sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Marchar, marchar

.
Por Antunes Ferreira
.
(…) UM HOMEM QUE TINHA PELO MENOS quatro filhos em três anos!... Era quase um partido! As palavras são de Gervásio Lobato, no seu «Lisboa em Camisa» de 1890. A tradição do anátema sobre os partidos políticos vem de longe, em Portugal. Poder-se-á dizer – e muito correctamente – que não é só no nosso País. Mas, como disse Clement Attle no Parlamento britânico, respondendo ao primeiro-ministro Churchill, «com o mal dos Alemães, não impedimos que nos bombardeiem». Ou seja, o ditado «com o mal dos outros podemos nós» nem é inédito, nem é original.
.
O ditador de Santa Comba tinha ódio aos partidos – e afirmava do alto da cátedra de São Bento, que os Portugueses estavam completamente desiludidos com eles. E revoltados contra eles. Este é apenas um exemplo do que nos habituámos a ouvir dizer – e a dizer. Estar contra os partidos é estar contra a Democracia. Porque, por piores que sejam ou estejam, sem eles não existe.
.
Veja-se: em 1851, o duque de Saldanha, esse mesmo, o da praça, fundou com mais uns quantos políticos o Partido Regenerador. O rotativismo da monarquia constitucional portuguesa tinha nele um dos pólos da política. O outro era o Partido Progressista. Consultem-se as actas da Câmara de então e ver-se-á o que cada um dizia do outro. E pode-se também ler o que os cidadãos diziam de ambos. Para quê mais referências?
.
Neste momento de aperto – estamos certificados e diplomados neste particular – a tecla é repetidamente batida: os culpados disto tudo são os políticos e os partidos. Isto apesar de não nos termos, todos, apercebido do que é uma verdadeira crise. Ou, pior: os que dela têm consciência (e não são tão poucos assim) agem como se ela não existisse. Ou fingem.
.
Será que no fingir é que está o gato? Sim, e a todos os níveis. Pessoa escreveu que «o poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir a dor, a dor que deveras sente». Dando de barato que somos um país de poetas, por que bulas na política não haveria de cumprir-se esta sentença? Andamos todos a fingir? Sim, é assim. Os que fingem que sabem – e os que fingem que não sabem. Que raio de gente tínhamos de ser…
.
Dentre os diversos casos que decorrem, uma vez mais se diz haver motivo para se acusar partidos e políticos. José Sócrates é um mentiroso total e permanente, e, agora, sabe-se, corrupto - afirma-se. Que põe em causa o PS, pelo menos. E o partido com sede no Rato é um ninho de víboras que escolheu para o chefiar um tal crápula – acusa-se.
.
Manuela Ferreira Leite é uma inconveniente praticante que, de cada vez que abre a boca, dá tiros diversos nos próprios pés, mas igualmente no PSD – comenta-se. E, cós diabos, andavam a dormir os militantes laranjas quando a levaram a presidente do partido? – pergunta-se? A tese do Morfeu partidário é chefiada pelo antecessor da economista, o médico Luís Filipe Menezes – relembra-se.
.
Mas parece que os dorminhocos são espécie que recheia os partidos. Com algumas, poucas excepções? No PCP? No BE? Nestes, o que se diz sobre os sonos e eventuais ressonares não sai a terreiro – constata-se. São, tão só, dois exemplos. Se confirmam a regra, ou não, é questão a avaliar oportunamente, com as devidas cautelas e de posse dos elementos comprovativos. A este propósito, cartas rogatórias are not welcome.
.
Sendo assim, continuamos com o folhetim de Alcochete em velocidade acelerada. A pool position já foi há uns anitos. A bandeira axadrezada é que ainda não foi agitada. Nem se sabe quando será. Somos assim, contra os partidos. E contra os políticos. Marchar, marchar.