Por João Duque
NUMA CENA inesquecível do filme "Feios, Porcos e Maus", uma vizinha que vive paredes-meias com a barraca da porca família Mazzatella aparece, feia mas orgulhosa, com uma revista na mão, a mostrar à vizinhança o sucesso da filha. A vaidade reside na aparente ascensão social da pequena que conseguiu chegar ao topo do socialmente desejável: a capa de uma revista. Ao vê-la a transbordar vaidade pelos olhos, apercebemo-nos que a dita exibe afinal um exemplar de uma revista pornográfica em que a filha é, simplesmente, a entusiasmante modelo da capa, com desenvolvimentos mais intimistas no interior.
O nome de Portugal tem surgido repetidamente na primeira página dos mais importantes jornais diários de economia e finanças de todo o mundo: "Wall Street Journal" e "Financial Times". A história repete-se quase diariamente e especula-se sobre o que a União Europeia vai fazer para 'ajudar" a Grécia, o país mais problemático do pequeno grupo dos países em sérias dificuldades. É certo que a Grécia é o nome mais visível, mas nós tendemos a acompanhá-la sempre, pressentindo-se que vamos parar ao mesmo ponto onde estão os nossos rivais da final do Euro-2004 se nada se fizer.
Na semana passada um jornalista belga quis entrevistar-me. Começou a entrevista explicando: "- I am visiting the PIGS". "Se vieste visitar os porcos, vieste à pocilga!". pensei. Só dois não nativos da língua inglesa como nós seriam capazes de iniciar uma relação assim sem começar ao estalo, uma vez que a sonoridade 'pig' para ambos, não produz a mesma reacção emocional que 'porco'. Mas não deixa de ser triste este tipo de classificação... Porcos...
Durante a semana visitei uma escola secundária e fiquei arrepiado ao olhar os jovens candidatos ao ensino universitário com 17 anos de idade a perguntarem-me: "Como foi possível chegar aqui? Como é que vamos pagar esta dívida?". Alguns daqueles jovens são mais maduros do que muitos da geração dos seus pais e se trocassem alguns dos ministros por jovens destes teríamos decisões mais sensatas.
Somos PIGS porque quisemos cair nesta situação. Anos e anos de gestão pública inconsequente aplicando os princípios de 'quem vier atrás que apague a luz e feche a porta', dos direitos adquiridos, do abrir maternidades é sempre melhor que fechá-las, do inaugurar SCUT é mais amigável do que portajá-las, da popularidade dos estádios de futebol... trouxeram-nos aqui...
Fiquei muito aborrecido com os gregos na final do Euro. Agora estou-lhes infinitamente grato porque os sinto a anteciparem o que nos sucederá na doença (se nos deixarmos inertes) e na cura que vão praticar. São 11 milhões, têm uma dívida 2,25 vezes maior do que a nossa, um crescimento miserável e um défice muito pior do que o nosso. Alguma coisa vai mudar, com dor e à força. Por isso aparecem na capa.
Mas a capa de jornais ou revistas nem sempre é a melhor localização, até para quem tem a face oculta.
NUMA CENA inesquecível do filme "Feios, Porcos e Maus", uma vizinha que vive paredes-meias com a barraca da porca família Mazzatella aparece, feia mas orgulhosa, com uma revista na mão, a mostrar à vizinhança o sucesso da filha. A vaidade reside na aparente ascensão social da pequena que conseguiu chegar ao topo do socialmente desejável: a capa de uma revista. Ao vê-la a transbordar vaidade pelos olhos, apercebemo-nos que a dita exibe afinal um exemplar de uma revista pornográfica em que a filha é, simplesmente, a entusiasmante modelo da capa, com desenvolvimentos mais intimistas no interior.
O nome de Portugal tem surgido repetidamente na primeira página dos mais importantes jornais diários de economia e finanças de todo o mundo: "Wall Street Journal" e "Financial Times". A história repete-se quase diariamente e especula-se sobre o que a União Europeia vai fazer para 'ajudar" a Grécia, o país mais problemático do pequeno grupo dos países em sérias dificuldades. É certo que a Grécia é o nome mais visível, mas nós tendemos a acompanhá-la sempre, pressentindo-se que vamos parar ao mesmo ponto onde estão os nossos rivais da final do Euro-2004 se nada se fizer.
Na semana passada um jornalista belga quis entrevistar-me. Começou a entrevista explicando: "- I am visiting the PIGS". "Se vieste visitar os porcos, vieste à pocilga!". pensei. Só dois não nativos da língua inglesa como nós seriam capazes de iniciar uma relação assim sem começar ao estalo, uma vez que a sonoridade 'pig' para ambos, não produz a mesma reacção emocional que 'porco'. Mas não deixa de ser triste este tipo de classificação... Porcos...
Durante a semana visitei uma escola secundária e fiquei arrepiado ao olhar os jovens candidatos ao ensino universitário com 17 anos de idade a perguntarem-me: "Como foi possível chegar aqui? Como é que vamos pagar esta dívida?". Alguns daqueles jovens são mais maduros do que muitos da geração dos seus pais e se trocassem alguns dos ministros por jovens destes teríamos decisões mais sensatas.
Somos PIGS porque quisemos cair nesta situação. Anos e anos de gestão pública inconsequente aplicando os princípios de 'quem vier atrás que apague a luz e feche a porta', dos direitos adquiridos, do abrir maternidades é sempre melhor que fechá-las, do inaugurar SCUT é mais amigável do que portajá-las, da popularidade dos estádios de futebol... trouxeram-nos aqui...
Fiquei muito aborrecido com os gregos na final do Euro. Agora estou-lhes infinitamente grato porque os sinto a anteciparem o que nos sucederá na doença (se nos deixarmos inertes) e na cura que vão praticar. São 11 milhões, têm uma dívida 2,25 vezes maior do que a nossa, um crescimento miserável e um défice muito pior do que o nosso. Alguma coisa vai mudar, com dor e à força. Por isso aparecem na capa.
Mas a capa de jornais ou revistas nem sempre é a melhor localização, até para quem tem a face oculta.
«Expresso» de 6 de Março de 2010