sexta-feira, 25 de setembro de 2009

«Dito & Feito»

.
Por José António Lima

NAS LEGISLATIVAS de 2005, José Sócrates recebeu o voto de 2.573.406 portugueses. Quatro anos depois, nas europeias de Junho passado, o apoio eleitoral a Sócrates reduziu-se drasticamente para 946.265 votos – menos um milhão e 600 mil votantes, uma quebra de 60% do seu eleitorado de 2005.

São números, quer o de 2005 quer o de 2009, que impressionam. Pelos extremos opostos a que chegaram. E que servem para recentrar e relativizar, para lá das sondagens, as expectativas quanto ao voto no próximo domingo.

O histórico afluxo de votos que Sócrates recebeu em 2005 foi, sobretudo, a consequência do cansaço do eleitorado com os três anos de governação da coligação PSD/CDS e, em especial, dos impensáveis meses finais do Governo de Santana Lopes. O país estava farto de irresponsabilidades em S. Bento e deu ao PS e a Sócrates tudo o que eles lhe pediram. Entretanto, ao fim de quatro anos e meio de reformas (na maioria parcelares, muitas inacabadas e quase todas impopulares), de crescente autoritarismo e arrogância, de crise sempre presente e de desemprego incessante, com Portugal cada ano mais atrasado na Europa desenvolvida, o país começou a fartar-se de Sócrates. Viu-se bem nas europeias.

Mesmo que aumente para o dobro, no domingo, os votos de 7 de Junho, Sócrates não passará de um resultado eleitoral de 31%. Para chegar aos 40% teria de captar mais um milhão e meio de eleitores do que conseguiu há três meses e meio. E, para repetir a maioria absoluta, o PS e Sócrates teriam que multiplicar por três a recente votação das europeias. Nem a falta de vocação política e a falta de jeito de Manuela Ferreira Leite para a liderança permitem ao PS alimentar tal sonho.

Manuela Ferreira Leite não conseguiu nas europeias, com todos os factores, objectivos e subjectivos, e ventos políticos a seu favor, subir acima dos 31,7%, mesmo com o PS em queda vertiginosa – um resultado que não consente agora, após uma campanha do PSD sem chama nem esperança, alimentar veleidades de um resultado muito diferente.

E, qualquer que seja a expressão dos números na noite de domingo, iremos viver a seguir uma experiência inédita. A de ver um líder partidário, derrotado e de saída, sofrer o calvário de ter que suportar 15 penosos dias em campanha autárquica.

«SOL» de 24 de Setembro de 2009