Por João Duque
NÃO SOU, SEGURAMENTE, o mais habilitado para vos falar do “pecado” pelo menos em termos teológicos ou académicos.
Só posso, abusando da vossa paciência, falar-vos da minha experiência de pecador, muitas vezes arrependido, mas tantas vezes reiterado...
Relativamente ao Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), o que me preocupa é o profundo debate filosófico de natureza ética com que se devem debater internamente os membros do Governo. Vejamos.
Alguns dos actuais membros do Governo estiveram activamente envolvidos numa campanha eleitoral que, ainda em Setembro, dava sinais vibrantes de emoção e apego a posições políticas de profundo enraizamento numa orientação política de raiz, marcada por profundas divergências filosóficas com a oposição, sustentando rupturas fracturantes à esquerda e à direita. Sentia-se neles o apego desinteressado e o sentimento de profunda justiça das propostas apresentadas no programa eleitoral do partido socialista, e que eram a sua razão de ser e que os levava a calcorrear Portugal, numa atitude de verdadeira ética republicana, a propagar a "palavra" e até a morrer por "ela".
A diferença com as oposições era profunda porque as ideias que defendiam sobrepunham o homem ao sistema, a justiça à iniquidade, o bem-estar colectivo à mesquinha ganância individual. Assim se debatiam as mais variadas questões e se justificavam todos os actos.
O investimento público era para continuar, melhor, para acelerar; o défice público deveria ser alargado para impedir a recessão; o desemprego para absorver; as despesas de natureza social para proteger, etc. Alguns assinavam manifestos declarando-se que toda a dívida seria abençoada desde que canalizada para as obras públicas de grande calibre como o TGV.
O Programa do Partido Socialista, partido vencedor, era explícito em todos estes aspectos e nos debates com os líderes da oposição, realizados na televisão, o primeiro-ministro desfolhava, consultava e relia em voz bem alta as palavras gravadas a ouro no documento sujeito a sufrágio.
O povo votou nessas promessas, e venceram aqueles ideais. Semanas depois eram transcritas para um documento designado de Programa de Governo que foi, por sua vez, aprovado pelo Parlamento. Era o Programa para uma legislatura.
No entanto, não é por gostarmos de viver num sonho que a realidade vai ao seu encontro e o que muitos previam e que os eleitores não gostaram de ouvir, votando no programa vencedor, era diferente.
Dito e feito. E é assim que um grupo de ministros, tão empenhados na defesa de um ideal e de um programa para quatro anos, se vê agora a braços com uma série de medidas para implementar no mesmo período, e que até eram algumas delas (ainda poucas) as que a oposição defendia. Custa-me vê-los pois, como republicanos de ética inabalável e homens de "H" maiúsculo, sei o profundo e insustentável conflito que devem travar dentro dos seus seres, preenchido pelas longas noites, acordados, em interior debate lancinante, num vai e vem entre a arma carregada que se aponta à cabeça, e a vergonha de dar o dito por não dito... Será que aguentarão viver este sentimento mortificante de um verdadeiro "Pec"ado?
NÃO SOU, SEGURAMENTE, o mais habilitado para vos falar do “pecado” pelo menos em termos teológicos ou académicos.
Só posso, abusando da vossa paciência, falar-vos da minha experiência de pecador, muitas vezes arrependido, mas tantas vezes reiterado...
Relativamente ao Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), o que me preocupa é o profundo debate filosófico de natureza ética com que se devem debater internamente os membros do Governo. Vejamos.
Alguns dos actuais membros do Governo estiveram activamente envolvidos numa campanha eleitoral que, ainda em Setembro, dava sinais vibrantes de emoção e apego a posições políticas de profundo enraizamento numa orientação política de raiz, marcada por profundas divergências filosóficas com a oposição, sustentando rupturas fracturantes à esquerda e à direita. Sentia-se neles o apego desinteressado e o sentimento de profunda justiça das propostas apresentadas no programa eleitoral do partido socialista, e que eram a sua razão de ser e que os levava a calcorrear Portugal, numa atitude de verdadeira ética republicana, a propagar a "palavra" e até a morrer por "ela".
A diferença com as oposições era profunda porque as ideias que defendiam sobrepunham o homem ao sistema, a justiça à iniquidade, o bem-estar colectivo à mesquinha ganância individual. Assim se debatiam as mais variadas questões e se justificavam todos os actos.
O investimento público era para continuar, melhor, para acelerar; o défice público deveria ser alargado para impedir a recessão; o desemprego para absorver; as despesas de natureza social para proteger, etc. Alguns assinavam manifestos declarando-se que toda a dívida seria abençoada desde que canalizada para as obras públicas de grande calibre como o TGV.
O Programa do Partido Socialista, partido vencedor, era explícito em todos estes aspectos e nos debates com os líderes da oposição, realizados na televisão, o primeiro-ministro desfolhava, consultava e relia em voz bem alta as palavras gravadas a ouro no documento sujeito a sufrágio.
O povo votou nessas promessas, e venceram aqueles ideais. Semanas depois eram transcritas para um documento designado de Programa de Governo que foi, por sua vez, aprovado pelo Parlamento. Era o Programa para uma legislatura.
No entanto, não é por gostarmos de viver num sonho que a realidade vai ao seu encontro e o que muitos previam e que os eleitores não gostaram de ouvir, votando no programa vencedor, era diferente.
Dito e feito. E é assim que um grupo de ministros, tão empenhados na defesa de um ideal e de um programa para quatro anos, se vê agora a braços com uma série de medidas para implementar no mesmo período, e que até eram algumas delas (ainda poucas) as que a oposição defendia. Custa-me vê-los pois, como republicanos de ética inabalável e homens de "H" maiúsculo, sei o profundo e insustentável conflito que devem travar dentro dos seus seres, preenchido pelas longas noites, acordados, em interior debate lancinante, num vai e vem entre a arma carregada que se aponta à cabeça, e a vergonha de dar o dito por não dito... Será que aguentarão viver este sentimento mortificante de um verdadeiro "Pec"ado?
«DE» de 11 Mar 10