segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Dito & Feito

Por José António Lima

ALERTANDO SÓCRATES e o PS para as desgraças políticas que podem estar perto de bater-lhes à porta, Mário Soares veio avisar esta semana que «os resultados das próximas eleições não são nada fáceis de prever», abrindo caminho ao cenário de uma derrota socialista. E aproveitou para chamar a atenção sobre o balanço negro de quatro anos e meio de Governo PS: «A generalidade das pessoas está descontente e insegura quanto ao seu futuro próximo», o que prenuncia um voto muito volátil e facilmente transferível para outras forças políticas.


José Sócrates não precisava deste aviso à navegação dado por Soares. Ficou a perceber tudo isso na noite do desastre eleitoral socialista (e pessoal) das europeias de 7 de Junho. E sabe, por outro lado, que mais do que Oposições ganharem as eleições são os Governos que as perdem. Daí a incansável e ininterrupta actividade de pré-campanha eleitoral a que se tem devotado por estes dias, ora na pele de líder do PS ora na condição de primeiro-ministro. Aparece compungido e de gravata escura na praia Maria Luísa, exulta na primeira escavação do longínquo túnel do Marvão, passa pelo Hospital de Lamego, vai comiciar à Madeira de Jardim e acusar o PCP e o BE de quererem «enfraquecer o PS» (como se o PS não quisesse enfraquecer o PCP e o BE...), surge a gabar a redução do insucesso escolar, aterra em Santarém para receber (com lágrimas contidas) uma medalha de Moita Flores, visita a nova fábrica da Portucel que apenas será inaugurada em Novembro, etc., etc. Uma agenda interminável e um esforço, porventura, inglório.

Mas, a par das maratonas de Sócrates, o PS inaugurou agora um novo modelo de estratégia eleitoral: pôr dirigentes socialistas a dizerem mal das medidas mais impopulares do Governo igualmente socialista. Marcos Perestrello, membro do Secretariado nacional do PS, veio criticar a «atitude hostil» da ministra da Educação para com os professores, a «rigidez» de Maria de Lurdes Rodrigues, que «transformou a determinação em obstinação». Espantoso...

Que membros do Secretariado do PS se seguirão a Perestrello? Edite Estrela a arrasar a política do ministro Teixeira dos Santos pela perda de poder de compra e de apoios sociais dos funcionários públicos? António Costa a demolir os números do desemprego? No PS, em aflitivo tempo de eleições, parece que vale tudo. E o seu contrário...

«SOL» de 29 de Agosto de 2009