Por Baptista-Bastos
NO JORNALISMO, como na literatura, o adjectivo é a prosa a tomar partido. Na política, o adjectivo é o embrulho do embuste, da meia-verdade e da omissão. No Congresso do PSD, que não resultou num toque a reunir, o adjectivo abundou, gordo, espalhafatoso e interminável. A direcção da dr.ª Manuela, a pior de sempre daquele partido, foi banhada pelo esplendor do elogio desbragado. A coisa chegou a ser indecorosa. Somente o presidente da Câmara das Caldas da Rainha, elementar e claro, recusou a metáfora e preferiu a catilinária. Aplicou a pior das desfeitas aos dirigentes que, no seu parecer, praticaram a exclusão, a perseguição e a vingança. A dr.ª Manuela, já de si grave e impávida, estava transparente, confusa e estupefacta.
Por fim, o sempre inadiável Santana Lopes propôs a regra segundo a qual nenhum elemento do PSD pode criticar a direcção sessenta dias antes de eleições. A aberração foi ruidosamente aplaudida. O PSD, saído de Mafra, está entre a Lei da Rolha e o epifenómeno. Uma das televisões fixou o rosto sombrio do dr. Sarmento. Não se percebeu, pela morfologia, a bússola com a qual se orientava o distinto, acusado, no Parlamento, pelo dr. Granadeiro, de o haver pressionado, durante os Governos de Barroso e de Santana, para despedir os directores do Jornal de Notícias, do 24 Horas e da Grande Reportagem. O dr. Granadeiro, na ocasião administrador da Lusomundo, proprietária daquelas publicações, ter-se-ia recusado e, cheio de horror, demitido.
O prof. Marcelo, há onze anos ausente destes sinédrios, dedicou uns parágrafos leves à movediça vida do PSD, e levou um beijo da dr.ª Manuela, pormenor que o deixou demonstradamente feliz.
Os discursos dos candidatos principais não revelaram qualquer diferença fundamental. Nenhum deles parece vocacionado para restituir ao PSD a designação do acrónimo: social-democrata. Rangel é o mais ruidoso dos três, o mais adjectivante, e confessa-se muito contente por estar onde está. Deve ter cuidado com seguir Pacheco Pereira: o homem dá azar. Aguiar-Branco parece-me um indivíduo sensato, equilibrado e calmo, numa altura em que o PSD abomina essas virtudes. Aguiar está fora do tempo; não do seu: do tempo dos outros. Passos Coelho fez caminho durante dois anos. Tem aquela tineta do neoliberalismo, que o prejudica, e uma afabilidade bem-educada, que o favorece. Nenhum deles, porém, vai inventar o infinito, a fim de modificar, substancialmente, o estado das coisas. A reunião de Mafra resultou inútil. Não uniu, não congregou, e acentuou as internas divisões. E nada disse, de substantivo, que tranquilizasse o País.
«DN» de 17 Mar 10
NO JORNALISMO, como na literatura, o adjectivo é a prosa a tomar partido. Na política, o adjectivo é o embrulho do embuste, da meia-verdade e da omissão. No Congresso do PSD, que não resultou num toque a reunir, o adjectivo abundou, gordo, espalhafatoso e interminável. A direcção da dr.ª Manuela, a pior de sempre daquele partido, foi banhada pelo esplendor do elogio desbragado. A coisa chegou a ser indecorosa. Somente o presidente da Câmara das Caldas da Rainha, elementar e claro, recusou a metáfora e preferiu a catilinária. Aplicou a pior das desfeitas aos dirigentes que, no seu parecer, praticaram a exclusão, a perseguição e a vingança. A dr.ª Manuela, já de si grave e impávida, estava transparente, confusa e estupefacta.
Por fim, o sempre inadiável Santana Lopes propôs a regra segundo a qual nenhum elemento do PSD pode criticar a direcção sessenta dias antes de eleições. A aberração foi ruidosamente aplaudida. O PSD, saído de Mafra, está entre a Lei da Rolha e o epifenómeno. Uma das televisões fixou o rosto sombrio do dr. Sarmento. Não se percebeu, pela morfologia, a bússola com a qual se orientava o distinto, acusado, no Parlamento, pelo dr. Granadeiro, de o haver pressionado, durante os Governos de Barroso e de Santana, para despedir os directores do Jornal de Notícias, do 24 Horas e da Grande Reportagem. O dr. Granadeiro, na ocasião administrador da Lusomundo, proprietária daquelas publicações, ter-se-ia recusado e, cheio de horror, demitido.
O prof. Marcelo, há onze anos ausente destes sinédrios, dedicou uns parágrafos leves à movediça vida do PSD, e levou um beijo da dr.ª Manuela, pormenor que o deixou demonstradamente feliz.
Os discursos dos candidatos principais não revelaram qualquer diferença fundamental. Nenhum deles parece vocacionado para restituir ao PSD a designação do acrónimo: social-democrata. Rangel é o mais ruidoso dos três, o mais adjectivante, e confessa-se muito contente por estar onde está. Deve ter cuidado com seguir Pacheco Pereira: o homem dá azar. Aguiar-Branco parece-me um indivíduo sensato, equilibrado e calmo, numa altura em que o PSD abomina essas virtudes. Aguiar está fora do tempo; não do seu: do tempo dos outros. Passos Coelho fez caminho durante dois anos. Tem aquela tineta do neoliberalismo, que o prejudica, e uma afabilidade bem-educada, que o favorece. Nenhum deles, porém, vai inventar o infinito, a fim de modificar, substancialmente, o estado das coisas. A reunião de Mafra resultou inútil. Não uniu, não congregou, e acentuou as internas divisões. E nada disse, de substantivo, que tranquilizasse o País.
«DN» de 17 Mar 10