sábado, 29 de agosto de 2009

A felicidade total – ou quase


Por Antunes Ferreira

OS PORTUGUESES VÃO, FINALMENTE, ser todos – ou quase todos – muito felizes, depois do PPD/PSD e quiçá o CDS-PP chegarem ao poder, ou seja após terem vencido as legislativas que se aproximam a passos largos. Mais precisamente: elas já estão aí, ao virar da esquina, faltam umas cinco semanitas, mais coisa, menos coisa, para o 27 de Setembro.

Acabará, então, a maldita crise – é o que se pode (pelo menos eu posso) inferir das declarações programáticas dos dois partidos da Direita. Não concordam comigo? Têm todos o direito de discordar. Na vigência da Liberdade e da Democracia, é assim. Ainda que alguns queiram que não. Mas, podem-no fazer, diria até devem-no fazer. Com as necessárias justificações? Nada disso. O livre alvedrio supõe a responsabilidade. É, tão-só, a minha opinião, sublinho.

Explico-me, ainda que, face às boas propostas enunciadas, me pareça intuitiva essa felicidade que nos espera. Mesmo assim, sobretudo para os menos avisados ou para os mais distraídos, aqui deixo as minhas razões para antever esse Paraíso que nos vai abrir as portas, quiçá com as correspondentes huris, sabe-se lá se com as harpas da satisfação, as asas da abastança.

Vejamos. Manuela Ferreira Leite veio a terreiro prometer a baixa de impostos. Não de todos, está bem de ver, apenas dos suficientes para empolgar os que irão depositar os seus votos nas urnas. Bandeira agitada galhardamente mas, acentue-se, sem qualquer vermelho, sequer algo que se assemelhe a tal cor tradicionalmente perigosa – salvaguardando o Benfica, obviamente. Ainda que este seja mais encarnado.

O busílis da questão é que, em seguida, o partido da Santana à Lapa veio esclarecer que a sua líder não dissera o que aparentemente dissera. A interpretação do que afirmara é que tinha sido errada, ainda que a intenção da Senhora fosse realmente baixa-los (os impostos, naturalmente) logo que fosse possível fazê-lo. O que significava em linguagem popular, um verdadeiro tiro-e-queda. Um minúsculo quiproquó.

Além disso – que já não é pouco, destaco - o PPD/PSD vai meter ombros à tarefa ciclópica mas realizável de eliminar o estatal do… Estado. Para dar cabo do famigerado amplexo com que os socialistas têm vindo a asfixiar o País. Piedosa e excelente intenção que bem sintetiza a afirmação dos seus cartazes propagandísticos: «só prometam aquilo que podem cumprir».

Em primeira análise – e dada a limitação de espaço, sempre citada por quem escreve para publicações com ele reduzido – estes dois propósitos já chegariam, no meu modesto entender, para encher as almas da lusa gente da felicidade, gente que, aliás, merece que assim seja. Logo, assim seja. Há mais, mas ficam para melhor ocasião.

Por seu turno, o presidente do CDS-PP veio a terreiro anunciar que o "primeiro compromisso" do seu programa eleitoral é aumentar as pensões. E aditou que no referido programa se explicará «onde é que alicerçamos a melhoria de pensões, mas é o nosso primeiro compromisso social. Num país onde há um milhão de idosos que têm 245 euros ou menos para viver todos os meses não há outra prioridade social».

Porem, há mais. O “segundo compromisso” para a área social é o apoio às Instituições de Particulares de Solidariedade Social. Santo e coerente anseio. Segundo Portas, o seu partido irá avançar neste particular por entender que “o Estado, em vez de querer fazer tudo e depois não consegue, deve delegar e contratualizar nestas instituições”.

Aleluia, portanto. A felicidade vem realmente a caminho. Melhor dizendo: na prática já se vê sem necessidade de óculos ainda que com poucas dioptrias.