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Por João Duque
NA MINHA INFÂNCIA a figura do “cavalinho” era uma imagem fortíssima no reino da comunicação em Portugal.
À porta de um qualquer posto de venda de selos, no dorso de um marco, impresso numa das mais duráveis edições de selos de correio, lá estava a imagem de um cavaleiro a tocar uma corneta enquanto montava um cavalinho a galope.
Durante décadas habituámo-nos. Era assim. A correspondência postal era "A Correspondência". Primeiro não havia telefone, mas depois, logo percebemos que, palavras, o vento as leva, e que nada há como a escrita para uma missiva, um contrato, ou uma jura, mesmo que se trate de Homem que diz que palavra sua não volta atrás...
Ainda hoje o símbolo dos correios é o mesmo cavalinho montado pelo trombeteiro a caminho do destino da nossa correspondência.
Mas os tempos mudaram. Além do telefone e do fax, o e.mail veio trazer ao mundo novas formas de comunicação, e mesmo hoje esse meio electrónico está já a dar espaço a formas mais modernas de troca de informação. O Messenger e as formas de comunicar nas novas redes sociais permitem hoje a pessoas e instituições uma troca cada vez mais eficaz de comunicar.
Esta mudança foi de tal sorte que os "nossos correios" começaram a sentir forte concorrência tecnológica e acabaram por reagir. Levaram anos, décadas, mas lá acabaram por reagir, lançando uma operadora de telefone móvel (phone-ix), uma alternativa à comunicação electrónica (Via ctt) e abriram os seus pontos de venda à mais variada gama de produtos: livros, discos, férias, máquinas de café, jogos, talheres, copos e canecas, malas, almofadas ou até frigoríficos! Vão ver que é digno. E ainda bem que assim é!
Ora porque ainda detêm uma grande rede de lojas, algumas abertas dada a responsabilidade social que a empresa assume, e porque há ainda muitos dos seus utilizadores que não prescindem de uma boa e saudável passeata até ao balcão dos correios, os CTT ganharam valor que está a ser explorado, mas que pode naturalmente ser ainda mais explorado por quem tem uma orientação muito forte para o mercado e não quer desenvolver, com custos elevados, uma rede de balcões.
Privatizar os CTT não é pecado nem pode ser visto como um atentado às funções do Estado. Hoje é mais importante o correio electrónico do que o correio tradicional e até neste segmento, quando se trata de correio expresso ou especial a iniciativa privada faz muito bem. Não é por ser privado que se coloca em risco a independência do Estado. Não é por ser privado que o serviço pode piorar. Aposto que para a maioria dos portugueses o choque da notícia de "vamos privatizar os CTT" não está no facto em si. Está sim no hábito de os vermos como nossos, descobrindo até que ponto nos levaram à ruína, para termos de vender os CTT. Ficamos com a sensação de uma ida "ao prego".
-Por João Duque
NA MINHA INFÂNCIA a figura do “cavalinho” era uma imagem fortíssima no reino da comunicação em Portugal.
À porta de um qualquer posto de venda de selos, no dorso de um marco, impresso numa das mais duráveis edições de selos de correio, lá estava a imagem de um cavaleiro a tocar uma corneta enquanto montava um cavalinho a galope.
Durante décadas habituámo-nos. Era assim. A correspondência postal era "A Correspondência". Primeiro não havia telefone, mas depois, logo percebemos que, palavras, o vento as leva, e que nada há como a escrita para uma missiva, um contrato, ou uma jura, mesmo que se trate de Homem que diz que palavra sua não volta atrás...
Ainda hoje o símbolo dos correios é o mesmo cavalinho montado pelo trombeteiro a caminho do destino da nossa correspondência.
Mas os tempos mudaram. Além do telefone e do fax, o e.mail veio trazer ao mundo novas formas de comunicação, e mesmo hoje esse meio electrónico está já a dar espaço a formas mais modernas de troca de informação. O Messenger e as formas de comunicar nas novas redes sociais permitem hoje a pessoas e instituições uma troca cada vez mais eficaz de comunicar.
Esta mudança foi de tal sorte que os "nossos correios" começaram a sentir forte concorrência tecnológica e acabaram por reagir. Levaram anos, décadas, mas lá acabaram por reagir, lançando uma operadora de telefone móvel (phone-ix), uma alternativa à comunicação electrónica (Via ctt) e abriram os seus pontos de venda à mais variada gama de produtos: livros, discos, férias, máquinas de café, jogos, talheres, copos e canecas, malas, almofadas ou até frigoríficos! Vão ver que é digno. E ainda bem que assim é!
Ora porque ainda detêm uma grande rede de lojas, algumas abertas dada a responsabilidade social que a empresa assume, e porque há ainda muitos dos seus utilizadores que não prescindem de uma boa e saudável passeata até ao balcão dos correios, os CTT ganharam valor que está a ser explorado, mas que pode naturalmente ser ainda mais explorado por quem tem uma orientação muito forte para o mercado e não quer desenvolver, com custos elevados, uma rede de balcões.
Privatizar os CTT não é pecado nem pode ser visto como um atentado às funções do Estado. Hoje é mais importante o correio electrónico do que o correio tradicional e até neste segmento, quando se trata de correio expresso ou especial a iniciativa privada faz muito bem. Não é por ser privado que se coloca em risco a independência do Estado. Não é por ser privado que o serviço pode piorar. Aposto que para a maioria dos portugueses o choque da notícia de "vamos privatizar os CTT" não está no facto em si. Está sim no hábito de os vermos como nossos, descobrindo até que ponto nos levaram à ruína, para termos de vender os CTT. Ficamos com a sensação de uma ida "ao prego".
«DE» de 25 Mar 10