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Por Nuno Crato
A UNIVERSIDADE COLUMBIA, em Nova Iorque, uma das melhores e mais antigas universidades norte-americanas, lançou há já alguns anos um programa de formação científica para professores do ensino secundário. É um projecto ambicioso, que aceita apenas 10 a 13 professores por ano, seleccionados entre os muitos candidatos. Paga-lhes cerca de quatro mil euros por Verão e oferece-lhes várias regalias, tais como viagens para participação em conferências, dinheiro para materiais de laboratório e acesso às bases de dados da universidade. No total, os custos por professor ascendem a quase vinte mil euros.
Os candidatos aceites são colocados em contacto com laboratórios e actividades de investigação científica. Espera-se por isso que desenvolvam uma melhor apreciação da ciência e que percebam melhor os limites das conclusões que se podem tirar de experiências demonstrativas. Como o reconhecem os promotores da iniciativa, ao regressarem parcialmente ao papel de estudantes, os professores ganham também uma maior apreciação pelas dificuldades da aprendizagem e aprendem a ensinar melhor.
O grande efeito deste programa, contudo, pode ser o de aumentar os conhecimentos dos professores e, com isso, permitir-lhes transmitir melhor os conceitos que ensinam. Pode ser também o de lhes desenvolver a capacidade de organização do trabalho de laboratório, que é fundamental para o ensino experimental das ciências. Pode ser ainda o de lhes permitir transmitir melhor o entusiasmo pela ciência.
Este programa existe desde 1994, pelo que se pode começar a ir além dos comentários gerais e das suposições. Pode-se começar a avaliar os seus resultados de forma objectiva. É o que o tentaram agora os seus responsáveis, num estudo publicado esta semana na “Science” (362, pp. 440–442).
Inúmeras vezes, em muitos ditos «estudos de educação», este tipo de experiências, ou mesmo experiências muito mais modestas, são avaliadas de forma leviana. Muitas vezes, as simples boas intenções são tomadas como prova da validade da iniciativa. Outras vezes, fazem-se apenas inquéritos aos professores e alunos, que declaram terem-se entusiasmado e melhorado com o projecto. Mas as declarações de interesse e de entusiasmo não bastam. O que falha com frequência assustadora é a simples formulação da pergunta: «no fim de tudo, os alunos aprenderam mais?»
Não é o que se passa neste caso. Os autores do estudo foram analisar esses resultados. Os estudantes dos professores que passaram por este programa revelaram uma melhoria modesta, em cerca de 10%, na aprovação nas notas dos exames externos (Regents). Curiosamente, isso só aconteceu de forma significativa três a quatro anos depois da sua passagem pelo programa, o que leva a crer ter sido necessário tempo para os professores experimentarem as novas ideias, interiorizá-las e adaptá-las com sucesso.
Mesmo assim, as conclusões têm um senão que os próprios autores reconhecem: o factor «motivação, que subsiste como a principal variável não controlada» (p. 441). Na realidade, professores motivados podem conseguir ensinar melhor os seus estudantes apenas por esse facto: o de estarem motivados.
Os cuidados com que os autores deste estudo analisam o seu programa dão-nos um exemplo de saudável cepticismo — o cepticismo próprio dos verdadeiros cientistas.
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«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 17 de Outubro de 2009
Por Nuno Crato
A UNIVERSIDADE COLUMBIA, em Nova Iorque, uma das melhores e mais antigas universidades norte-americanas, lançou há já alguns anos um programa de formação científica para professores do ensino secundário. É um projecto ambicioso, que aceita apenas 10 a 13 professores por ano, seleccionados entre os muitos candidatos. Paga-lhes cerca de quatro mil euros por Verão e oferece-lhes várias regalias, tais como viagens para participação em conferências, dinheiro para materiais de laboratório e acesso às bases de dados da universidade. No total, os custos por professor ascendem a quase vinte mil euros.
Os candidatos aceites são colocados em contacto com laboratórios e actividades de investigação científica. Espera-se por isso que desenvolvam uma melhor apreciação da ciência e que percebam melhor os limites das conclusões que se podem tirar de experiências demonstrativas. Como o reconhecem os promotores da iniciativa, ao regressarem parcialmente ao papel de estudantes, os professores ganham também uma maior apreciação pelas dificuldades da aprendizagem e aprendem a ensinar melhor.
O grande efeito deste programa, contudo, pode ser o de aumentar os conhecimentos dos professores e, com isso, permitir-lhes transmitir melhor os conceitos que ensinam. Pode ser também o de lhes desenvolver a capacidade de organização do trabalho de laboratório, que é fundamental para o ensino experimental das ciências. Pode ser ainda o de lhes permitir transmitir melhor o entusiasmo pela ciência.
Este programa existe desde 1994, pelo que se pode começar a ir além dos comentários gerais e das suposições. Pode-se começar a avaliar os seus resultados de forma objectiva. É o que o tentaram agora os seus responsáveis, num estudo publicado esta semana na “Science” (362, pp. 440–442).
Inúmeras vezes, em muitos ditos «estudos de educação», este tipo de experiências, ou mesmo experiências muito mais modestas, são avaliadas de forma leviana. Muitas vezes, as simples boas intenções são tomadas como prova da validade da iniciativa. Outras vezes, fazem-se apenas inquéritos aos professores e alunos, que declaram terem-se entusiasmado e melhorado com o projecto. Mas as declarações de interesse e de entusiasmo não bastam. O que falha com frequência assustadora é a simples formulação da pergunta: «no fim de tudo, os alunos aprenderam mais?»
Não é o que se passa neste caso. Os autores do estudo foram analisar esses resultados. Os estudantes dos professores que passaram por este programa revelaram uma melhoria modesta, em cerca de 10%, na aprovação nas notas dos exames externos (Regents). Curiosamente, isso só aconteceu de forma significativa três a quatro anos depois da sua passagem pelo programa, o que leva a crer ter sido necessário tempo para os professores experimentarem as novas ideias, interiorizá-las e adaptá-las com sucesso.
Mesmo assim, as conclusões têm um senão que os próprios autores reconhecem: o factor «motivação, que subsiste como a principal variável não controlada» (p. 441). Na realidade, professores motivados podem conseguir ensinar melhor os seus estudantes apenas por esse facto: o de estarem motivados.
Os cuidados com que os autores deste estudo analisam o seu programa dão-nos um exemplo de saudável cepticismo — o cepticismo próprio dos verdadeiros cientistas.
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«Passeio Aleatório» - «Expresso» de 17 de Outubro de 2009