quinta-feira, 30 de abril de 2009

Mas a EMEL não dorme!

Que se saiba, este foi o único carro multado nesta esquina...
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28 Abr 09 (junto à entrada do metro - Roma)
. 29 Abr 09 (traseiras do Centro Roma)
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Continuam a não chegar fotos, semelhantes a estas, mas que podem dar direito a almoços de lagosta no Gambrinus - ver [aqui]!!

Sem novidades de cá

Por Baptista Bastos
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A RTP1 RESOLVEU, anteontem, "pensar Portugal". É uma ideia comovente, tanto mais que o maciço conceito que lhe subjaz seria sugestivo, acaso, no nosso país, alguém pensasse no País. A política, aliás, porque de política se tratou, no programa de Fátima Campos Ferreira -, a política é uma actividade que sempre foi dirigida a um restrito número de homens. Nada de novo foi dito. Todos sabemos o lodaçal em que vamos sobrevivendo mas, ao que parece, ninguém sabe como nos vamos libertar.
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Foram repisados, com maior ou menor veemência, os problemas sufocantes, que estão a corroer o frágil edifício democrático português. E deveria, talvez, ser dito que a "importação da crise" resulta da natureza escabrosa do sistema, e de que a esquerda não encontrou, até agora, resposta para a superar, criando alternativas às que têm vigorado. A esquerda, essa que se diz "livre e democrática", não tem sido mais do que cúmplice e esteio do mais feroz capitalismo.
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A "credibilização das instituições", expressão utilizada por um dos convidados de Fátima Campos Ferreira, perdeu qualquer espécie de sentido. Há 30 anos que desfilam as mesmas caras, se ouvem as mesmas vozes, se lêem as mesmas frases com monótona aridez. O País é domado por um grupo sem prestígio mas com poder. Esperávamos um sistema, emergiu um domínio. A erupção do "bloco central de interesses" (ou seja: a divisão do bolo entre PS e PSD) assinala a degenerescência de Abril num atoleiro. Deixou de haver afinidades ideológicas e as convicções foram substituídas por uma cronologia contínua, destinada ao enriquecimento de alguns, e que encobre, afinal, as ausências de carácter e as trapalhadas das mudanças de partido.
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Os quatro presentes nos Prós e Contras são figuras com experiências próprias: Mário Soares, Anacoreta Correia, o reitor António Nóvoa e Leonor Beleza. Não percebi muito bem o que ali fazia aquela senhora. Mas isso não é relevante; talvez seja um equívoco. De todos, Soares foi o menos confuso em exprimir a sua actual cosmovisão política; Anacoreta, formal, cristão, exemplar, não ocultou a infinita tristeza que o percorre, ao discretear sobre o Portugal dos nossos dias; Nóvoa, talvez, o mais preocupado em denunciar o processo de mistificação em que vivemos; e Beleza, pessoalmente magoada com a justiça, contou umas historietas.
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De uma forma ou de outra foram graciosamente simpáticos. Os estudantes, na plateia, actuaram como possibilistas e admitiram, no todo, que a cultura dominante se baseava na repressão e na comédia dramática. A seguir, e agilmente, fui dormir, imbuído de limpidíssima serenidade.
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«DN» de 29 de Abril de 2009

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Dito & Feito

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Por José António Lima
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À MEDIDA que o ano 2009 avança, o retrato da crise em Portugal vai-se definindo com números cada dia mais negros: o desemprego pode atingir os 9,6% no final do ano e subir a 600 mil trabalhadores sem emprego em 2010, o défice público vai disparar para uns impensáveis e preocupantes 6% do PIB, arrasando o esforço de contenção dos últimos 4 ou 5 anos, a economia recua para menos 4,1% (Vítor Constâncio ainda tentou dourar a pílula, mas o FMI não deixou...).
E o Orçamento do Estado que o Governo aprovou para 2009 é já um exercício de pura ficção. O Executivo socialista previa no OE, por exemplo, uma quebra de receitas de 1,5 mil milhões de euros e já perdeu 955 milhões só nos primeiros três meses do ano. Apesar desse desajustamento, o ministro das Finanças acusa os que o criticam de «excitação e nervosismo», enquanto garante que a despesa e a receita no OE estão «perfeitamente controladas». Surrealista.
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MUHAMED al-Sahaf, lembram-se? O delirante ministro da Informação de Saddam Hussein que assegurava, à beira do desastre: «Posso dizer, e sou responsável pelo que estou a dizer, que os soldados americanos começam a suicidar-se às portas de Bagdade». Que garantia, em tom alucinado: «Têmo-los cercados nos seus tanques», «Já os repelimos», «Temos o controlo total da situação». E que, já a verem-se em cenário de fundo as tropas dos EUA nas ruas da capital iraquiana, jurava com o seu ar lunático: «Dou-vos triplamente a garantia de que não há soldados americanos em Bagdade».
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Teixeira dos Santos afiança, com idêntico autismo, que mantém o controlo total da execução do Orçamento. A cobrança de IRC cai 150 milhões de euros em três meses? As receitas do IVA desabam mais de 700 milhões aos pés do ministro? O imposto automóvel regista um desmoronamento de 25% e o imposto sobre combustíveis é amputado em 14%? O responsável das Finanças não se deixa perturbar e assevera: «No que respeita ao Governo, a receita fiscal também está controlada» e «não há qualquer derrapagem na receita, tendo em conta os estabilizadores automáticos». O extravagante ministro da Propaganda de Saddam não diria melhor.
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Houve, neste trimestre, um aumento da despesa de 54,4 milhões de euros (mais 13,8%) com os subsídios de desemprego? O ministro das Finanças não se sobressalta: «A despesa está perfeitamente controlada. O Governo está a gastar onde planeou gastar». A sério?
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Teixeira dos Santos está a converter-se, rapidamente, no Muhamed al-Sahaf da política portuguesa.
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«Sol» de 24 de Abril de 2009
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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.

terça-feira, 28 de abril de 2009

O homem útil e o génio

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Por Nuno Crato
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QUEM ESTEJA A APROVEITAR os eventos do Ano Internacional da Astronomia para observar o Sol em segurança terá notado que a nossa estrela se apresenta agora sem as famosas manchas escuras. Assim tem acontecido há já algum tempo. Em 2008, o Sol apresentou-se limpo 266 dos 366 dias desse ano. E, em 2009, o número total de dias limpos ultrapassa já 90, ou seja, cerca de 90% dos dias decorridos. É vulgar o Sol apresentar-se sem manchas. Mas não é habitual observar uma pausa tão prolongada. Desde 1913 que tal não acontecia.
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As manchas solares são tempestades magnéticas gigantescas que originam erupções de matéria, provocam aumentos bruscos do campo magnético e emitem uma radiação intensa, nomeadamente nos ultravioletas. As manchas são escuras, mas a actividade solar é mais intensa nos seus bordos, de forma que a radiação total libertada pelo Sol aumenta. O facto de registarmos neste momento um mínimo mais longo do que o normal significa pois que a radiação solar que nos atinge é menor, o que terá certamente efeitos no clima.
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Para observar manchas solares é preciso ter cuidados extremos. É perigosíssimo, podendo provocar a cegueira imediata, observar o Sol com binóculos ou telescópios. Só usando filtros profissionais essa observação é segura. O mais simples e prático é fazer a projecção de uma imagem do Sol sobre uma superfície branca — usando, por exemplo, um óculo invertido — e observar essa imagem. Existindo manchas, é fácil então detectá-las.
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Passada a emoção da sua descoberta por Galileu, as manchas solares tornaram-se uma curiosidade sem grande relevo para a astronomia. Mas, em 1844, Heinrich Schwabe, um farmacêutico alemão tornado astrónomo amador, notou uma regularidade: descobriu que as manchas aumentavam e diminuíam seguindo ciclos de cerca de 10 anos. O director do Observatório de Berna, Johann Rudolf Wolf, reparou na observação de Schwabe e meteu mãos ao estudo. Passou o resto da vida a contar as manchas solares, o que fez dia após dia sempre que as condições meteorológicas o permitiam. Recolheu observações dispersas do passado e inventou um método ainda hoje em uso para a medida das manchas. Iniciou a produção de uma série longa, que hoje continua a ser completada, e que revela as oscilações da actividade solar. Em 1852, mediu a periodicidade solar por um método elementar e encontrou um período de 11,11 anos.
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Uma vida dedicada a contar manchas pode parecer pouco para um cientista, mas conforme diria Wolf mais tarde, “sempre me consolei por saber que uma pessoa como eu, que não é um génio, pode tornar-se útil se escolher bem o objecto do seu trabalho e se o trabalho se talhar aos seus talentos”.
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Passados 62 anos, nos princípios do século XX, um jovem físico alemão estudou as observações deste homem útil e inventou um outro método para estimar a sua periodicidade. Baseou-se num instrumento matemático sofisticado: a chamada transformada de Fourier. Praticou pela primeira vez aquilo a que hoje se chama “análise de séries temporais no domínio frequência”.
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O jovem físico chamava-se Albert Einstein e o período que calculou para o ciclo solar foi também de 11,11 anos. Encontramo-nos apenas no fim de um desses ciclos. Sabemo-lo graças a um homem útil e a um homem de génio.

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«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 25 de Abril de 2009 (adapt.). Imagem obtida [aqui]. Ver outras [aqui], [aqui] e [aqui].

NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Passatempo «O Banqueiro Anarquista» - Solução

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Haverá 4 prémios, a atribuir da seguinte forma:
1.º prémio - o livro que se vê na imagem, para quem mais se aproximar da resposta certa.
2.º e 3.º prémio - livros-surpresa, para os seguintes.
4.º Prémio (surpresa) - também um livro-surpresa, mas para quem der a última resposta de todas (até às 20h00m, inclusive).
Nota:
É possível que, à hora a que este post ficar visível (20h01m), eu ainda não tenha rgressado da FNAC, onde irei assistir ao lançamento do livro do João Paulo Guerra.
No entanto, e mesmo que haja ainda um empate, o 1.º prémio vai para Maria Manuel, com erro = 0 gramas! Veremos se Tiago Pinheiro vai manter o 2.º lugar (1977 .. erro = 1 grama) e Susana o 3.º (1980 .. erro = 2 gramas). Veremos, finalmente, quem ganhará o 4.º prémio! Até logo!
Comentário às respostas dadas:
Os valores dos pesos que constam na fotografia são bem visíveis: 1000, 500, 250 e 100g.
Ora, sendo a sua soma igual a 1850g, como é que pôde haver tantas respostas abaixo desse valor (para já não falar num fora da faixa referida na "dica"...)?
Actualização final (20h02m):
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Confirma-se: 1.º Maria Manuel; 2.º Tiago Pinheiro; 3.º Susana - a que se junta Musicólogo, em 4.º.
Pede-se agora aos 4 que, nas próximas 48h, escrevam para sorumbatico@iol.pt indicando morada para envio dos prémios.

O Caso Mesquita Machado (II)

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Por J.L. Saldanha Sanches
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O MINISTRO DAS FINANÇAS quer criar uma taxa especial de 60% contra os rendimentos não declarados nem declaráveis? Já há uma igual no IRC e, em princípio, nada impede que se seja criada uma outra no IRS.
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Mas quem a irá pagar?
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As leis fiscais são aplicadas por uma estrutura administrativa que está na dependência directa o Ministro das Finanças. Acreditamos que o Sr. Ministro quer aplicar a lei com a imparcialidade que a Constituição proclama e usar o dever de pagar impostos como uma arma contra a economia paralela e a corrupção.
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Contudo, a lei nem sequer é nova, a única novidade é a taxa agravada. Por isso, mesmo antes da sua entrada, tem quando ser demonstrado que há uma intenção séria de aplicar as normas que permitem a tributação quando se prova que o rendimento existe e que não foi devidamente declarado.
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O Senhor Ministro afirmou também, e com toda a razão, que basta olhar para os jornais (“nem imaginam o que se pode saber através da internet, revistas ou da imprensa”) para saber contra quem a Administração fiscal deveria actuar. Ora, há muito pouco tempo um jornal diário publicou os resultados de uma investigação ao Presidente da Câmara de Braga (depois de ter cessado o segredo de justiça) que mostrava o vasto património acumulado por este autarca e pela sua família.
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O Ministério Público arquivou-a. E a Administração fiscal o que fez?
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Por isso, Senhor Ministro das Finanças, se pretende que tomemos a sério a intenção de atacar a sério os acréscimos patrimoniais não justificados, deve-nos uma explicação.
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E o caso Mesquita Machado? Foi devidamente investigado e concluiu-se que tudo está bem?
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Bem sabemos que há o segredo fiscal. Mas o direito ao segredo fiscal é um direito disponível. O Sr. Mesquita Machado, que anunciou há pouco a sua recandidatura à Câmara Municipal de Braga, há-de estar interessado que tudo se esclareça e que o seu bom nome seja restabelecido.
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Se isto não for feito, e a taxa especial de 60% for criada, a quem é que vai ser aplicada? A suspeita de que os poderes discricionários da Administração irão conseguir que os destinatários da norma sejam apenas os inimigos do Governo vai ser confirmada. Ou que nem isso, que a nova norma seja apenas um faz de conta para tentar mostrar ao eleitorado que o Governo pretende combater a corrupção por meio do combate à fraude fiscal.
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O caso Mesquita Machado transformou-se assim num teste à seriedade das intenções do Governo: a investigação pelo Ministério Público, a detecção de um importante património, de depósitos bancários e de doações, mesmo sem a necessária colaboração da Administração fiscal exige uma clarificação.
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Adenda: a eliminação do segredo bancário para fins fiscais exige a adopção das melhores práticas. Controlo global (por meios informáticos) e não discricionário e atenção às entradas na conta (como propôs António Lobo Xavier) e não às saídas.
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A Administração fiscal não tem de saber como gasto o meu dinheiro, mas apenas como o adquiro.

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«Expresso» de 25 de Abril de 2009 - http://www.saldanhasanches.pt/

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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.

domingo, 26 de abril de 2009

Lisboa e a “nova moeda”

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Por Helena Roseta
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ESCREVI EM 2002 que se estava a assistir ao florescimento de uma “nova moeda”: os metros quadrados de construção permitidos ou admissíveis, um verdadeiro “mercado de futuros” que estava a dar cabo do ordenamento do território.
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Em Portugal a “nova moeda” tem sido utilizada pelo próprio Estado para pagar obras para as quais não há capacidade orçamental. Foi com ela que se pagou, por exemplo, grande parte dos estádios do Euro 2004, através de direitos de edificabilidade cedidos a clubes de futebol, muitas vezes por simples protocolo. O governo, através da Secretaria de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades, acaba de aprovar um decreto regulamentar que irá limitar a passagem de solos rurais a solos urbanos. Sabe-se que é nesta mudança de uso que se constroem mais-valias urbanísticas mirabolantes. É por isso que a pressão sobre autarquias e entidades públicas que decidem ou dão pareceres sobre o ordenamento do território é tão forte. O caso Freeport é apenas um exemplo desta pressão.
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O pior é que o Governo é muitas vezes o primeiro a embarcar no negócio milionário das mais- valias urbanísticas. Noticiou o Expresso, semanas atrás, que o Secretário de Estado do Tesouro e das Finanças estaria a pressionar a Câmara de Lisboa para valorizar imóveis que o Estado quer pôr ou já pôs à venda. Na capital, o solo é praticamente todo urbano. As mais-valias urbanísticas aqui fazem-se através de mudanças de uso – de usos públicos, como equipamentos colectivo ou espaço verde, para usos privados - ou de aumento dos índices de construção. São estes mecanismos que determinam, no geral de forma bem opaca, a “valorização” de alguns terrenos. É assim que se cunha a “nova moeda”.
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Sucede que é à autarquia que cabe decidir, através do Plano Director Municipal, os usos e os índices de construção admissíveis. A revisão do PDM de Lisboa, que data de 1994, não teve até à data, no actual mandato, qualquer desenvolvimento público. No entanto, as zonas em transformação que podem estar na mira da “nova moeda” são muitas, a começar pelas que pertencem ao Estado: hospitais, instalações prisionais, quartéis e tribunais, para já não falar do aeroporto da Portela, estão anunciados pelo governo como equipamentos a deslocalizar. O que vai suceder nessas zonas? Vão manter-se como espaços de uso público ou vão transformar-se em condomínios privados de luxo? A questão é decisiva para o futuro de Lisboa. Porque todos os cidadãos têm o direito de saber o destino de edifícios e zonas que fazem parte da nossa memória e imaginário colectivos, como os velhos hospitais de S. José, Santa Marta, Capuchos, Estefânia e Curry Cabral, o IPO, a Penitenciária ou o Tribunal da Boa-Hora. E porque a “nova moeda”, mesmo antes de as decisões estarem tomadas, actua no imobiliário envolvente gerando grandes expectativas, que acabam por se reflectir em novas subidas de preços.
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É por isso que as diligências do Governo junto da CML não podem ficar no segredo dos gabinetes. É também por isso que nem o vereador do urbanismo nem o Presidente da CML podem responder sozinhos a quaisquer solicitações de valorização dos terrenos do Estado - o PDM depende da Assembleia Municipal e não pode ser alterado sem debate público. E é também por isso que é importante a comunicação social trazer estes temas para a agenda. Não podemos cobrir défices orçamentais excessivos com uma “nova moeda” totalmente desregulada. Nem pode o Governo, directamente ou através da Sagestamo, vender gato por lebre, anunciando para os terrenos e edifícios que põe à venda edificabilidades impossíveis ou inaceitáveis.
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O papel regulador do Estado, de que agora tanto se fala, também passa por aqui.

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«Expresso» de 25 de Abril de 2009

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sábado, 25 de abril de 2009

Os retratos

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Por Alice Vieira
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ANA DAVA AULAS numa escola no meio do nada, para lá do sol posto, sem as mínimas condições para nela se ensinar fosse o que fosse. Ana dizia muitas vezes que aquilo devia ser o Ministério a testar as suas capacidades pedagógicas e a sua resistência física.
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A escola não tinha nada, absolutamente nada, do mínimo que uma escola devia ter: não tinha mapas, não tinha a caixa de sólidos para ensinar geometria, não tinha nenhuma espécie de material, até mesmo o quadro preto já se limpava com dificuldade, tantos os anos de uso.
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Mas a Ana foi sempre de um optimismo inquebrantável: todos os meses, aliando uma perseverança notável a uma ainda mais notável caligrafia, escrevia uma carta ao Ministério, pedindo material, dizendo que era impossível ensinar fosse o que fosse - acrescentando, para ver se os comovia - que a escola nem sequer tinha na parede os retratos do Senhor Presidente da República nem do Senhor Presidente do Conselho, e que aquilo era uma vergonha.
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A D. Cândida, que de manhãzinha limpava a escola, até se ria, “eu nem sei para que é que gasta tanto dinheiro em selos se eles não ligam nenhuma”.
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Mas todos os meses Ana escrevia a carta, e todos os meses o Ministério respondia com o mais profundo silêncio.
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Até que um dia, ao chegar à escola, Ana viu D. Cândida numa imensa euforia, correndo até ela, gritando que o material tinha chegado, milagre!, ela nem queria acreditar mas a verdade é que estava ali um caixote, vindo do Ministério, que uns homens tinham largado logo de manhã.
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Ana também não queria acreditar, finalmente ia ser professora a sério e ensinar a sério.
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Feliz diante do milagre, D. Cândida não parava de falar, dizendo que a única coisa esquisita tinha sido a pressa dos homens, nem tinham saído da carrinha,” abriram a porta e zás!, atiraram com o caixote”, e ela a perguntar “então não é preciso assinar uma guia nem nada?”, e eles a berrarem que depois se via, que aquilo em Lisboa ia uma grande confusão, que eles nem sabiam bem o que era, mas não devia ser nada de bom e o melhor era porem-se a andar depressa.
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D. Cândida ria e quase jurava que eles tinham falado em revolução. Ana deu uma gargalhada, “ó D. Cândida, revoluções em Lisboa?”, mas logo deixou de rir: no caixote, o único “material escolar” que o Ministério lhe mandava eram os retratos do Senhor Presidente da República e do Senhor Presidente do Conselho. Nem um mapa, nem sequer um pauzinho de giz. Os retratos, mais nada.
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E é por isso que hoje, quando lhe perguntam “onde é que estava no 25 de Abril?”, Ana responde sempre: “ a olhar para dois retratos, que nunca foram pendurados.”

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«JN» de 25 de Abril de 2009
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sexta-feira, 24 de abril de 2009

Não se queixe muito

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Por Pedro Lomba
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TERÇA À NOITE, sintonizo a RTP para mais hora e meia da vida gloriosa de José Sócrates. O primeiro-ministro nunca surpreende. Números avulsos para o ar, odes à governação e uma mensagem que só passa na medida em que ninguém o confronte a sério. É assim com a crise. Sócrates não pode negar que Portugal já vivia em crise antes da crise financeira e continuará em crise depois dessa crise terminar. Mas a crua verdade do facto não importa muito a Sócrates, que responsabiliza prosaicamente o mundo por todos os males que nos assolam.
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De qualquer maneira, a entrevista inócua que deu à RTP teve, pelo menos, um mérito: mostrou o quanto os jornalistas irritam o primeiro-ministro. Aquela tremura pelas mandíbulas, o humor seco, a arrogância de estatuto com que tratou os dois jornalistas presentes como ignorantes (tirando Alberto João Jardim, confesso que nunca vi nada igual), chegando a perguntar-lhes se eles percebiam as perguntas que estavam a fazer, numa inversão de entrevistado para entrevistador, não enganavam. O primeiro-ministro anda nervoso. A vida não lhe corre bem. Convenhamos que o caso Freeport é um desconchavo, que há uma investigação em curso e jornalistas metediços fazendo perguntas. Para não falar do telejornal da TVI das sextas-feiras que manifestamente não aprecia Sócrates e que, segundo este, promove o seu "assassínio de carácter". Só razões para lamúrias.
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Mas eu penso que há talvez uma maneira de ajudar o primeiro-ministro. De lhe transmitir paz e tranquilidade. Ele que pense num conjunto de políticos bem mais importantes do que ele. Bill Clinton. Alguém ainda se lembra da virulência jornalística que destruiu a reputação do ex-presidente americano, que o defenestrou publicamente como um mentiroso compulsivo e um psicomaníaco? E Tony Blair: tanto quis controlar a imprensa que acabou várias vezes por ser vítima dessa mesma imprensa, na guerra do Iraque ou em inúmeros escândalos que rodearam o seu governo. Bush até podia ter a Fox News em campanha permanente por ele, mas o New York Times não tinha autorização para entrar no avião de Dick Cheney tal era a oposição que fazia ao poder republicano.

A questão é esta: durante décadas, os políticos portugueses, sobretudo no governo, existiram num ambiente fechado, sem grande tradição de liberdade de imprensa (o século XIX, comparado com o presente, era uma selvajaria), sem jornais e televisões agressivas, sem concorrência entre meios de comunicação social, sem blogosfera, sem obrigações várias de informação. Esse mundo acabou um pouco por todo o lado. Hoje a vida de um primeiro-ministro é, por fatalidade das circunstâncias, mais difícil e desgastante. Sócrates que não se queixe e, sobretudo, não queira ele ter boa imprensa precisamente por ter boa imprensa. Não funciona assim.
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«DN» de 23 de Abril de 2009
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Quero ter o meu deputado

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Por Maria Filomena Mónica
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«O MEDO é que guarda a vinha»: o provérbio pode ter alguma base, mas por muito intactas que as videiras se mantenham sob cativeiro acabarão sempre por esmorecer. Vem isto a propósito da lei eleitoral portuguesa: elaborada em 1974, num momento de desconfiança em relação aos eleitores, está a destruir o regime. Com receio dos cidadãos, os políticos congeminaram um esquema que permite retirar aos eleitores parte do poder de decisão. Na prática, apenas vamos às urnas para escolher entre as listas de nomes cozinhadas pelos partidos. Assim se evitariam,
pensou o legislador, os dislates do caciquismo.
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Dou de barato que o medo talvez se justificasse, mas, passados trinta anos é aberrante que continuemos a não poder seleccionar o nome do indivíduo que gostaríamos de ver como representante no Parlamento. Mesmo tendo em conta que o método uninominal – ou seja a possibilidade de votar num nome – possui inconvenientes (deturpa a representatividade), é superior ao actual, porque neste estou limitada a escolher entre as pessoas que os Secretários Gerais optam por designar como candidatos, geralmente devido a qualidades tão desprezíveis quanto a subserviência. Se já se admiraram de ver, no hemiciclo, aqueles rostos anónimos não gastem tempo a tentar encontrar o fundamento desta triste realidade: ele está na legislação eleitoral.
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Há dez anos que o PS tem vindo a prometer uma reforma da lei no sentido da adopção de círculos uninominais (mantendo, por razões constitucionais, um círculo nacional), mas até agora nada foi feito, aparentemente porque o PSD insistia em reduzir o número de deputados. Por razões conjunturais, Menezes acaba de anunciar que abdica desta reivindicação. De uma só penada, deu cabo do álibi do PS para nada mudar. Uma vez que todas as máquinas partidárias odeiam a reforma (ninguém gosta de perder os seus privilégios) duvido que algum partido ouse pôr em pratica a alteração. Deus queira que me engane.
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Novembro de 2007

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quarta-feira, 22 de abril de 2009

A revolução que falhou

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Por Baptista-Bastos
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QUE VAMOS COMEMORAR no sábado? O "dia inicial inteiro e limpo" [Sophia de Mello Breyner]? Mas que resta desse dia? As ruínas de uma história que se perdeu nela própria. A avenida encher-se-á, como de hábito, e os discursos, no Rossio, alegres e decididos, dissimulam a melancólica gravidade de uma peregrinação que se faz por uma memória feliz, tornada triste e antiga.
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Ocultamos a dor do que perdemos, é isso. A multidão reflui, gritando estribilhos antigos, miméticos e elementares. "Fascismo nunca mais!" "O poder está no povo!" "Os ricos que paguem a crise!" Animamos a nossa profunda descrença, com a ressurreição nostálgica de um tempo delido que vai ficando efeméride.
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Fomos envelhecendo e agarramo-nos à data como quem não quer extraviar-se da irremediável perda da juventude. Porque éramos todos muito novos; ou, pelo menos, muito mais novos. Olhamo-nos, saudamo-nos uns aos outros, joviais e excessivos. Porém, pertencemos a outra história. Festejamos o dia como se o dia representasse a rapariga, a festa, a alacridade e as cores da adolescência. A rapariga já não possui segredos, a festa emudeceu, a alacridade acabrunhou-se, as cores oscilam entre a metáfora e o que imaginamos.
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Mas vamos, estamos, elementares e claros, porque ir, estar, desfilar, sorrir, acenar, partilhar, enriquece mais do que a reticência e fortalece mais do que a indiferença. Talvez o dia seja um marco denso e, acaso, desmesurado para a cruel realidade do momento. Talvez. No entanto, acreditamos que há algo de transcendente desespero em celebrarmos uma revolução que falhou.
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Velhos fantasmas, pontuais e exactos, emergem da nossa cultura caótica e da nossa vocação para o submisso. A ordem, a segurança nas ruas, a obediência à autoridade, a uniformização reaparecem nas conversas avulsas, como que por casualidade. As coisas encadeiam-se nas coisas numa espécie de pensamento figurativo. E, no entanto, há trinta e cinco anos, todos e cada um de nós posava de leão indomesticável. As nossas fragilidades congénitas e os nossos ressentimentos ancestrais tapávamo-los com gritos, com frases rimadas, com gestos incoerentes porém vitais. Éramos, afinal, ostensivamente livres e acintosamente exibicionistas.
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Sabe-se quem travou a marcha ruidosa e feliz. Conhece-se os nomes daqueles que, na sombra e no silêncio, isolaram e subjugaram, de novo, as nossas emoções. "Acabou a tua festa, pá!", cantou Chico Buarque de Holanda. O epitáfio definia o cansaço e a derrota. Aí estão as sobras demoradas da nossa juventude. Aí está o refugo de um sonho que tinha a dimensão do homem.
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Afinal, vamos comemorar a nostalgia.
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«DN» de 22 de Abril de 2009. NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.

domingo, 19 de abril de 2009

Idades do mundo para todos os gostos...

Clicar nas imagens, para as ampliar
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NOTA: alguns números estão referidos à data de 1915...

Dito & Feito

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Por José António Lima
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PELO ATRASO COM QUE APRESENTOU o seu candidato às europeias – mais de um mês depois de o PS ter colocado o seu cabeça-de-lista no terreno e quando falta pouco mais de mês e meio para as eleições – a líder do PSD parece não ter valorizado devidamente a importância e as consequências que este primeiro acto eleitoral de 2009 terá para o seu partido. E para a sua liderança.
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Acontece que as eleições do Parlamento Europeu se apresentam como as mais incómodas para Sócrates e para o PS, pois são tradicionalmente aquelas em que os eleitores mais fácil e descomprometidamente expressam o seu voto de protesto com o Governo em funções. E o clima de crise acentuada e de desemprego crescente potencia ainda mais esse voto de descontentamento.
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Acresce que José Sócrates se viu forçado a ir buscar uma figura de segundo plano, com perfil académico mas reduzida visibilidade política e limitado impacto eleitoral. Vital Moreira não é o tipo de candidato que empolgue a militância do PS, que convença o eleitorado moderado e central a dar-lhe o seu voto ou que mobilize alguém na larga fatia de abstencionistas.
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Neste contexto, face às fragilidades da candidatura do PS e às delongas do PSD em avançar, esperava-se que Manuela Ferreira Leite apresentasse um nome com indiscutível projecção nacional, com alargado e fácil reconhecimento público. Ora, a líder do PSD escolheu o seu líder parlamentar, Paulo Rangel, contra a opinião da maioria dos vice-presidentes da sua direcção, que apostavam em Marques Mendes.
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Paulo Rangel, apesar dos meses que leva à frente da bancada em S. Bento, é uma figura mal conhecida pela maioria dos portugueses, não tem a dimensão política ou o prestígio nacional de Mendes. Nem a capacidade deste para mobilizar as distritais e as bases laranjas. Manuela Ferreira Leite preferiu, pois, um candidato com menos hipóteses de vencer, mas que não lhe fizesse sombra. Com Marques Mendes em campanha, poder-se-ia perguntar quem era, afinal, o verdadeiro líder do PSD.
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Com a escolha de Paulo Rangel, Ferreira Leite acrescentou ainda um problema para Outubro: o de o PSD ter que encontrar um novo líder parlamentar. Mas fê-lo, porventura, com a convicção de que esse já não será um problema seu. Nem da sua liderança.

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«Sol» de 18 de Abril de 2009

NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.

Visto, está conforme

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Por Nuno Brederode Santos
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POR MUITO DISTRAÍDO que eu andasse, era impossível deixar de reparar na sucessão, em quarenta e oito horas, do discurso de Cavaco Silva na abertura do 4.º Congresso da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE) e mais uma entrevista de Luís Filipe Menezes à SIC Notícias. Não para sugerir um nexo entre os dois factos, mas porque ambos formalizam, segundo os meus subjectivíssimos critérios, o arranque da pré-campanha das próximas eleições europeias. Não está mal: quer porque o último cabeça de lista (o do PSD) foi finalmente revelado, quer porque eu tenho sempre a original atitude de gostar muito das campanhas até ao limite fisiológico de me fartar delas.
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Vai ser curioso assistir às ondas de choque provocadas pelo discurso de Cavaco. Como sei que a notícia está no excesso, não me fiquei pelas manchetes e fui fazer uma primeira leitura do texto ao sítio da Presidência da República na "net". Como é de regra, pouco importa a substância do que lá está (o que é bem diferente de dizer que a não tem). É um conjunto de ideias sobre a crise, económica e financeira, mundial; com imputações genéricas de culpas, mais duras (e mais moralistas) para empresários e gestores e algo mais políticas para com os decisores dos países que nos são deixados facilmente adivinhar. Segue-se um "vademecum" para ambos esses grupos. Passando depois a Portugal, são equacionados "desafios" que se apresentam à nossa economia e instam-se políticos, empresários e gestores a novas atitudes e condutas, que implicam (ou sugerem) críticas à sua actuação anterior e (ou) actual. Tudo isto vem envolto numa abordagem que, sendo ideológica, é no entanto a que maior receptividade deveria obter junto dos presentes (sendo o exemplo mais berrante a alusão às políticas "que favorecem o enfraquecimento dos laços familiares"). Chamemos-lhe social-cristã. Pela televisão pudemos ver que o tom é firme, mas quem quiser chame-lhe duro. De resto, várias vezes aqui assinalei que é característico do nosso Presidente manietar-se antes de falar forte e grosso: é que depois, quando vierem reivindicar consequências, ele pode dizer com verdade que está manietado.
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Só os ainda mais distraídos do que eu é que não terão notado como, poucos dias antes, muitos "media" assinalavam a habitual não notícia: "a partir de hoje, o Presidente da República já não pode dissolver o Parlamento". Notícia é saber-se a animação que isso sempre desencadeia para os tempos seguintes.
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Mas a substância, escolhida como é para ser pacífica, importa menos do que o facto de estes discursos se sucederem quase iguais, convidando assim à busca minuciosa das pequenas diferenças. São estas que, dramatizadas ou banalizadas, suscitarão todas as atenções, moldarão as atitudes e irão até impregnar (odiosa palavra, esta) o discurso oficial dos vários agentes, políticos, económicos e sociais. Mas sobretudo - e para nossa desdita - darão azo a torrenciais manifestações de inteligência em filigrana, por parte dos treinadores de sofá que se (nos) pretendem(os) fazedores de opinião. Duríssima será também a habitual competição entre os que se insinuam como intérpretes autênticos, para já não dizer fantasmáticos autores da prosa em causa. A vida ensina, a gente aprende: vamos ser bombardeados com tempos verbais, escolhas entre sinónimos possíveis, substantivos mais usados por um partido do que por outro. E com os "não é por acaso" de uma fé intangível, que não poderemos combater. A generalidade ou a abstracção de uma frase será o volúvel corcel de quem quiser montá-la. O governo explicará que não é com ele e, perante um caso ou outro mais difícil, dirá que a crítica é para quem empata a governação. As oposições proclamarão exactamente o contrário: que tudo é contra o governo. Mas terão de travar entre si alguns duelos, abrangendo na crítica os demais: é a mim que ele dá razão. Todos parecerão acreditar no princípio segundo o qual o melhor argumento é o mais ruidoso, pelo que a gritaria que se segue terá a vantagem cultural de nos mandar a todos para o cinema.
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Menezes, um estudioso das agendas alheias, esperou e bem. Depois chegou e poisou no galho alto. Descontado um pequeno ajuste de contas, detalhado nome a nome, foi gentil. Voltou a protestar lealdade e a declarar-se pronto para a primeira linha do combate partidário. O pior vem a seguir e é sempre mais rápido do que se julga. É quando ele desce: primeiro ao galho baixo, depois ao chão. Se o aproveitarem, dá sarilho. Se o ignorarem, também. Vimos este filme mais vezes do que A Túnica. Boa noite e boa sorte.
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«DN» de 19 de Abril de 2009
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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.

sábado, 18 de abril de 2009

Cantigas, leva-as o vento

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Por Antunes Ferreira
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PARA COMEMORAR os seus 30 anos de carreira, os Xutos & Pontapés editaram um novo disco. Tim e os seus acompanhantes tornaram-se uma referência da música portuguesa e o seu estilo continua a defender bravamente o rock da pesada. Isto não teria nada de especial, seria mais uma notícia a juntar às milhentas que o grupo tem coleccionado.
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Porém, do álbum consta uma canção intitulada Sem eira nem beira, expressão que, é bem sabido, rotula normalmente situações muito desagradáveis em especial no que diz respeito ao desgoverno em que muita gente vive. Não ter eira nem beira é motivo para a piedade, mas também para a reprovação de quem não… sabe por onde vai e, pior, para onde vai.
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Durante o salazarismo surgiu em Portugal a canção de intervenção, que tinha absoluta razão de ser. Vivia-se numa ditadura, a maioria dos Portugueses (como é nossa característica principal) estava agarrada ao fatalismo. De tal sorte que nem um Dom Sebastião era buscado, tamanho era o nevoeiro. Somos, real e infelizmente, assim: passivos e resignados.
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O aparecimento de lutadores através do canto, Francisco Fanhais, José Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira e tantos outros, encabeçados por José Afonso, o Zeca, veio dar o maior abanão ao que era o que então vingava – e que seria apelidado como o nacional-canconetismo, exemplo do nosso aberrante nacional-porreirismo.
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É nessa corrente que os Xutos se pretendem integrar. Ainda que, felizmente, não vivamos sob a pata de um qualquer ditador de meia-tijela. Mas, memo assim, o grupo nortenho entende que a canção de intervenção e de protesto tem justificação. O seu a seu dono. Em Democracia – quer se queira, quer não, é nela que vivemos – a opinião não é crime. Os Pontapés têm o direito de a ter. Ponto.
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Sem eira nem beira está a motivar uma polémica que vem subindo de tom na nossa sociedade. Apontada com ataque ao primeiro-ministro, ela já originou o esclarecimento do grupo de que era, na verdade, uma forma de protesto contra a maneira como vão as coisas em Portugal – mas não contra José Sócrates. No fundo, ainda que não o tenham dito, só gente de má-fé ou de raciocínio lento, poderá fazer tal associação.
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O certo é que a letra da canção parece ser suficiente para que uma esmagadora fatia dos Portugueses entenda que se trata de um ataque ad homine. Tome-se apenas o refrão: «Senhor engenheiro; Dê-me um pouco de atenção; Há dez anos que estou preso; Há trinta que sou ladrão; Não tenho eira nem beira; Mas ainda consigo ver; Quem anda na roubalheira; E quem me anda a comer».
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Coincidência? Os Xutos admitem-na, mas continuam a afirmar que não se trata de personalizar a crítica veiculada pela canção. Vistas bem as coisas, tudo indica que no entender deles, nós, os Portugueses, para além de sermos estúpidos por incapazes de entender o verdadeiro sentido e a intenção da Sem eira nem beira, ainda somos piores, ou seja, vemos o diabo onde apenas existe um protesto angélico. Somos, na verdade, intriguistas militantes.
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Não sejamos ingénuos. Ontem mesmo, o primeiro-ministro foi recebido em Viseu, onde se deslocara para inaugurar uma nova Pousada, por uns quantos manifestantes, professores e enfermeiros que entoavam a canção como bandeira do protesto que faziam. Os membros do grupo continuarão a negar a ligação? Contestem, protestem, insurjam-se – mas sejam coerentes.
Um assessor do chefe do Governo tinha vindo, antes, declarar que Sócrates não processaria os Xutos, o que, sendo simpático, é redundante. Ainda que o recurso à via judicial já tenha sido utilizado pelo titular de São Bento – em meu entender mal, como já neste blogue o expressei face ao caso do jornalista João Miguel Tavares – parece-me obviamente bem que o não seja utilizado agora. É a danada da Democracia.
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Temos, portanto, mais um motivo de mexericos e outros ditos neste triste quotidiano que é a nosso. Em meio de uma crise que cada vez mais se acentua e a que os números do Banco de Portugal vieram dar tonalidade muito próxima do negro. Mas, a memória dos homens, bem como a política, é curta, melhor, é curtíssima. Já ninguém parece lembrar-se, neste nosso País, do Lehman Brothers. Que foi o detonador de tudo o que vem acontecendo.
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Se calhar, já ninguém se quer lembrar de que a caixa de Pandora não foi aberta em Portugal. Anda muita gente mais preocupada com o Sem eira nem beira. O Povo, que cheirava mal dos sovacos e dos pés, diz que cantigas, leva-as o vento. Levará?

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Passatempo "dressing code" - Prémio

O Tratado de Lisboa e o Referendo

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Por Maria Filomena Mónica
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DEPOIS DE UM LONGO CICLO ditatorial, sofrendo os traumas de uma descolonização apressada, a Europa foi a salvação do nosso país. Nem tudo correu bem, mas os percalços ficaram a dever-se mais às características indígenas do que às imposições externas. Agora, fala-se muito da necessidade de um referendo sobre as mudanças constitucionais europeias: uma Europa a 27 necessita evidentemente de regras diferentes das que vigoravam quando apenas uma dúzia de países dela faziam parte, mas o que está sobre a mesa não me agrada, porque as instituições centrais da União Europeia são irresponsáveis, burocráticas e corruptas.
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Ao reflectir sobre isto, lembrei-me do que Tocqueville escreveu em De la Démocracie en Amerique: «Depois da concepção de um poder único e central, a ideia que mais espontaneamente se apresenta ao espírito dos homens nos séculos da igualdade é a de uma legislação uniforme, uma vez que cada um dos indivíduos se vê como relativamente semelhante ao vizinho, compreende mal a razão pela qual a regra que é aplicável a um homem não o seja igualmente a todos os outros». É por me sentir diferente do vizinho e por pensar que a isso tenho direito que odeio a burocracia da EU.
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Uma vez que a população portuguesa está grata a Bruxelas pelos «fundos» que de lá têm vindo, a nossa participação na UE não é polémica. Todos sabemos que Portugal não se pode dar ao luxo de exibir estados de alma: os eurocépticos são aqui um bando de excêntricos. Outros galos cantam lá fora. Em 2005, depois do «não» da França e da Holanda, o Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, afirmou despudoradamente que faria os povos votar as vezes necessárias até obter um «sim». Mais uma razão para eu ser contra a realização de um referendo sobre o chamado tratado de Lisboa. Se «eles» querem mandar em mim seja de que maneira for, não me venham antes perguntar o que desejo.
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Novembro de 2007

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quarta-feira, 15 de abril de 2009

"…Mas as crianças, Senhor…"

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Por Baptista-Bastos
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A SOCIEDADE PORTUGUESA perdeu, há muito, a noção de valores e tripudiou sobre as regras de convivência. Lenta mas inexorável uma endemia de dissolução alastrou, de tal forma, que põe em causa a própria razão do ser individual. Abandonámos um conceito de destino e desinteressámo-nos da ideia de futuro, se alguma vez a ambos tivemos. Antero e Oliveira Martins disseram que não. Causticámo-los com o ferrete de cépticos. Desprezámo-los quando devíamos tê-los estudado. A República animou-nos, mas a festa durou pouco. Meio século de cantochão, bota cardada, medos vários, foram as insígnias das nossas obediências. No Abril antigo, o bandolim pareceu tocar a nossa música. Pregámos um susto às bem-pensâncias, andámos a lavar as ruas, a oferecer à pátria um dia de salário e a gritar um estribilho que fora funesto no Chile: "O povo unido jamais será vencido!" Pois sim!
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Fui um daqueles que deitou foguetes. E ainda me resta uma pequena fagulha, apesar de o desemprego correr a galope, de os nossos velhos morrerem nos jardins, e de termos atingido, agora, a abjecção com o que fazemos aos nossos miúdos: abandonamo-los, enchemo-los de miséria, de fome e de morte por extinção moral.
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Anteontem, os jornais alargaram-se em notícias sobre estes sacrilégios. Porque há pais que abandonam os filhos? Que desespero incontido pode levar alguém a deixar uma criança à bússola do acaso? E que bizarro mecanismo mental encaminha progenitores a não dar de comer aos seus miúdos, mas a adquirir-lhes roupas de marca? Pensemos duas vezes.
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A família tem cada vez mais dificuldade em se representar. Mas foi a família que se não opôs às imposições de uma sociedade, cuja inconsistência transformou o secundário em primordial. O desprezo pelos miúdos conduz a conflitos profundos com as suas personalidades. Porém, o Estado abandonou os pais, e os pais deixaram de se interessar, no essencial, pelos filhos. O círculo ainda não encerrou. E as notícias a que me refiro advertem da existência de uma compressão da época e de um mal da alma, resumidos nesta frase medonha: "Não tenho tempo a perder."
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Não temos tempo a perder com quem? Com os nossos filhos? Com os outros? Connosco próprios? Estamos a encurtar tudo (a vida, o amor, a amizade, o ócio) com melancólica leviandade. "Às duas por três nascemos/às duas por três morremos/e a vida?/não a vivemos" - ensinou Alexandre O'Neill. Nunca ouvimos os poetas.
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Não há unidade nem absoluto possível se não conseguirmos travar a marcha de um sistema doente, cuja natureza se opõe à partilha, e tem destruído e aniquilado o melhor dos nossos sentimentos e emoções.

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«DN» de 15 de Abril de 2009.

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terça-feira, 14 de abril de 2009

Três crónicas sobre o "dressing code"

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I
Conta-me como foi
Por Helena Roseta
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COMECEI POR TER um problema de mangas. Quando era miúda, menina que ousasse ir à missa no verão com vestido sem mangas era imediatamente admoestada. Tínhamos de andar sempre com um casaco de malha à mão, coisa que até hoje me deixou de mal com semelhante acessório.
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Mais tarde apareceu o problema das meias. Pelos meus quinze anos, comecei a largar os soquetes pelas meias de vidro (ainda não havia collants). À porta do liceu Maria Amália as vigilantes investigavam-nos com muita atenção para verificar se trazíamos as pernas cobertas, mesmo que apenas de nylon transparente. Por fim veio o problema das calças. Foi já na universidade, em 1969, que decidi ir pela primeira vez de calças para as aulas. Era um par de jeans de bombazina, amarelo-torrado, que tinha trazido de Espanha. Foi um acontecimento. Mulheres de calças só no verão e na praia, de preferência em estilo “corsário”, mas nunca na Baixa, onde se situava a Escola de Belas Artes em que eu estudava arquitectura. A coisa passou como uma extravagância “artística”, mas ainda recordo os olhares de censura sobre mim, Chiado acima, nesse funesto dia.
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Por estas e por outras o 25 de Abril acabou por ser também uma libertação no tocante ao vestuário. Uma das primeiras grandes decisões que tomei lá em casa, ainda antes daquele inesquecível 1.º de Maio de 1974, com Lisboa toda na rua e a primavera a rebentar, foi decretar o fim do uso das botas da escola das crianças: dali em diante, a liberdade passava por sandálias. Mas a verdade é que os meus problemas não acabaram com a instalação do novo regime democrático. Já nos anos 80, era eu Presidente de Câmara em Cascais, onde costumava chegar todos os dias muito cedo. Um belo dia resolvi levar umas bermudas, último grito da moda, compradas em França. Horas mais tarde a minha mãe telefonava-me muito aflita. Alma caridosa tinha alertado o prior para o “escândalo” e o “mau exemplo” que eu estava a dar. Nesse dia, com 36 anos, fiz uma jura solene: nem padre, nem mãe, nem ninguém me haveria nunca mais de dizer o que podia ou não vestir.
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Entretanto a sociedade evoluiu e os hábitos de vestuário também. Os jeans, que eram um adereço informal difícil de comprar em Lisboa há 40 anos, são hoje uma peça universal e um símbolo de moda apropriado pelas melhores marcas. O mesmo aconteceu com as sapatilhas, antes só imagináveis para uso desportivo e que agora, para grande conforto dos pés das mulheres, se calçam todos os dias.
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Por tudo isso, a notícia de que uma tal Agência de Modernização Administrativa está a impor um dressing code na Loja do Cidadão de Faro, que inclui a proibição de “saias curtas, decotes exagerados, gangas e perfumes agressivos” soou-me a um impensável regresso ao passado. Há “modernizações” que mais não são que uma espécie de “extreme make-over” directamente inspirado pelos códigos pseudo-puritanos e repressivos do salazarismo. Presumo que o toque “moderno” tem sobretudo a ver com os “perfumes agressivos”. Seja como for, a imposição de tais normas de vestuário, ainda por cima só para mulheres, é serôdia e inaceitável.
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Ora aqui está um caso para a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego se pronunciar. Por mim sugiro às funcionárias da Loja do Cidadão de Faro uma forma especial de luta: exigir que o Estado lhes ofereça fardas de corte Armani. Só assim poderão brilhar nas inaugurações oficiais que o engenheiro gosta de nos servir todas as noites pelo telejornal.
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II
Saias e decotes
Por Joaquim Letria
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VAI POR AÍ MUITO BARULHO a propósito da proibição de decotes pronunciados e saias demasiado curtas nas repartições oficiais. Sou totalmente a favor desta disposição governamental!
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Se as mulheres não sabem vestir-se de acordo com as circunstâncias, bom é que as orientem. E não tem nada a ver com moral, do meu ponto de vista. Trata-se de bom gosto e de boas maneiras, para não nadarmos nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
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O problema é originado, como tudo o resto, na falta de instrução e de educação. Basta ver a maioria das fotos que este jornal publica: as meninas apresentam-se nas festas como se trabalhassem em casas de alterne e trabalham nas repartições como se fossem vendedoras de sex-shops. Por estas e por outras é que acho bem que haja um “dress code”. E que tal os padres voltarem ao cabeção?! E os militares ao uniforme?
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Se as freiras e as mulheres polícias soubessem a ponta que as fardas fazem, nunca mais andavam à paisana!...
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III
Decoro
Por João Paulo Guerra

Uma onda de pudicícia percorre o país. Portugal está muito preocupado com algumas exterioridades. Primeiro foram as regras de decoro na Loja do Cidadão de Faro. Agora são as ‘neps’ do atavio da tropa.
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UMAS E OUTRAS são normas contra o atrevimento, a bardinice, a pouca-vergonha. Sobem as dificuldades das vidas dos portugueses? Pois que baixem as bainhas das saias, que se acabe com a garridice e o desaforo. É que pelo caminho das minissaias, dos decotes, das gangas, e também das tatuagens, ‘piercings' e maquilhagens, qualquer dia os portugueses... estavam fumando.
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E isso não pode ser. Os portugueses têm que tomar consciência que isso do descoco, da desfaçatez e da frescura pertence a um passado de desregramento e deboche. Este país tem os seus maiores como exemplos: homens e mulheres resguardados, modestos, metidos consigo, embiocados e pudendos. Homens e mulheres arredios às frivolidades das modas, às doudices das ciências e aos devaneios das tecnologias. Homens e mulheres de "hábitos morigerados", "brandos costumes", xailes ou lenços pela cabeça, saias abaixo do joelho, jaquetão preto, calças de fantasia e chapéu no toutiço, para o tirar quando se cumprimentam os superiores.
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Isso mesmo: o país salazarento, das regras de recolhimento para uso externo e cenografia de aparências. Porque a liberdade tomada por libertinagem foi apenas uma aragem que passou por aqui. E agora, que se aproxima a celebração de uma data folclórica e utópica, há que esquecer as quimeras e retomar a modéstia das ambições e o decoro dos costumes. Para o que, graças a Deus, ainda há dirigentes com vergonha.
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Há mesmo dirigentes com vergonha do 25 de Abril. Quando o 25 de Abril é que teria razões para ter vergonha deles.
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NOTA: Estas três crónicas foram publicadas em 14 Abril de 2009 - respectivamente: no «Público», no «24 Horas» e no «DE». Eventuais comentários deverão ser afixados no Sorumbático, [aqui].

O infinito

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Por Nuno Crato
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O PARADOXO QUE APRESENTÁMOS na última crónica surpreendeu vários leitores. Como seria possível dividir um infinito em dois? Como seria possível retirar de um saco uma quantidade infinita de objectos, ficando nele ainda infinitos objectos? E, mais espantoso ainda: como seria possível ir colocando num saco mais objectos do que os que dele vão saindo e, no fim de tudo, o saco ficar vazio?
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Não nos devemos surpreender por ficarmos surpreendidos. Afinal, o infinito tem assombrado filósofos, cientistas e matemáticos e tem enganado muitas mentes brilhantes.
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Galileu, cuja actividade científica celebramos neste Ano Internacional da Astronomia, discutiu vários paradoxos do infinito. Um dos mais simples e ilustrativos considera dois conjuntos, o dos números naturais, isto é 1, 2, 3, …, e o dos seus dobros, isto é, os números pares 2, 4, 6, …. Podemos estabelecer uma correspondência biunívoca entre o primeiro conjunto e o segundo: ao 1 corresponde o 2, ao 2 corresponde o 4, ao 3 corresponde o 6, e por aí adiante. O primeiro conjunto parece ter o dobro de elementos do segundo, porque contém os pares e os ímpares. Mas o facto de podermos estabelecer uma correspondência biunívoca entre cada número e o seu dobro não quer dizer que os dois conjuntos têm o mesmo número de elementos?
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Ao que parece, foi assim que a humanidade aprendeu a contar. Há milhares de anos, antes ainda da escrita, contavam-se as ovelhas, ou o que fosse, separando tantas pedrinhas, ou fazendo tantas marcas, como ovelhas havia. A correspondência biunívoca entre ovelhas e pedrinhas assegurava que os dois conjuntos tinham o mesmo número de elementos.
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Do paradoxo, Galileu concluía que “os atributos de maior, menor e igual não se adequam a infinidades, sobre as quais não se pode dizer que uma é maior, menor ou igual a uma outra” (1638). Passados 250 anos, o matemático alemão Julius Dedekind (1831–1916) partiu dessa ideia para definir o infinito matemático. Segundo Dedekind, um conjunto é infinito se se puder estabelecer uma correspondência biunívoca entre ele e um seu subconjunto. É o caso da correspondência entre o conjunto dos números naturais e o subconjunto dos pares. Estes últimos são também naturais, mas há naturais que não são pares, como bem se sabe.
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Um dos paradoxos sobre o infinito mais engraçados é o chamado “Hotel de Hilbert”, que se atribui ao matemático alemão David Hilbert, mas que muito provavelmente saiu da imaginação do físico George Gamow, o primeiro a colocá-lo por escrito. Imagine o leitor que um hotel com um número infinito de quartos está completamente lotado. Nesse hotel é sempre possível arranjar lugar para mais um hóspede. O recepcionista apenas pede ao cliente do quarto 1 para mudar para o quarto 2, ao do quarto 2 para mudar para o quarto 3, e por aí adiante. O hóspede que acabou de chegar toma o quarto 1 e ninguém fica de fora. Mas se há sempre lugar para mais um cliente, também há sempre lugar para mais dois. E se há sempre lugar para mais dois, há sempre lugar para mais três. Os clientes têm apenas que se deslocarem para o quarto situado uns tantos números à frente. Receber de uma vez um número infinito de clientes é mais difícil, mas, se o leitor pensar, encontrará certamente uma solução.
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Hotéis de Hilbert são óptimos para uma rede hoteleira. Coitados dos hóspedes, contudo. Não deve ser agradável passar a noite a mudar de quarto.

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«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 10 de Abril de 2009.
NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.

Ainda o sismo

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Por Nuno Brederode Santos
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DEBALDE SE PROCURAM NOVIDADES em tudo o que mexe à nossa volta. Por mim, suspeito sempre que as manchetes engordam na razão inversa do potencial da notícia. Talvez, por isso, o número de mortos no terramoto italiano cresça de dia para dia, mas quase sempre embrulhado (ou diluído) em questões menores. Como a de Berlusconi – que nunca foi my cup of tea – ter recusado o apoio internacional. A meu ver, fê-lo com razão (que é um contratempo que acontece até aos piores). Se um país tiver meios para acudir às situações de catástrofe com uso exclusivo dos seus próprios recursos, poupa-se a uma infinidade de problemas de coordenação no terreno (até porque o zelo assistencialista estrangeiro é muitas vezes mais “marketing” para consumo próprio do que ajuda operacional efectiva).
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Claro que a justificação de que “a Itália é um país orgulhoso, um país rico” é um desastre político que se veio juntar ao desastre natural.
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Primeiro, porque é muito pouco “afluente”: só proclamam o orgulho os deprimidos, só invocam a riqueza os que a não têm. (Mas os Estados Unidos, mesmo já com Obama, tiveram de o fazer…). Segundo, porque é perigoso: nenhum país, por mais rico, pode repor satisfatoriamente a situação anterior. Nenhum bem-estar paga as mortes; e, sendo o bicho homem o que é, haverá, em breve, reivindicações materiais para compensar as perdas afectivas. Terceiro, porque é leviano: o Estado, por muito precavido que seja, não tem ainda um levantamento seguro e concreto da extensão dos danos e dos custos, materiais e sociais, que estão associados à tragédia, pelo que convém sempre não ser tão categórico e definitivo na recusa de meios alheios. Enfim, quarto, porque é quase sempre ilusório: de transigência em transigência, o Estado só vai deter-se na reparação dos danos quando tiver ultrapassado largamente a dotação de que podia dispor para o efeito.
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O que se planeia é o cruzeiro da vida, porque os picos anómalos não são planificáveis nem orçamentáveis (sob pena, aliás, de plano e orçamento deixarem de ser, com razoabilidade estatística, instrumentos úteis). É tudo isto que faz da catástrofe natural um pesadelo para os poderes do dia e uma mina de ouro para todas as oposições: os inevitáveis descontentamentos sociais serão cavalgados, a capacidade instalada de prevenção será questionada, os dispositivos de assistência contestados e os bodes expiatórios exigidos. A fuga às responsabilidades (muitas vezes, de resto, imaginárias) será a estratégia de todos os intervenientes. Governos, regiões, câmaras e juntas de freguesia trocarão entre si a batata quente das culpas, mesmo das que não existem. Porque o Criador não as assume e a população é quem vota. Só que um erro táctico, por muito que prejudique a razão estratégica que serve, não anula o seu bom fundamento. E é contra este que muitas vozes já se ouvem.
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Também por cá convém ir pensando nisto. Com três eleições sucessivas, o muro que cai sobre a casa, o buraco em que se afunda o automóvel e o lar de idosos que vem abaixo, serão, sempre e necessariamente, objecto do jogo de passa-culpas entre os vários níveis da organização administrativa do Estado ou entre diferentes etnias ou entre partidos rivais. E em escala maior, a seca, o incêndio e a cheia ainda mais severamente exigirão um culpado, porque os povos não aceitam que o Criador possa também destruir. Nós não somos melhores. Por isso, melhor será não lançar mão, para com a Itália, de critérios que aqui – espero bem que perante dramas menores – não iremos poder manter.
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Uma nota de circunstância extraída do nosso quintal: a nova investida do Presidente da Associação Nacional de Farmácias gorou-se. “Por uma questão de bom senso”, disse o próprio com a razão que lhe falhara ao lançar-se nela, dias antes, “Fez bem em recuar”, li na imprensa. Não há como um bom eufemismo para assegurar a elegância verbal. Porque, de facto, o que ele fez foi mal em ter avançado. Infelizmente, esta é só só uma escaramuça na guerra larvar em curso, na qual todos os grupos profissionais envolvidos reivindicam as vantagens, mas enjeitam as responsabilidades.
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«DN» de 12 de Abril de 2009

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Prémio foto CPC / «Acontece» de 10 Abr 09

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Puoi vedere la foto premiata sulla pagina permanente al link diretto:

inoltre il Tuo nominativo è stato inserito nella pagina:
Grand Prix - Permanent Competition
Certo che vorrai partecipare anche alle prossime edizioni.

Best regards

Pietrino Di Sebastiano AFI
(presidente-webmaster)
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A Madeira é "o" Jardim?

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Por Antunes Ferreira
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NEM SEQUER É NOVIDADE. Mas, parece-me conveniente registar mais esta aberração. A memória humana é extremamente falível. Quando isso se verifica ao nível do inconsciente, vá que não vá. Porem, quando o esquecimento é voluntário, cuidado. Mesmo com caldos de galinha, as coisas são o que são. A Assembleia Legislativa da Madeira volta este ano a não realizar qualquer sessão solene para comemorar oficialmente o 25 de Abril.
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Em anos anteriores, a deliberação foi tomada pela da maioria do PSD/M na câmara. O partido - que se reclama de social-democrata - rejeitou agora todas as propostas dos partidos da oposição para assinalar a data. Mas, o vice-presidente do parlamento da Região Autónoma, Paulo Fontes, apressou-se a declarar que este ano «não deu entrada qualquer proposta nesse sentido».
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Paulo Fontes falava após a reunião da conferência de líderes parlamentares da Assembleia da Madeira que serviu para agendar os próximos plenários nas instalações remodeladas no Tecnopolo, tendo reafirmado a posição dos sociais democratas madeirenses que as comemorações da efeméride acontecem e devem decorrer "a nível nacional, na Assembleia da República".
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Todos os anos, a recusa de Alberto João Jardim em comemorar, no parlamento da região, o 25 de Abril acaba por gerar polémica, optando os restantes partidos na Madeira por organizar diversas acções para assinalar a data na região.
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No ano passado, Jardim aproveitou o dia para efectuar uma inauguração no Jardim da Serra, no concelho de Câmara de Lobos, onde afirmou: "Não comemoramos o 25 de Abril com certas pessoas, a Democracia deve ser comemorada com o povo, foi o povo que soube agarrar e defender a Democracia, é com o povo que temos de comemorar o 25 de Abril.
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Jardim sublinhou também que se recusa a comemorar "com os comunistas e outras forças de esquerda, que queriam que Portugal tivesse, outra vez, uma ditadura, que queriam que Portugal continuasse a ser uma terra em que o povo não tinha liberdade".
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Opinou que "esses que comemoram todos juntos, é um acto de hipocrisia", adiantando que "o 25 de Abril é para comemorar com quem é democrata".
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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Usar um canteiro para semear flores ou para despejar beatas?
Humm... que tal conciliar as duas funções?

terça-feira, 7 de abril de 2009

A crise chegou aos ovos da Páscoa

Por Nuno Crato
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TODOS OS ANOS, o Coelho da Páscoa tem à sua disposição um número infinito de ovos, que distribui por este mundo e por uma infinidade de outros. Onde os obtém e como consegue distribuí-los ninguém o sabe.
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Mas este ano o coelhinho ficou inquieto, pois ouviu falar da crise e pensou que ela se poderia abater sobre os ovos. Se eles lhe faltassem para o ano, como conseguiria cumprir o seu ritual em 2010? O melhor seria fazer já poupanças.
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Aprontou as coisas. Separou o seu saco mágico, onde cabe uma infinidade de ovos, e arranjou outro saco idêntico. Fez um furo no fundo do primeiro saco e disse ao seu ajudante, o Filipinho Diabinho, que aí ficasse para o ajudar. O coelhinho e o seu auxiliar são infinitamente rápidos e infinitamente eficientes — em pouco tempo conseguem manejar um número infinito de ovos.
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Ora os ovos da Páscoa, mais uma vez pouca gente o sabe, chegam ao coelhinho já numerados: 1, 2, 3, ... O que ele decidiu foi o seguinte. Iria fazer entrar os ovos no primeiro saco em grupos de dez: primeiro os ovos numerados de 1 a 10, depois os numerados de 11 a 20, depois os numerados de 21 a 30, e assim por diante. Por cada dez que entrassem, o Filipinho Diabinho, no fundo do saco, tiraria o primeiro da série e colocá-lo-ia no segundo saco. Assim, depois de entrarem os ovos 1 a 10, o Diabinho tiraria o ovo 1 e colocá-lo-ia no segundo saco. Depois de entrarem os ovos 11 a 20, tiraria o 11 e colocá-lo-ia no segundo saco. E assim sucessivamente...
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O Coelho da Páscoa sabia que desta forma ficaria com uma infinidade de ovos no primeiro saco, destinado a este ano, e com uma infinidade no segundo, guardado para 2010. Por cada nove no primeiro ficaria com um no segundo. Mas ao fim de repetir o processo uma infinidade de vezes teria um número infinito de ovos em cada saco. O infinito é assim, está cheio de surpresas. Apesar de parecer que no segundo saco haveria nove vezes menos o que no primeiro, em ambos haveria infinitos ovos. O problema de 2010 ficava já resolvido. Chegasse ou não a crise aos ovos.
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Não contava o coelho com as diabruras do seu ajudante, que trocou os números e colocou a etiqueta 11 no ovo 2, a 21 no ovo 3, e assim por diante. Desta forma, o Filipinho retirou o ovo 1 quando o seu chefe colocou os primeiros dez no saco, retirou o ovo 2 quando o seu chefe colocou os segundos dez no saco, o ovo 3 com os terceiros dez, e assim sucessivamente.
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O Coelho da Páscoa, que já está habituado às doidices do seu auxiliar, pouco se importou. Continuou a deitar os ovos no primeiro saco, aos pacotes de dez. O Diabinho continuou a tirar um de cada vez e enviá-lo para o segundo saco, até ao fim do processo. Foi quando o coelhinho reparou que nada tinha ficado no primeiro saco e tudo no segundo. Como era isso possível, se por cada nove que entravam no primeiro saía apenas um para o segundo?
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É possível é! Pense o leitor num ovo qualquer. Esse ovo há-de ter um número. Imaginou o 27? Imaginou o 10145? Pois esses ovos desapareceram do primeiro saco quando o Coelhinho lá colocou os pacotes de dez correspondentes. Se pensar bem, não há nenhum ovo que não acabe por ir parar ao segundo saco.
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Está confuso? O coelhinho também. Apesar de continuar a parecer que no primeiro saco haveria nove vezes mais ovos do que no segundo, foram todos parar a este último. Estamos agora a receber os ovos destinados a 2010. É a crise.

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«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 4 de Abril de 2009 (adapt.)
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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v. aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Passatempo Ano Internacional da Astronomia - Solução


A balança indica 784 gramas e a anedota está na página 129.
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Sendo 913 a soma dos dois números, o passatempo foi ganho por Gena (erro = 4), que tem agora 48h para escrever para sorumbatico@iol.pt, indicando morada para envio do livro. Obrigado a todos(as)!

As Estradas sem Automóveis

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Por J.L. Saldanha Sanches


HÁ SEMPRE BOAS RAZÕES para um fim-de-semana no interior: uma delas, agora, é observar in loco o estranho espectáculo das novas estradas, largas, bem construídas e vazias.
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Estradas sem carros, museus sem visitantes, a demonstração do peso dos grupos de pressão na decisão pública. Pode não haver carros, mas tem de haver obra. Formas pouco imaginativas de desbaratar recursos públicos.
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No centro, o nosso modelo de Estado.
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Por exemplo, serão mesmo precisos os parlamentos regionais? Não seria bastante a existência de um governo em cada uma das regiões? Não será um excesso de caciques para tão poucos índios? E as assembleias municipais? O país parava se elas fossem extintas? As vereações não chegam?
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E aquelas inspecções que nos Ministérios controlam os ministérios? Tirando a Inspecção-Geral de Finanças, que deveria ser muito importante, servirão para alguma coisa?

O plano de emagrecimento do Estado português a que temos assistido, além de insuficiente, lembra uma dieta em que alguém decide reduzir – de forma igualitária - 10% o peso de cada um dos seus órgãos.
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Para uma redução racional e efectiva da despesa pública – que ainda não aconteceu - a única hipótese é uma distinção implacável entre as despesas públicas que são indispensáveis e as que existem por tradição, por inércia, por imposição de poderosos grupos de pressão e interesses especiais e que são um peso que afunda a economia portuguesa.
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Supressões deste tipo só podem acontecer mediante pressão externa e vamos sentir essa. Serão a principal consequência do insustentável défice nas contas com o exterior que não nasceu com a crise e se vai agravar.
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Como há pouco recordava Silva Lopes, o euro não pode permitir que um dos seus membros abra falência: mas os auxílios externos são sempre condicionados. Condicionados à adopção de medidas que reduzam as despesas públicas e por isso a questão central é saber onde é que vai haver reduções.
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A sua origem longínqua é a dificuldade que temos revelado de conseguir flutuar no espaço europeu. Em Espanha, foi um modelo de crescimento insustentável, com um desequilíbrio externo excessivo, demasiadas casas e muito poucas exportações, que conduziu à derrocada. Em Portugal, a questão é outra: um enorme défice externo juntamente com uma absoluta incapacidade de conseguir um mínimo de crescimento.
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Em ambos os países, tem de haver mudanças radicais. Em Portugal, uma delas terá de ser uma redução efectiva das despesas públicas porque a carga fiscal não pode aumentar mais.
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Não basta congelar os aumentos da função pública. É o nosso modelo de Estado que está em causa; não o Estado social enquanto tal, mas o Estado político: aquela massa enorme de gente que à volta do sector público - Estado central, regiões, municípios - e com carta de corso partidária negoceia, trafica e rouba.
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Os poucos sectores dinâmicos e eficientes da economia portuguesa, mesmo se não tivessem sido atingidos pela crise, não podem suportar uma carga tão pesada.

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«Expresso» de 4 de Abril de 2009 - http://www.saldanhasanches.pt/
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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [v.
aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados. A foto foi obtida [aqui]