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Por Maria Filomena Mónica
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CELEBRA-SE HOJE [Set 2007] o Dia Mundial da Pessoas com Doença de Alzheimer, a enfermidade mais tenebrosa que conheço. É por saber que cada vez mais gente dela virá a sofrer que penso valer a pena reflectir sobre o assunto. Recordemos alguns factos. Há duzentos anos, morria-se entre os 30 e os 40 anos e, no caso das mulheres, muito antes, uma vez que uma percentagem elevada de grávidas não aguentava os partos. Existia um ciclo estabelecido: mortos os antecessores, os casais dedicavam-se à educação dos filhos.
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É esta situação que tem vindo a alterar-se. Actualmente, os indivíduos com cinquenta anos têm de cuidar, em simultâneo, de pais em processo de fragilidade acelerada e de adolescentes atravessando turbilhões emocionais. No caso das mulheres, a tentativa de conciliar ambas as tarefas – para não falar do trabalho - pode ser destrutiva, uma vez que o sentido do dever lhes dilacera o coração. Dado que o mundo não vai mudar, só vejo um remédio: envolver os homens, os quais, deixados a si, pretenderão sempre libertar-se de compromissos dolorosos. Finalmente, quando imersas em tragédias deste tipo, as mulheres têm de admitir que cuidar de si é legítimo: um ser emocionalmente arruinado não ajuda quem quer que seja. Ao fazê-lo, a «geração sanduíche» não está a ser egoísta, mas a tentar sobreviver.
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Eis que, no meio disto, apareceu uma comissão oficial anunciando que o governo tem como meta o prolongamento das nossas vidas. Além de constituir uma patetice – trata-se certamente de uma extrapolação das estatísticas – devo alertar o engº Sócrates para o facto de ninguém lhe ter encomendado o recado. É por saber que a Medicina moderna consegue milagres indesejáveis que já redigi um «testamento em vida». Doravante, ninguém me poderá ligar, sem o meu assentimento, a um ventilador, nem alimentar-me através de um tubo naso-gástrico. No que me diz respeito, desejo morrer em paz.
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Setembro de 2007
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