quinta-feira, 11 de março de 2010

Tabus

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Por João Paulo Guerra

OS BEM-INTENCIONADOS que tentam empurrar Marcelo Rebelo de Sousa para a corrida à liderança do PSD não terão percebido que o professor terá outros horizontes.

E então assiste-se a esta cena gaga de barões, notáveis, insignes, conspícuos e outras castas reconhecidas no PSD a incitarem um quinto candidato a avançar para destroçar outros quatro, enquanto o visado assobia para o ar.

Tudo isto tem a ver com o problema dos tabus que, longe de rodearem a política portuguesa de uma aura de mistério, antes a envolvem num manto de opacidade. E isto, quer queiramos, quer não, tem a ver com a mitologia portuguesa. Um candidato é sempre, mais que apenas ele próprio, um Galaaz com Pátria, Mestre da Paz, Senhor do 5º Império, o Encoberto, O Desejado. O messianismo, quando cai das alturas, tem destas coisas. E a manhã de nevoeiro nem sequer é problema. Qualquer empresa de eventos produz uma manhã, ou um fim de tarde, ou mesmo uma noite de nevoeiro, com brumas de quaisquer cores, em qualquer congresso partidário, declaração ao País ou conferência de imprensa.

O que se passa é que desde o século XVI os portugueses andam á espera de alguma coisa ou de alguém. Havendo procura, há oferta e os apóstolos de O Desejado têm-se sucedido: o sapateiro de Trancoso, Gonçalo Anes Bandarra, o Padre António Vieira, Fernando Pessoa, o telejornal, verdadeiro arauto da Nova Era. No caso vertente, o simples facto de existirem quatro candidatos disponíveis suscita de imediato o desejo de um quinto, O Desejado.

Acontece, porém, que neste caso O Desejado do PSD tem em vista um outro fado, suprema prova, a qual no entanto estará pendente de um outro tabu. Na democracia portuguesa, o trânsito de Encobertos e Desejados está transformado num engarrafamento.

«DE» de 10 Mar 10