terça-feira, 23 de março de 2010

Social

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Por João Paulo Guerra

A NOTÍCIA SEGUNDO a qual o corte das prestações sociais abriu divisões no Governo e na bancada parlamentar do Partido Socialista confirma as opiniões mais optimistas que, contra todas as evidências, sustentam que ainda há socialistas nas cúpulas do PS.

Por outro lado, confirmam de igual modo as opiniões mais pessimistas que dizem que os socialistas dos pináculos do PS se contam pelos dedos.

A palavra social deu socialista, mas isso foi dantes. As palavras têm vindo a perder conteúdo e valor na proporção em que são empregues a torto e a direito e erradamente. Doutrina social, pacto social, contrato social, tudo isso são hoje tralhas dos sótãos, dos baús e das gavetas dos partidos socialistas e social-democratas, todos eles convertidos ao pragmatismo dos interesses, das conveniências e do dinheiro. E a verdade é que tais partidos só não abandonam de vez as suas designações históricas para não deixarem cair as patentes e, por outro lado, para continuarem a realizar-se os rituais das eleições nos quais o povinho manifesta o seu apego às doutrinas e promessas de índole social. Ora social dá socialista, como o próprio nome indica, ou vá lá que seja social-democrata, ou até mesmo centro social.

A corajosa mas reduzida objecção de alguns socialistas veio confortar aqueles que, à luz de uma candeia, procuram vestígios arqueológicos de sensibilidade social no poder político. O PEC é uma boa pedra de toque, cujas diatribes as cúpulas dos partidos de denominação social estão basicamente de acordo, com nuances para eleitor ver. Embora os dirigentes de tais partidos - seja de crer - cada vez que pronunciam a palavra social façam figas por baixo da mesa. A não ser quando o social é usado no sentido de ‘socialite'.
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«DE» de 22 Mar 10

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