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Por Maria Filomena Mónica
O LOUVOR NÃO ME VEM FACILMENTE ao espírito, mas o clima de partida para férias parece ter sido propício a uma atitude mais descontraída da que me é usual. Já com as malas feitas, deambulei, sem compasso nem relógio, pela cidade onde nasci, Lisboa, tendo descoberto duas preciosidades: os eléctricos da Carris e o jardim da Fundação Gulbenkian.
Por ser distraída, só recentemente notei que o eléctrico com o qual me cruzo todos os dias não só estava livre da publicidade que o poluía, mas tinha sido impecavelmente brunido. E não é apenas no «28» que isto sucede. Muitos dos que pelas ruas circulam - esqueço deliberadamente as lombrigas da zona ribeirinha – foram recuperados. É-me agora mais fácil imaginar Carlos da Maia e João da Ega a correr, na rampa de Santos, para apanhar um deles, a fim de irem jantar com os amigos ao Hotel Bragança. A Carris está de parabéns.
Como o está a Fundação Gulbenkian. Lisboa não tem espaços verdes e os poucos que tem – como o Parque Eduardo VII – são feios. Em 1961, uma comissão escolheu dois arquitectos paisagistas – Gonçalo Ribeiro Teles e António Viana Barreto – para desenhar o parque destinado a enquadrar o edifício que albergaria a sede da Fundação. Embora se tivesse mantido bonito, o espaço tinha-se deteriorado. Apesar de, nos últimos tempos, pouco o ter frequentado, até eu o notara. Ontem, por o consultório do meu dentista ficar a dois passos, decidi dar uma volta pelo jardim.
A primeira sensação foi a de que não estava em Lisboa, mas dentro de um paquete ancorado algures no universo. Cá fora, ficava uma cidade suja, poeirenta e caótica; lá dentro, havia riachos com pedregulhos, velhos eucaliptos e uma relva felpuda. Entre a mata, a clareira e as sebes, plantadas com o dinheiro legado pelo sr. Calouste Gulbenkian, consegui usufruir do silêncio que tão necessário me é. Lisboa deve a Ribeiro Teles e a António Viana Barreto uma obra-prima. Espero que lhes esteja grata.
Por Maria Filomena Mónica
O LOUVOR NÃO ME VEM FACILMENTE ao espírito, mas o clima de partida para férias parece ter sido propício a uma atitude mais descontraída da que me é usual. Já com as malas feitas, deambulei, sem compasso nem relógio, pela cidade onde nasci, Lisboa, tendo descoberto duas preciosidades: os eléctricos da Carris e o jardim da Fundação Gulbenkian.
Por ser distraída, só recentemente notei que o eléctrico com o qual me cruzo todos os dias não só estava livre da publicidade que o poluía, mas tinha sido impecavelmente brunido. E não é apenas no «28» que isto sucede. Muitos dos que pelas ruas circulam - esqueço deliberadamente as lombrigas da zona ribeirinha – foram recuperados. É-me agora mais fácil imaginar Carlos da Maia e João da Ega a correr, na rampa de Santos, para apanhar um deles, a fim de irem jantar com os amigos ao Hotel Bragança. A Carris está de parabéns.
Como o está a Fundação Gulbenkian. Lisboa não tem espaços verdes e os poucos que tem – como o Parque Eduardo VII – são feios. Em 1961, uma comissão escolheu dois arquitectos paisagistas – Gonçalo Ribeiro Teles e António Viana Barreto – para desenhar o parque destinado a enquadrar o edifício que albergaria a sede da Fundação. Embora se tivesse mantido bonito, o espaço tinha-se deteriorado. Apesar de, nos últimos tempos, pouco o ter frequentado, até eu o notara. Ontem, por o consultório do meu dentista ficar a dois passos, decidi dar uma volta pelo jardim.
A primeira sensação foi a de que não estava em Lisboa, mas dentro de um paquete ancorado algures no universo. Cá fora, ficava uma cidade suja, poeirenta e caótica; lá dentro, havia riachos com pedregulhos, velhos eucaliptos e uma relva felpuda. Entre a mata, a clareira e as sebes, plantadas com o dinheiro legado pelo sr. Calouste Gulbenkian, consegui usufruir do silêncio que tão necessário me é. Lisboa deve a Ribeiro Teles e a António Viana Barreto uma obra-prima. Espero que lhes esteja grata.
Jun 2008