Por Antunes Ferreira
LEIO O PÚBLICO e fico pasmado. Quase penso em duvidar, quiçá mesmo em não acreditar. Mas, consultando por via das dúvidas, outros Órgãos da Comunicação Social, varrem-se-me as interrogações. Foi mesmo assim. Não quero com isto dizer que não confie no quotidiano do Senhor Engenheiro Belmiro de Azevedo, nada disso. Mas, as afirmações que o diário publicou causaram-me um verdadeiro espanto.
Com a devida vénia (nariz de cera que se vai perdendo no tempo – e no modo), passo a transcrever a notícia em causa:
«A deputada bloquista Ana Drago afirmou-se surpreendida pelo discurso da “asfixia democrática” de Manuela Ferreira Leite, na entrevista de ontem à noite na RTP1, acusando a líder do PSD de integrar governos onde esse clima era vivido.»
«“A doutora Manuela Ferreira Leite fez parte de governos no tempo do professor Cavaco Silva em que se percebeu exactamente o que significava asfixia democrática e portanto vejo com alguma surpresa que seja Manuela Ferreira Leite a falar da questão nestes termos. Lembramo-nos bem do fechamento do país, do assalto ao aparelho de Estado por parte do PSD nos tempos do cavaquismo, não nos esquecemos", comentou.»
«Quanto às propostas do PSD, Ana Drago critica a possibilidade admitida por Ferreira Leite de baixar os impostos que incidem sobre o trabalho. “Baixar os custos de trabalho quando Portugal já tem salários tão baixos é um caminho muito perigoso: vai descapitalizar a segurança social e vamos ter cortes nas reformas”, observou a deputada bloquista».
Insisto. Ainda pensei que as declarações fossem do ministro dos Assuntos Parlamentares, do porta-voz do PS ou, até, do próprio José Sócrates. A dúvida que de mim se apoderou – quase cartesiana, que me desculpe o ilustre autor do «Discurso sobre o Método» - não foi, de modo algum hiperbólica ou sistemática. Nada tem a ver com a Filosofia, tem apenas relação com a prosaica vida real, quotidiana, vulgar.
O Bloco habituou-me a outro tipo de afirmações. Em cartazes há poucos dias afixados, o já basta de 18 anos é sintomático. O PSD e, naturalmente, a Doutora Manuela Ferreira Leite já participou – e de que maneira – nesse prolongado período de tempo. O Partido Socialista e, em especial, Sócrates, igualmente. E o Professor Aníbal Cavaco Silva, idem, idem, aspas, aspas.
Donde, o BE entende que chegou a sua vez de estar no Poder. Pensamento que, de resto, se foi vulgarizando, a ponto do secretário-geral do PCP ter escrito em artigo que o partido estava pronto a assumir responsabilidades governativas. Como – é que me parece um tanto difícil entender. Quer num quer noutro dos dois partidos que se reclamam de possuidores da verdade da Esquerda.
As propostas que apresentam muito dificilmente seriam postas em prática. Não avalio dos seus méritos, nem dos referidos partidos, nem das respectivas propostas. São, porem, inexequíveis. Roçam o utópico e quem as apresenta e as enuncia sabe que assim é. Novas nacionalizações avança Jerónimo de Sousa. Onde, quando e como? Aumento do salário mínimo? Onde, quando e como? Pleno emprego? Onde, quando e como? Novos apoios aos desempregados, como atira Francisco Louçã? Novos subsídios? Onde, como e quando?
Thomas Morus, como se sabe no século XVI, escreveu a sua «Utopia». Tratava-se de uma concepção teórica de um estado perfeito onde se viveria em plena liberdade religiosa. Assim, para Morus, a sociedade de Utopia é a reacção ideal à sociedade inglesa de seu tempo; é a cidade de Deus que ele contrapõe à cidade terrestre. De tal forma foi a sua influência que, de título de tratado se transmudou naquilo que é impossível de alcançar.
A deputada Ana Drago veio pôr uma quanta água na fervura. Um destes dias, ainda se aventa que foi convidada a integrar as listas do PS às legislativas. Mas que, feliz e coerentemente, recusou.
LEIO O PÚBLICO e fico pasmado. Quase penso em duvidar, quiçá mesmo em não acreditar. Mas, consultando por via das dúvidas, outros Órgãos da Comunicação Social, varrem-se-me as interrogações. Foi mesmo assim. Não quero com isto dizer que não confie no quotidiano do Senhor Engenheiro Belmiro de Azevedo, nada disso. Mas, as afirmações que o diário publicou causaram-me um verdadeiro espanto.
Com a devida vénia (nariz de cera que se vai perdendo no tempo – e no modo), passo a transcrever a notícia em causa:
«A deputada bloquista Ana Drago afirmou-se surpreendida pelo discurso da “asfixia democrática” de Manuela Ferreira Leite, na entrevista de ontem à noite na RTP1, acusando a líder do PSD de integrar governos onde esse clima era vivido.»
«“A doutora Manuela Ferreira Leite fez parte de governos no tempo do professor Cavaco Silva em que se percebeu exactamente o que significava asfixia democrática e portanto vejo com alguma surpresa que seja Manuela Ferreira Leite a falar da questão nestes termos. Lembramo-nos bem do fechamento do país, do assalto ao aparelho de Estado por parte do PSD nos tempos do cavaquismo, não nos esquecemos", comentou.»
«Quanto às propostas do PSD, Ana Drago critica a possibilidade admitida por Ferreira Leite de baixar os impostos que incidem sobre o trabalho. “Baixar os custos de trabalho quando Portugal já tem salários tão baixos é um caminho muito perigoso: vai descapitalizar a segurança social e vamos ter cortes nas reformas”, observou a deputada bloquista».
Insisto. Ainda pensei que as declarações fossem do ministro dos Assuntos Parlamentares, do porta-voz do PS ou, até, do próprio José Sócrates. A dúvida que de mim se apoderou – quase cartesiana, que me desculpe o ilustre autor do «Discurso sobre o Método» - não foi, de modo algum hiperbólica ou sistemática. Nada tem a ver com a Filosofia, tem apenas relação com a prosaica vida real, quotidiana, vulgar.
O Bloco habituou-me a outro tipo de afirmações. Em cartazes há poucos dias afixados, o já basta de 18 anos é sintomático. O PSD e, naturalmente, a Doutora Manuela Ferreira Leite já participou – e de que maneira – nesse prolongado período de tempo. O Partido Socialista e, em especial, Sócrates, igualmente. E o Professor Aníbal Cavaco Silva, idem, idem, aspas, aspas.
Donde, o BE entende que chegou a sua vez de estar no Poder. Pensamento que, de resto, se foi vulgarizando, a ponto do secretário-geral do PCP ter escrito em artigo que o partido estava pronto a assumir responsabilidades governativas. Como – é que me parece um tanto difícil entender. Quer num quer noutro dos dois partidos que se reclamam de possuidores da verdade da Esquerda.
As propostas que apresentam muito dificilmente seriam postas em prática. Não avalio dos seus méritos, nem dos referidos partidos, nem das respectivas propostas. São, porem, inexequíveis. Roçam o utópico e quem as apresenta e as enuncia sabe que assim é. Novas nacionalizações avança Jerónimo de Sousa. Onde, quando e como? Aumento do salário mínimo? Onde, quando e como? Pleno emprego? Onde, quando e como? Novos apoios aos desempregados, como atira Francisco Louçã? Novos subsídios? Onde, como e quando?
Thomas Morus, como se sabe no século XVI, escreveu a sua «Utopia». Tratava-se de uma concepção teórica de um estado perfeito onde se viveria em plena liberdade religiosa. Assim, para Morus, a sociedade de Utopia é a reacção ideal à sociedade inglesa de seu tempo; é a cidade de Deus que ele contrapõe à cidade terrestre. De tal forma foi a sua influência que, de título de tratado se transmudou naquilo que é impossível de alcançar.
A deputada Ana Drago veio pôr uma quanta água na fervura. Um destes dias, ainda se aventa que foi convidada a integrar as listas do PS às legislativas. Mas que, feliz e coerentemente, recusou.