segunda-feira, 26 de outubro de 2009

«Dito & Feito»

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Por José António Lima

O PSD TORNOU-SE UM PARTIDO errático e em roda livre. Em poucos dias, vimos dois vice-presidentes da actual e agonizante direcção, Aguiar Branco e Paulo Mota Pinto entrarem em confronto público sobre o preenchimento do cargo de líder parlamentar, com Aguiar Branco a antecipar-se e a ocupar o terreno. Assistimos à inacreditável renúncia de Deus Pinheiro ao mandato de deputado para o qual acabara de ser eleito como cabeça-de-lista por Braga, em sobranceiro desrespeito e menosprezo pelos que o elegeram, pelo prestígio do Parlamento e pela imagem de seriedade do seu partido (depois dos casos António Preto e Helena Lopes da Costa, foi mais uma machadada na tão propalada política de verdade e rectidão de Manuela Ferreira Leite). E fomos, ainda, confrontados com o disparatado fundamentalismo nacionalista e religioso de um eurodeputado do PSD, à margem de qualquer espírito de tolerância social-democrata, a embarcar na promoção involuntária do último livro de Saramago (e a fazer lembrar tristes episódios de semelhante radicalismo perante uma obra de Saramago, por parte de um delirante e medieval subsecretário de Estado da Cultura, que se pensava estarem enterrados e resolvidos há mais de 17 anos).

É um espectáculo deprimente e pouco recomendável este que o PSD vem dando aos portugueses nos últimos dias.

Politicamente ferida de morte com a severa derrota nas legislativas, que deixou o partido abaixo dos 30%, a direcção de Manuela Ferreira Leite arrasta-se sem decidir o seu fim. Entretanto, eclipsou-se do palco político e abriu um vazio de liderança que dá lugar a esta balbúrdia partidária: cada qual fala para seu lado, ninguém presta contas a ninguém, tomam-se decisões impróprias e prejudiciais, dizem-se enormidades embaraçosas e contraproducentes. É um partido que deambula à rédea solta, sem rei nem roque.

Rui Machete, presidente da mesa do Congresso do PSD, defende a mudança da liderança o mais depressa possível. Pinto Balsemão diz que é preciso decidir «sem pressas». E os presumíveis candidatos à liderança, não querendo o ónus da ruptura, esperam na sombra que o poder lhes caia no colo.

Manuela Ferreira Leite parece disposta a prolongar esta agonia até à votação do Programa do Governo e do Orçamento. Sem perceber que ninguém ligará ao que irá dizer ou dará alguma importância à posição que tomar. Porque já ninguém lhe reconhece qualquer réstia de autoridade – a ela ou a este desacreditado PSD.

«SOL» de 23 de Outubro de 2009