sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Dito & Feito


Por José António Lima

HÁ PRECISAMENTE UM ANO, José Sócrates e o PS, cheios de si próprios e do poder da sua maioria, decidiram sujeitar o Presidente da República a uma insensata prova de força, a pretexto do Estatuto dos Açores. Insensata, politicamente infantil e infundamentada (como vários constitucionalistas então alertaram), gratuita e irresponsável no que respeitava à falta de sentido de Estado demonstrada.

Entretanto, veio a crise internacional, o desabar das ilusões de crescimento da economia, um novo e maior desequilíbrio das contas públicas, o aumento em flecha do défice e do desemprego. Vieram as greves e manifestações dos professores. Vieram as notícias do ‘caso Freeport’. Veio o traumatizante descalabro socialista nas europeias. E veio, finalmente, o acórdão do Tribunal Constitucional dar plena razão às objecções de Cavaco Silva sobre o enviesado Estatuto dos Açores.

Como reagiu o PS? O deputado Ricardo Rodrigues, com as suas habituais esperteza e subtileza argumentativas, apareceu a acusar o TC de «centralista» e de funcionar em sintonia com os interesses de Cavaco e do PSD. O socialista açoriano Carlos César, com o ego insuflado pelo seu pequeno poder regional, surgiu a proclamar que «não recebe lições» de ninguém, de «nenhum juiz ou titular de órgão de soberania». Os socialistas não recebem lições? Deve ser por isso que não aprendem nada. E que não percebem que o país e a predisposição política do eleitorado mudaram muito nestes últimos doze meses: os portugueses fartaram-se da arrogância maioritária e da falta de resultados desta governação.

Quem também parece não perceber os ventos de mudança é Manuela Ferreira Leite. Ao excluir das listas do PSD nomes como Passos Coelho ou Miguel Relvas deu um sinal público de autoridade. Mas também de fraqueza e pequenez política. E, sobretudo, de incapacidade de unir vontades, de congregar esforços, de abrir o partido a uma maior pluralidade de vozes e opiniões.

Ferreira Leite preferiu o autoritarismo da exclusão sectária à tolerância da inclusão abrangente. Quem afasta Passos Coelho para impor nas listas do PSD figuras a contas com a Justiça, como António Preto ou Helena Lopes da Costa, aliena a sua legitimidade política, não tem ética a que se agarrar. Além de oferecer a José Sócrates e ao PS a melhor notícia desta pré-campanha eleitoral.

«SOL» de 7 de Agosto de 2009