.
Por Maria Filomena Mónica
.
EM VÉSPERAS DAS FÉRIAS GRANDES, o Ministério da Educação tende a entrar em delírio. O presente ano lectivo não foi excepção: basta pensar nas provas de aferição, em que, num teste de Português do 6º ano, os alunos foram autorizados a dar erros de ortografia. Para os pedagogos a soldo do Ministério, a maneira como os meninos se exprimem não tem, pelos vistos, qualquer importância. Habituada a dislates pedagógicos, já não me deveria escandalizar, mas tenho um feitio impossível.
.
Embora há muito não trabalhe neste campo, sou doutorada em Sociologia da Educação, o que me dá alguma capacidade para espreitar por detrás das aparências. E o que nos bastidores se passa é horrendo. Sob a retórica igualitária, que pulula nestes círculos, sob os discursos dos pedagogos que dizem ser preciso valorizar os «saberes» que os alunos trazem de casa, sob a máscara de uma escola para todos, estamos a destruir o futuro das crianças mais pobres.
.
Não tenham dúvidas: os alunos que mais sofrem com as experiências pedagógicas que o Ministério inventa são os que mais precisariam de que a escola funcionasse bem, porque, para eles, e só para eles, ela é o único caminho para uma vida melhor. Numa escola que minimiza a importância de se escrever (e de se pensar) bem, essa possibilidade fica-lhes vedada. Ora, a escola actual nada lhes dá. Eles pagam-lhe na mesma moeda, ou seja, deixam-na à primeira oportunidade. Não admira que, por essas cidades, encontremos bandos de jovens que, apesar de terem frequentado a escola durante seis, sete ou oito anos, não sabem ler, contar, nem escrever.
.
A política educativa tem consistido num plano, certamente inconsciente mas efectivo, para impedir que os jovens que, há apenas uma geração, trabalhavam no campo e nas fábricas, possam subir na vida, entrando em competição com os filhos dos ricos. Enquanto não tivermos uma boa escola pública, a ideia de que existe uma sociedade onde vigora a igualdade de oportunidades é um mito.
A política educativa tem consistido num plano, certamente inconsciente mas efectivo, para impedir que os jovens que, há apenas uma geração, trabalhavam no campo e nas fábricas, possam subir na vida, entrando em competição com os filhos dos ricos. Enquanto não tivermos uma boa escola pública, a ideia de que existe uma sociedade onde vigora a igualdade de oportunidades é um mito.
-
Junho de 2007
Sem comentários:
Enviar um comentário