial.
A vitória de Ferreira Leite nas legislativas é, pois, um tentador fascínio para Manuel Alegre. Mas também um risco político a que não pode ficar associado. A verificar-se tal hipótese, Alegre não quer ser acusado, na noite de 27 de Setembro, de ter contribuído, por ausência ou omissão na campanha de Sócrates, para a derrota do PS e da esquerda. Daí que o Manuel Alegre que, há pouco mais de um ano, afirmava sem rodeios: «Claro que já não me revejo neste PS», que, há dois meses, encurtava o fim da sua longa carreira de deputado socialista, que, há um mês, criticava as exclusões nas listas de um «PS que vai gravemente mutilado às legislativas» e que, há uma semana, garantia que só entraria na campanha marginalmente ao lado de poucos amigos, seja o mesmíssimo Manuel Alegre que vai agora aparecer em grande plano ao lado de Sócrates no comício de Coimbra. Deste PS no qual não se revê.
Não é, como se percebe, o PS que está refém de Alegre e do seu virtual (porque meramente conjuntural e irrecuperável) milhão de votos. Mas, sim, Alegre que se tornou um refém político-presidenciável do PS. E um refém, além do mais, preocupado, quando já há, no Largo do Rato, quem sugira candidaturas alternativas – e de peso – a Belém, como a de Jaime Gama.
NUM EXERCÍCIO ANALÍTICO, frio e racional, é evidente que uma vitória de Manuela Ferreira Leite no próximo dia 27 criava o cenário ideal para a candidatura presidencial de Manuel Alegre. Com o PSD e o CDS no poder, mesmo sem maioria no Parlamento, toda a esquerda tocaria a rebate para impedir um novo triunfo da direita e a reeleição de Cavaco Silva em Janeiro de 2011. Do Bloco de Esquerda ao PS, passando pelo PCP, todos ultrapassariam rapidamente as divergências e ressentimentos recíprocos para se mobilizarem em torno da candidatura unitária, frentista e salvadora de Manuel Alegre – o unificador da esquerda. Uma esquerda que, ainda por cima, apesar de ter perdido as legislativas, contaria mais de50%dos votos contra apenas 40% da direita. Ao mesmo tempo, em Belém, Cavaco ver-se-ia obrigado, ao longo de 2010 e face a um Governo de Ferreira Leite sem uma base parlamentar maioritária, a um equilíbrio institucional melindroso e desgastante. E forçado a intervenções políticas que poderiam reduzir o espaço da sua recandidatura presidencial.
A vitória de Ferreira Leite nas legislativas é, pois, um tentador fascínio para Manuel Alegre. Mas também um risco político a que não pode ficar associado. A verificar-se tal hipótese, Alegre não quer ser acusado, na noite de 27 de Setembro, de ter contribuído, por ausência ou omissão na campanha de Sócrates, para a derrota do PS e da esquerda. Daí que o Manuel Alegre que, há pouco mais de um ano, afirmava sem rodeios: «Claro que já não me revejo neste PS», que, há dois meses, encurtava o fim da sua longa carreira de deputado socialista, que, há um mês, criticava as exclusões nas listas de um «PS que vai gravemente mutilado às legislativas» e que, há uma semana, garantia que só entraria na campanha marginalmente ao lado de poucos amigos, seja o mesmíssimo Manuel Alegre que vai agora aparecer em grande plano ao lado de Sócrates no comício de Coimbra. Deste PS no qual não se revê.
Não é, como se percebe, o PS que está refém de Alegre e do seu virtual (porque meramente conjuntural e irrecuperável) milhão de votos. Mas, sim, Alegre que se tornou um refém político-presidenciável do PS. E um refém, além do mais, preocupado, quando já há, no Largo do Rato, quem sugira candidaturas alternativas – e de peso – a Belém, como a de Jaime Gama.
«SOL» de 18 de Setembro de 2009