Por Maria Filomena Mónica
HÁ COISAS QUE SÓ A MIM acontecem. Este ano [2008] deliberei tirar férias ibéricas, a começar no dia 30 de Junho, jamais me tendo passado pela cabeça que os espanhóis pudessem vir a ganhar o campeonato europeu de futebol. Ora, como toda a gente sabe, foi isso que aconteceu. O hotel que tinha marcado ficava junto da Plaza Cólon, pelo que fui forçada a competir com os heróis do dia a fim de entrar na Calle Serrano. Evidentemente, perdi. Sem alternativa, fiquei entre os 400.000 castelhanos, bascos, catalães, galegos e andaluzes vibrando em uníssono. Pelos vistos, a nação espanhola ainda existe. Num cartaz à minha frente, pedia-se à presidente da câmara de Mostoles que atribuísse «el nombre de la madre que parió a Iker Casillas» (o guarda redes da selecção) a uma rua local: não a ele, note-se, mas à mãe. Apesar de não conhecer bem o que se passa nos esconderijos da alma lusa, conclui que os espanhóis pertenciam a uma raça diferente.
Sei que há gente inteligente, sofisticada e culta capaz de vibrar com a exibição de dois conjuntos masculinos enfrentando-se por intermédio de uma bola. Acontece que as proezas futebolísticas são incapazes de me excitar: não porque seja insensível a todo e qualquer tipo de patriotismo, mas porque o motivo tem de ser mais nobre. Apesar de escrito com intuito propagandístico, O Leão e o Unicórnio, de G. Orwell, é um ensaio que gostaria de ter assinado. Em 1941, diante da ameaça nazi, era assim que se devia reagir.
Infelizmente, o meu país tem-me dado poucas oportunidades para vibrar. Não é certamente um jogo que me levaria a colocar a bandeira nacional na janela. Até porque a que tenho cá em casa – oferecida pelo Diário de Notícias – contém erros ortográficos: «Heróis do mar, nobre povo, Nação valente, imortal. Levantai hoje de novo, o explendor de Portugal…». Os portugueses podem ter muito jeito para correr, mas estão-se nas tintas para o uso da língua. Gostaria que a primeira não impedisse a segunda: manias de uma snob cultural.
HÁ COISAS QUE SÓ A MIM acontecem. Este ano [2008] deliberei tirar férias ibéricas, a começar no dia 30 de Junho, jamais me tendo passado pela cabeça que os espanhóis pudessem vir a ganhar o campeonato europeu de futebol. Ora, como toda a gente sabe, foi isso que aconteceu. O hotel que tinha marcado ficava junto da Plaza Cólon, pelo que fui forçada a competir com os heróis do dia a fim de entrar na Calle Serrano. Evidentemente, perdi. Sem alternativa, fiquei entre os 400.000 castelhanos, bascos, catalães, galegos e andaluzes vibrando em uníssono. Pelos vistos, a nação espanhola ainda existe. Num cartaz à minha frente, pedia-se à presidente da câmara de Mostoles que atribuísse «el nombre de la madre que parió a Iker Casillas» (o guarda redes da selecção) a uma rua local: não a ele, note-se, mas à mãe. Apesar de não conhecer bem o que se passa nos esconderijos da alma lusa, conclui que os espanhóis pertenciam a uma raça diferente.
Sei que há gente inteligente, sofisticada e culta capaz de vibrar com a exibição de dois conjuntos masculinos enfrentando-se por intermédio de uma bola. Acontece que as proezas futebolísticas são incapazes de me excitar: não porque seja insensível a todo e qualquer tipo de patriotismo, mas porque o motivo tem de ser mais nobre. Apesar de escrito com intuito propagandístico, O Leão e o Unicórnio, de G. Orwell, é um ensaio que gostaria de ter assinado. Em 1941, diante da ameaça nazi, era assim que se devia reagir.
Infelizmente, o meu país tem-me dado poucas oportunidades para vibrar. Não é certamente um jogo que me levaria a colocar a bandeira nacional na janela. Até porque a que tenho cá em casa – oferecida pelo Diário de Notícias – contém erros ortográficos: «Heróis do mar, nobre povo, Nação valente, imortal. Levantai hoje de novo, o explendor de Portugal…». Os portugueses podem ter muito jeito para correr, mas estão-se nas tintas para o uso da língua. Gostaria que a primeira não impedisse a segunda: manias de uma snob cultural.
Junho de 2008