sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Ao segundo…

Por Antunes Ferreira
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O QUE É UM SEGUNDO? Para quem vive anonimamente a sua vida, não é nada. Poder-se-ia dizer nada de significativo, mas a expressão mais trivial e comezinha é a primeira. Queremos nós lá saber de um segundo? Dado adquirido é que sessenta fazem um minuto. E depois? Sessenta minutos também compõem uma hora e não se batem palmas por isso. Se o Einstein afirmou que tudo é relativo e nós acreditámos, como diria o Senhor de La Palice, tudo o que é relativo é… relativo.
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«Para quem tem pressa para ver o fim de 2008, uma má notícia: na quarta-feira da passagem do ano, à meia-noite, os "donos do tempo" acrescentarão um segundo ao ano que acaba, com o objectivo de ajustar a hora dos relógios ao tempo solar.»
Este é o início do texto distribuído pela France Press no dia 30 do falecido Dezembro de 2008. E foi mesmo assim. A população mundial não se deve ter apercebido, cós diabos, não se apercebeu dessa soma um tanto à sorrelfa que, por decisão de um tal Serviço Internacional da Rotação da Terra e dos Sistemas de Referências (IERS), cujo escritório central fica no Observatório de Paris. Falou e disse.
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Pensando bem, o culpado real deste acerto ao segundo é o movimento de rotação da Terra em torno do seu eixo. Coisa interessante. A ciência tem destas coisas. Pode o comum mortal, quase sempre desatento a estas minudências, estar sossegado. Os cientistas, esses, tal como os caçadores, estão de olho alerta e dedo no gatilho. E não falham, ao contrário dos devotos de Santo Huberto, que tantas vezes erram a pontaria.
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Por isso o acerto do segundo em causa na entrada do corrente. Veio, pois, atrasado, o 2009 que nos caiu em sorte. Toda a gente pressagiara que os 365 dias ora em curso seriam muito difíceis. Até o PR o afirmou na sua mensagem de Ano Novo. Um tanto repetitiva, já que uma quantidade substancial de políticos & correlativos fizera anteriormente o mesmo alerta. De Sócrates a Teixeira dos Santos, pelo menos. Até à hora em que é produzido este textículo, com x, não fora possível ao autor saber qual teria sido a posição do Professor Bambo. Mas, por certo, não desafinaria do tom geral.
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Terá Nostradamus profetizado este segundo metediço e trapalhão? Terá Galileu feito parte da conjura? Será que a Pitonisa, em Delfos, também se terá conluiado com os restantes? Basta de perguntas e de elucubrações. Não se quer aqui desenhar uma associação de malfeitores cujo objectivo foi impedir a chegada atempada do imprevisível 2009. Mas lá que chegou – chegou.
Foi só um segundo. Embora. Coloque-se ao Bolt, ao Phelps, ao Obikwelu, só para citar alguns dos mais interessados, o que significa para eles essa unidade de tempo diminuta e responderão em termos de décimos e de centésimos, no mínimo. Mas, não vamos mais longe: e as partidas e chegadas dos comboios da CP? Terá Paris consultado a REFER? Tudo indica que não. Uma vez mais o anátema de País periférico? Quem sabe?
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Quando o escriba namorava a actual cara-metade, um segundo de atraso ou, até, de adiantamento, não era tido em conta pela destinatária das atenções. Já um conjunto substancial de segundos acumulados era motivo de recriminação e, quiçá, do clássico já não gostas de mim como dantes. Ah grande Albert. Só tu compreendeste estes transes de Cupido atrasado por esquecimento das flechas.Pronto, não se fala mais nisso. Isso, no segundo em causa, minudência não despicienda, mas sem motivo para grandes reparos. Porra! Foi só um segundinho. Já se vêm os informáticos a clamar perante esta insensibilidade cibernética – e as bases de dados? E o espacial (um satélite pode percorrer vários quilómetros num segundo), e as redes de computador, e o GPS e a internet? Foi, por isso, indispensável que o Mundo todo acertasse os seus relógios no mesmo momento. De acordo com a gente do Observatório de Paris, o último reajustamento havia sido feito em 2005, e o próximo deve acontecer em 2012 ou 2013. Ver-se-á no que isto vai dar. Ainda que num País atrasado como é o nosso, um segundo de atraso é para rir a bandeiras despregadas. Que me desculpem os cientistas – mas somos assim.
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