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Por João Paulo Guerra
É DE UMA confrangedora falta de originalidade e de imaginação.
São rimas de pé quebrado que vão dar brado: dureza rima com pobreza, estabilidade com desigualdade, ordenados com congelados, a despesa vai para baixo da mesa e o rigor vem do anterior. O Programa de Estabilidade e Crescimento bebe nas receitas fundamentalistas do FMI, que os portugueses conhecem há tanto tempo como a democracia. O que é um flagrante desrespeito do espírito do 25 de Abril, a revolução dos três "dês": a descolonização já foi, a democracia é de quatro em quatro anos e o desenvolvimento foi para a mesma gaveta onde estará o socialismo.
O que é de assinalar é que nenhum partido se apresenta ao eleitorado com o programa do FMI como bandeira. Relembro mais uma vez que no Verão passado, à bica de três eleições, o Partido Socialista anunciou formalmente "o princípio do fim da crise". Agora era caso para o PS ser processado por publicidade enganosa. Ou então por incompetência ruinosa. E isto é dito sobre o PS como seria em relação a qualquer um dos partidos que se sucedem no poder alterno. O PSD, de parceria com o CDS, a última vez que foi despedido do Governo andava já a pregar o fim da austeridade. E, ganhando eleições com tal ilusão, à volta lá esperava os crédulos cidadãos com novos furos no cinto.
Depois é de uma ironia de muito mau gosto alcunhar de estabilidade um conjunto de medidas que vão, como se está mesmo a ver, semear o maior desassossego e tensão social. A menos que a ideia seja mesmo essa: tolerar alguma indignação e protesto, absolutamente sob controlo de meios e forças que nenhum cidadão imagina que existam, para que sirvam como tubo de escape. Ou como uma espécie de democracia. Enquanto de facto está em vigor a ditadura do FMI.
«DE» de 9 Mar 10
Por João Paulo Guerra
É DE UMA confrangedora falta de originalidade e de imaginação.
São rimas de pé quebrado que vão dar brado: dureza rima com pobreza, estabilidade com desigualdade, ordenados com congelados, a despesa vai para baixo da mesa e o rigor vem do anterior. O Programa de Estabilidade e Crescimento bebe nas receitas fundamentalistas do FMI, que os portugueses conhecem há tanto tempo como a democracia. O que é um flagrante desrespeito do espírito do 25 de Abril, a revolução dos três "dês": a descolonização já foi, a democracia é de quatro em quatro anos e o desenvolvimento foi para a mesma gaveta onde estará o socialismo.
O que é de assinalar é que nenhum partido se apresenta ao eleitorado com o programa do FMI como bandeira. Relembro mais uma vez que no Verão passado, à bica de três eleições, o Partido Socialista anunciou formalmente "o princípio do fim da crise". Agora era caso para o PS ser processado por publicidade enganosa. Ou então por incompetência ruinosa. E isto é dito sobre o PS como seria em relação a qualquer um dos partidos que se sucedem no poder alterno. O PSD, de parceria com o CDS, a última vez que foi despedido do Governo andava já a pregar o fim da austeridade. E, ganhando eleições com tal ilusão, à volta lá esperava os crédulos cidadãos com novos furos no cinto.
Depois é de uma ironia de muito mau gosto alcunhar de estabilidade um conjunto de medidas que vão, como se está mesmo a ver, semear o maior desassossego e tensão social. A menos que a ideia seja mesmo essa: tolerar alguma indignação e protesto, absolutamente sob controlo de meios e forças que nenhum cidadão imagina que existam, para que sirvam como tubo de escape. Ou como uma espécie de democracia. Enquanto de facto está em vigor a ditadura do FMI.
«DE» de 9 Mar 10