quarta-feira, 1 de abril de 2009

A mascarada

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Por Baptista Bastos
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A FARSA DO PROVEDOR de Justiça, que decorre entre o espanto e a indiferença populares, diz-nos que os meios, finalmente, destroem os fins, e que os fins representam um longo desrespeito. Há nove meses que a historieta se prolonga, com declarações de todos os envolvidos. E tanto o PSD como o PS aumentam a perplexidade geral, numa obstinada teimosia de pequenas afirmações de poder, que apenas enxovalham os nomes indicados e nos põem à margem das consequências.
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Antes de tudo, o nó do problema: poucas pessoas, no País, sabem para que serve o provedor de Justiça, quem ele é, que funções rigorosamente exerce, que leis defende, ou se almeja a nossa colectiva felicidade. Não é surpresa. O português comum ignora, quase totalmente, as instituições de que a República dispõe. E o mencionar de qualquer delas suscita-lhe a mais inquietante desconfiança, a começar pelo Parlamento. Todos sabemos disto e nada se faz para o inverter. Por outro lado, os chamados "partidos de poder" estão muito mais preocupados em dividir o bolo entre si do que inclinados no acto pedagógico.
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Assim vamos vivendo: na incerteza de uma democracia débil, e desapossados de forças suficientes que pudessem congregar um feixe de energias. Estamos quase a estatelar-nos ao comprido e inculcam-nos o acessório e a futilidade. O caso do provedor faz parte desse jogo perverso. Que deseja o PS e que quer o PSD? Demonstrar à puridade qual deles possui mais resistência e maior capacidade de argumentar com convicção. Vejamos: a importância do provedor é muito relativa, mas ele existe e merece consideração.
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Os pretextos invocados para esta rixa do alecrim e da manjerona não demonstram a menos consistência, antes reflectem a ausência de ética dos dois partidos e o desprezo pelas personalidades indicadas. Nem o PS nem o PSD admitem que o outro pode ter razão. E aqui reside a mácula maior: eles falam, falam, falam em democracia, e quando em democracia falam as bocas deviam encher-se-lhes de areia.
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Tenho sérias dúvidas sobre se, algum dia, a democracia portuguesa conseguirá ensinar os seus dirigentes a ter um pouco mais de modéstia e um pouco mais de grandeza moral. O episódio em ocorrência, associado a outros, cujas dimensões de escândalo social e político nos ferem grandemente, torna-nos cada vez mais acabrunhados e desprendidos.
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A "democracia moderna", tão ao gosto do discurso de Sócrates, e a insistência na "política de verdade", proclamada por Manuela Ferreira Leite, exigem uma acção aproximativa que não remeta o cidadão para a ignorância da coisa pública. O que está a acontecer, em muitos níveis da sociedade, é uma hedionda mascarada, cujos resultados conduzirão, inevitavelmente, à capitulação dos nossos direitos e da nossa dignidade.
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«DN» de 1 de Abril de 2009

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NOTA: Este texto é uma extensão do que está publicado no 'Sorumbático' [aqui], onde eventuais comentários deverão ser afixados.