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Por Nuno Crato
JÁ VERIFICOU SE O SEU DEDO INDICADOR é mais pequeno que o anelar? Se assim for, é provável que o leitor seja uma pessoa mais aventureira e disposta a correr riscos do que se acontecer o contrário. Não acredita? Julga que estamos a ler a sina na palma da mão? Eu também não acreditava, até que reparei num artigo acabado de sair na revista da Academia de Ciências dos Estados Unidos (PNAS). Trata-se uma revista séria e muito bem cotada. E o artigo em questão (doi: 10.1073/pnas.0810907106), assinado por três investigadores de Cambridge, é um modelo de análise estatística, de rigor e de simplicidade.
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John M. Coates, assim se chama o líder do estudo, é um cientista que tem estudado a correlação entre essa medida fisiológica, aparentemente banal, e a assertividade, a predisposição para o risco, a aptidão desportiva e outras características humanas. O seu trabalho insere-se numa linha de investigação que tem cerca de 30 anos e que tem vindo a acumular indícios sobre a conexão entre o comprimento desses dois dedos e as características hormonais dos indivíduos, sobretudo os indivíduos do sexo masculino.
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A relação entre o comprimento do indicador e o do anelar, é conhecida como o rácio entre o segundo e o quarto dedos (2D:4D — “second-to-fourth finger ratio”). Costuma ser medida na mão direita, desde o topo de cada dedo até ao correspondente vinco de base, na palma da mão. Sabe-se que, em regra, um dedo anelar mais comprido, portanto um rácio mais pequeno, indica que o indivíduo teve um desenvolvimento fetal mais afectado por agentes andróginos, o que o predispõe a um nível mais elevado de hormonas masculinas. É evidente que esta medida, 2D:4D, é apenas um indicador desse nível hormonal, mas é um indicador muito prático, uma vez que é relativamente fácil medi-lo. Neste trabalho, por exemplo, bastaram aos investigadores fotocópias das mãos dos indivíduos.
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Há alguns meses, John Coates e os seus colegas tinham estudado os níveis de testosterona nos agentes da bolsa de Londres e tinham verificado que o sucesso nas transacções aumentava esses níveis, tornando os corretores excessivamente audaciosos. Os fracassos, pelo contrário, estimulavam a circulação de cortisol, que pode causar uma prudência exagerada. Com o novo estudo, os investigadores de Cambridge, procuraram ver se havia alguma associação entre o sucesso dos corretores da bolsa de Londres e o rácio dos seus dedos.
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Estudaram agora 44 indivíduos, escolhidos por serem os que fazem transacções de alta frequência, ou seja, transacções que são decididas em segundos, mantidas durante pouco tempo, habitualmente uns minutos, e depois desfeitas. Nestas transações rápidas, compram-se activos financeiros, habitualmente os chamados “futuros”, isto é, direitos sobre preços futuros de mercadorias. Esses activos são imediatamente vendidos, mal os preços evoluam favoravelmente. É um tipo de transacções em que não há tempo para fazer análises cuidadas e em que a capacidade de decidir rapidamente e arriscar elevadas quantias é absolutamente crucial.
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Como medida do sucesso dos indivíduos, os investigadores usaram os lucros que eles obtiveram. Os resultados foram estatisticamente significativos. A capacidade de cada corretor para gerar lucros e o tempo que este aguenta uma vida activa nesta profissão estão negativamente correlacionados com o rácio 2D:4D. Há quem diga que são más notícias: haverá alturas em que a gestão dos mercados financeiros se baseia mais na adrenalina do que na racionalidade.
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«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 24 de Janeiro de 2009
Por Nuno Crato
JÁ VERIFICOU SE O SEU DEDO INDICADOR é mais pequeno que o anelar? Se assim for, é provável que o leitor seja uma pessoa mais aventureira e disposta a correr riscos do que se acontecer o contrário. Não acredita? Julga que estamos a ler a sina na palma da mão? Eu também não acreditava, até que reparei num artigo acabado de sair na revista da Academia de Ciências dos Estados Unidos (PNAS). Trata-se uma revista séria e muito bem cotada. E o artigo em questão (doi: 10.1073/pnas.0810907106), assinado por três investigadores de Cambridge, é um modelo de análise estatística, de rigor e de simplicidade.
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John M. Coates, assim se chama o líder do estudo, é um cientista que tem estudado a correlação entre essa medida fisiológica, aparentemente banal, e a assertividade, a predisposição para o risco, a aptidão desportiva e outras características humanas. O seu trabalho insere-se numa linha de investigação que tem cerca de 30 anos e que tem vindo a acumular indícios sobre a conexão entre o comprimento desses dois dedos e as características hormonais dos indivíduos, sobretudo os indivíduos do sexo masculino.
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A relação entre o comprimento do indicador e o do anelar, é conhecida como o rácio entre o segundo e o quarto dedos (2D:4D — “second-to-fourth finger ratio”). Costuma ser medida na mão direita, desde o topo de cada dedo até ao correspondente vinco de base, na palma da mão. Sabe-se que, em regra, um dedo anelar mais comprido, portanto um rácio mais pequeno, indica que o indivíduo teve um desenvolvimento fetal mais afectado por agentes andróginos, o que o predispõe a um nível mais elevado de hormonas masculinas. É evidente que esta medida, 2D:4D, é apenas um indicador desse nível hormonal, mas é um indicador muito prático, uma vez que é relativamente fácil medi-lo. Neste trabalho, por exemplo, bastaram aos investigadores fotocópias das mãos dos indivíduos.
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Há alguns meses, John Coates e os seus colegas tinham estudado os níveis de testosterona nos agentes da bolsa de Londres e tinham verificado que o sucesso nas transacções aumentava esses níveis, tornando os corretores excessivamente audaciosos. Os fracassos, pelo contrário, estimulavam a circulação de cortisol, que pode causar uma prudência exagerada. Com o novo estudo, os investigadores de Cambridge, procuraram ver se havia alguma associação entre o sucesso dos corretores da bolsa de Londres e o rácio dos seus dedos.
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Estudaram agora 44 indivíduos, escolhidos por serem os que fazem transacções de alta frequência, ou seja, transacções que são decididas em segundos, mantidas durante pouco tempo, habitualmente uns minutos, e depois desfeitas. Nestas transações rápidas, compram-se activos financeiros, habitualmente os chamados “futuros”, isto é, direitos sobre preços futuros de mercadorias. Esses activos são imediatamente vendidos, mal os preços evoluam favoravelmente. É um tipo de transacções em que não há tempo para fazer análises cuidadas e em que a capacidade de decidir rapidamente e arriscar elevadas quantias é absolutamente crucial.
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Como medida do sucesso dos indivíduos, os investigadores usaram os lucros que eles obtiveram. Os resultados foram estatisticamente significativos. A capacidade de cada corretor para gerar lucros e o tempo que este aguenta uma vida activa nesta profissão estão negativamente correlacionados com o rácio 2D:4D. Há quem diga que são más notícias: haverá alturas em que a gestão dos mercados financeiros se baseia mais na adrenalina do que na racionalidade.
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«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 24 de Janeiro de 2009
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