.
Por Maria Filomena Mónica
.
COMO TODA A GENTE, tenho seguido [Set 2007] a história do desaparecimento de Madeleine McCann com um misto de curiosidade e de repulsa. Provavelmente por desconfiarem da qualidade da investigação criminal portuguesa, os McCann promoveram uma campanha mediática para encontrar a filha. A partir desse momento, o mundo não cessou de se interrogar sobre o que teria acontecido a Maddie. Até eu, que resisto a rumores, ouvi explicações que vão da tese de que o rapto fora o resultado das maquinações do Vaticano até outra que dizia ter a mãe, Kate, um amante que matara a criança. De início, o interesse por esta história pareceu-me mórbido. Mas a curiosidade tem raízes profundas.
COMO TODA A GENTE, tenho seguido [Set 2007] a história do desaparecimento de Madeleine McCann com um misto de curiosidade e de repulsa. Provavelmente por desconfiarem da qualidade da investigação criminal portuguesa, os McCann promoveram uma campanha mediática para encontrar a filha. A partir desse momento, o mundo não cessou de se interrogar sobre o que teria acontecido a Maddie. Até eu, que resisto a rumores, ouvi explicações que vão da tese de que o rapto fora o resultado das maquinações do Vaticano até outra que dizia ter a mãe, Kate, um amante que matara a criança. De início, o interesse por esta história pareceu-me mórbido. Mas a curiosidade tem raízes profundas.
.
O desaparecimento de um filho é, para uma mãe, o terror supremo. Recordo um dia, no final da década de 1960, em que fui à Caparica, na companhia dos meus filhos, teria ela seis e ele cinco anos. Devia ser de semana, porque a praia estava deserta. Depois de eu ter recusado o pedido de nos metermos no comboiozinho que atravessava as praias, o meu filho, que era dado a amuos, interrompeu a caminhada. Habituada a este tipo de cenas, continuei a andar, sabendo que, mais tarde ou mais cedo, teria de «desamuar», como eu designava o momento em que seria forçado a ceder.
O desaparecimento de um filho é, para uma mãe, o terror supremo. Recordo um dia, no final da década de 1960, em que fui à Caparica, na companhia dos meus filhos, teria ela seis e ele cinco anos. Devia ser de semana, porque a praia estava deserta. Depois de eu ter recusado o pedido de nos metermos no comboiozinho que atravessava as praias, o meu filho, que era dado a amuos, interrompeu a caminhada. Habituada a este tipo de cenas, continuei a andar, sabendo que, mais tarde ou mais cedo, teria de «desamuar», como eu designava o momento em que seria forçado a ceder.
.
A certa altura, parei no areal. Dele, não havia a mais leve sombra. Para o mar, não poderia ter ido, porque o teríamos visto passar. Corri, como louca, de um lado para o outro, até que a minha filha reparou em três barracas de lona, daquelas antigas com riscas, tendo uma delas o pano da frente para baixo. A medo, levantámos a cobertura. Dentro, armado em estátua, lá estava ele. O episódio não durara mais do que trinta minutos, mas nunca mais o esqueci. É por a história de Kate McCann ser ao mesmo tempo trágica e banal que nos toca desta forma.
A certa altura, parei no areal. Dele, não havia a mais leve sombra. Para o mar, não poderia ter ido, porque o teríamos visto passar. Corri, como louca, de um lado para o outro, até que a minha filha reparou em três barracas de lona, daquelas antigas com riscas, tendo uma delas o pano da frente para baixo. A medo, levantámos a cobertura. Dentro, armado em estátua, lá estava ele. O episódio não durara mais do que trinta minutos, mas nunca mais o esqueci. É por a história de Kate McCann ser ao mesmo tempo trágica e banal que nos toca desta forma.
.
Setembro de 2007.
Setembro de 2007.
NOTA: Este post é uma extensão do que está publicado no Sorumbático [aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.