Por José António Lima
SOBRE O CASO TVI, não compliquemos o que é simples. Nem baralhemos o que é elementar. Não há boas práticas nem critérios lúcidos de gestão que justifiquem o afastamento pelos accionistas de quem, como José Eduardo Moniz, levou a TVI à liderança de audiências e de rentabilidade das televisões portuguesas – a não ser razões de insustentável choque de poderes ou de forte condicionamento político. E não há argumentos empresariais que sustentem o encerramento do telejornal mais visto dos canais portugueses, o Jornal Nacional de Manuela Moura Guedes, às sextas-feiras – a não ser motivos de ordem político-partidária e governamental.
Nem eram precisas as pseudo-justificações dos administradores da Prisa, de uma indigência quase infantil, para se confirmar que os saneamentos de Moniz e Moura Guedes da TVI obedeceram a uma lógica de intromissão política. A pergunta subsequente é óbvia: a quem servem tais afastamentos? Quem se sentia politicamente incomodado com os noticiários e a informação da TVI?
José Sócrates não conseguiu esconder, nos últimos meses, a obsessão persecutória e a ira visceral que nutria em relação às notícias da TVI. No Congresso do PS, colocou a TVI na linha de mira do tiro ao alvo. Numa entrevista à RTP, excedeu-se a falar de um «telejornal travestido» e de «caça ao homem». No Parlamento, perdeu a cabeça quando confrontado com o significado da eventual saída de Moniz.
Como pode, depois de tudo isso, garantir, com cara de santo, que não teve «qualquer influência» nas demissões levadas a cabo pelos seus amigos da Prisa? Na autoria moral, deixando de lado a material, deste atropelo à liberdade de informação estão, por todo o lado, as suas impressões digitais.
Nos traços da obcecada animosidade deste Governo em relação aos órgãos de comunicação social que mantêm a sua independência crítica e não temem as pressões de S. Bento – como a TVI, o Público ou o SOL – está o ADN da intolerância de Sócrates e a noção de que tudo pode controlar com o seu transitório poder. Só mesmo figuras como Augusto Santos Silva, ministro de serviço para os sarilhos governativos, ou Emídio Rangel, socratista na reserva para o espaço televisivo, são capazes de jurar a pés juntos que Sócrates não teve qualquer interferência nos saneamentos da TVI. Além deles, mais alguém acredita?
«SOL» de 11 de Setembro de 2009